Danko Jones

DANKO JONES: “No início, o plano era fazermos três álbuns e, depois, acabarmos.” [entrevista]

Revelações surpreendentes, cortesia do Sr. DANKO JONES.

Estás pronto para o rock? Queres divertir-te? Beber uns copos e passar um bom bocado? Pois bem, se a resposta para qualquer uma dessas perguntas for sim (e deveria realmente ser), então os reis indiscutíveis do rock’n’roll voltaram para proporcionar a máxima satisfação. Um esquadrão de elite de três homens, dedicado à nobre arte dos riffs, melodias e hinos de rock que afirmam a vida, DANKO JONES está pronto para servir todos os sons elétricos de que possamos precisar.

Formados em Toronto em 1996, DANKO JONES viram e fizeram quase tudo durante este último quarto de século. Alimentados por um espírito punk DIY e inspirados pelo grandioso e mais grotesco rock’n’roll electrificado, o endiabrado trio canadiano construiu uma colossal base de fãs e transformou-se numa das mais aclamadas bandas ao vivo, abraçada por todos, do público mainstream aos fãs de rock radiofónico, passando pelos metaleiros mais obstinados.

Ainda com o mais recente «Electric Sounds» a dar que falar entre os indefectíveis da música feita com guitarras, o trio canadiano vai regressar à estrada para uma digressão europeia que passa por Lisboa no dia 14 Outubro, para um espectáculo único no LAV – Lisboa ao Vivo. Os bilhetes para o espectáculo, que conta com LOS PEPES como “suporte”, custam 28€, à venda no site da Prime Artists e nos locais habituais.

Como foi o Verão de 2025 para a banda? Tocaram muito ao vivo?
Danko: Sim, tocámos bastante e foi muito bom. Estivemos em alguns bons festivais e, verdade seja dita, é sempre divertido tocar em festivais no Verão. Além disso, tocámos para muita gente, geralmente para mais gente do que tocaríamos num clube – o que também é óptimo. E temos oportunidade de tocar com outras bandas, algumas das quais de pessoal que já é nosso amigo, outras de pessoal que gosta do que fazemos, e conseguimos conviver um pouco com elas. Basicamente, é sempre uma experiência muito fixe e divertimo-nos imenso.

Conseguiram tocar em novos locais, onde ainda não tinham estado?
Danko: Durante este Verão, o único novo local onde tocámos foi no primeiro festival da temporada, que aconteceu em Atenas, na Grécia. Fizemos “suporte” aos The Offspring. Na verdade, foi um grande espectáculo, foi um dos melhores concertos de todo o Verão de 2024, logo para começar. Portanto, foi fantástico.

Mas já tinham tocado na Grécia, certo?
Danko:Não, nunca tínhamos tocado na Grécia. Não sei bem muito porquê, mas foi sempre um país que nos escapou.

Ainda é emocionante para vocês tocarem em cidades e países onde nunca estiveram?
Danko: Sim, claro! Fomos à Grécia sem grandes expectativas. E ficámos agradavelmente surpreendidos com a organização do festival, que era realmente um grande espectáculo. Era um evento urbano onde tinham concertos, não sei, todas as semanas ou a cada duas semanas, com uma série de bandas a tocarem juntas. Tocaram três ou quatro bandas todos os fins de semana ou algo assim, durante os meses de Junho e Julho, e estava muito bem organizado. Ficámos contentes com isso.

Fiz essa pergunta porque, obviamente, está a tornar-se cada vez mais difícil arranjaram sítios onde nnca estiveram. Há algum país ou cidade em particular onde gostarias de tocar?
Danko: Bem, já tocámos lá antes, mas gostava muito de voltar ao Japão. Tocámos lá uma vez, mas nunca mais voltámos. Portanto, esse é um lugar ao qual quero voltar. E, esperançosamente, no próximo ano vamos conseguir tocar em mais lugares da América do Sul. E, sabes, além desse concerto no Japão, nunca estivemos realmente na Ásia. Sei bem que isso requer um pouco mais de esforço para concretizar, e não são muitas as bandas que conseguem tocar lá, mas seria interessante se pudéssemos fazê-lo.

Portugal é um país que têm visitado regularmente desde que lançaram o primeiro álbum, mas entretanto já se passaram cinco anos desde que estiveram por cá pela última vez.
Danko: Tenho a sensação de que muitos dos clubes em Portugal fecharam…

É verdade que fecharam algumas salas nestes últimos anos, mas eram demasiado pequenas para receber-vos. Pessoalmente, acho que a pandemia pode bem ter atrasado o vosso regresso.
Danko: Sim e não, porque, mesmo antes desse último concerto, já se tinham passado alguns anos desde que tínhamos estado em Portugal… E, na verdade, esse nem sequer foi espectáculo nosso, porque foi durante a digressão que fizemos com os Volbeat.

Eles eram os cabeças de cartaz, nós abrimos a tour toda e, depois, houve essa paragem em Lisboa. Portanto, na verdade não sei explicar porque estivemos este tempo todo afastados… [pausa] Também já não me lembro como surgiu a primeira oportunidade de tocar em Portugal, mas acho que remonta ao início dos anos 2000, quando fomos aí para tocar num grande festival [NR: Paredes de Coura, em 2003]. Depois continuámos a voltar e, para ser muito sincero, gostaríamos de ter voltado mais cedo, porque sempre fomos muito bem recebidos.

Bem, o que importa é que vão a voltar em breve e sei que as pessoas estão bastante ansiosas por isso. Vão tocar muito material do «Electric Sounds», o vosso mais recente álbum?
Danko: Neste momento ainda não sei bem o que vamos tocar nesse espectáculo, mas temos andado a tocar cerca de quatro temas do «Electric Sounds» nos últimos concertos, o que é muito para um álbum novo. Por esta altura, já lançámos onze álbuns, mas a estrutura dos espectáculos continua a ser a mesma. Portanto, até podíamos ter cem álbuns lançados, mas íamos continuar tocar apenas, 90 minutos – no máximo. Não podemos tocar durante dez horas, isso é uma inevitabilidade.

Esse é um bom problema para se ter, não podes negá-lo. Basicamente, significa que têm estado sempre a criar material novo e que as pessoas se têm mantido receptivas a ele durante anos.
Danko: Isso é verdade, mas sabes, não há um único espectáculo sem que não apareça alguém a dizer que não tocámos este ou aquele tema. E vai ser sempre assim, eu sei. Nunca vamos poder tocar todas as canções que toda a gente quer ouvir, porque temos mais álbuns do que a maioria das bandas. A maior parte das bandas não chega ao álbum número 11… E, para agravar, nós também temos três compilações, três álbuns de B-sides e singles e todas essas coisas. Portanto, são mais três álbuns de material original com temas que alguém, certamente, gostava que tocássemos ao vivo.

Então, feitas as contas, neste momento já têm 14 álbuns de material original. Para agradarem a toda a gente, provavelmente tinham de começar a fazer concertos de 14 horas… [risos]
Danko: Bem, se quiserem contratar-nos para um espectáculo de 14 horas, até podemos fazê-lo, mas vão ter de desembolsar algum dinheiro, porque nunca toquei durante tanto tempo.

Fora de brincadeiras, era algo que gostarias de fazer?
Danko: Uma coisa é certa, se nos oferecerem a quantia certa, tocaremos todas as nossas canções. No entanto, não vou investir o meu tempo e esforço para fazer uma coisa dessas pelo cachet habitual. [risos]

Resumindo, deve estar a tornar-se cada vez mais difícil fazer os vossos alinhamentos…
Danko: Eu não faço aos alinhamentos, é o JC quem os faz, mas diria que, nesta fase, temos certas músicas que vão ter sempre um lugar na setlist – são aquelas que tocamos sempre porque temos mesmo de o fazer. Nessa categoria temos os temas do álbum mais recente, que geralmente ocupam dois a quatro espaços, e os “clássicos”, aqueles que toda a gente quer ouvir. Depois, restam espaços no alinhamento onde podemos variar um pouco mais… É aí que tentamos incluir algumas músicas só para nós e que, com sorte, podem supreender também o público.

Infelizmente, ambos sabemos que é impossível agradar a toda a gente.
Danko: Certo, mas nós queremos ter a certeza de que as pessoas que vêm aos nossos concertos recebem um pouco de tudo, por isso é evidente que temos de tocar músicas que toda a gente conhece. Se tivéssemos dez êxitos número um, tocaríamos esses dez porque toda a gente ia querer ouvi-los… E, mesmo assim, tenho a certeza que haveria inevitavelmente alguém a dizer que seria óptimo se pudessemos tocar uma qualquer música menos conhecida. [risos]

Lá está, independentemente do que faças, vai haver sempre alguém a queixar-se.
Danko: É bem mais simples quando estás a começar e ainda só gravaste um álbum, porque nessa fase tens pouco material e tens de o tocar todo, seja mais ou menos conhecido. Nós estamos num ponto da nossa carreira em que, por um lado, não estamos na estratosfera, mas já temos 14 discos lançados e nunca tivemos uma série de êxitos número um, nunca nos transformámos numa banda popular…

Portanto, flutuamos numa área cinzenta. Não temos sucessos óbvios, não temos singles número um ou que tenham chegado sequer ao Top 10 de uma tabela de vendas, mas temos canções que os nossos fãs conhecem bem e querem ouvir. Se fôssemos os Foo Fighters, seria bastante mais fácil. Tocávamos sempre a «My Hero» e a «Monkey Wrench», porque são músicas número um que toda a gente conhece.

Quais são as canções que tocam sempre?
Danko: Tocamos sempre a «First Date». Tocamos sempre a «Full Of Regret». Tocamos sempre a «Had Enough». Tocamos sempre a «Lovercall»…

E, dito isso, há algum tema que já estejas farto de tocar ou nem por isso?
Danko: Não me importo nada de dizer que estou farto de tocar a «First Date». No entanto, é uma daquelas canções que muitas pessoas que nos seguem conhecem bem. Talvez por ter sido lançada como um single, tem um desempenho muito bom nas plataformas de streaming e acabou por transformar-se num grande sucesso ao vivo. Portanto, vamos tocá-la sempre. De resto, das outras músicas que mencionei, ainda não me cansei de nenhuma, portanto a «First Date» é a única que realmente não gosto de tocar.

Digamos que não é um mau balanço.
Danko: Bem, na verdade há outro tema que, às vezes, entra no alinhamento se não o tivermos tocado há muito tempo, mas a única razão porque não está nas setlists tanto quanto devia é porque também não gosto muito de a tocar. Infelizmente, é uma canção que muitas pessoas conhecem e querem ouvir. É frequente ver as pessoas a queixarem-se online que não tocámos a «I Think Bad Thoughts» e a razão porque isso acontece é porque não gosto dessa música. Mas, lá está, como o JC é quem escolhe os alinhamentos e, eventualmente, acabará por dizer que temos de a tocar.

Quando isso acontece, ou quando tocas a «First Date», é a reacção e a energia do público que te permitem fazê-lo sem que as pessoas percebam que estás em piloto-automático?
Danko: Sim, mas… Quer dizer, quando digo que não gosto de tocar esses temas, é apenas uma pequena inconveniência. O que me permite ultrapassar isso é que, enquanto tocamos a «First Date», estou num palco, a interpretar rock’n’roll que nós escrevemos e toda a gente está a cantar de volta para nós. E isso é mesmo o mais importante. Nesse momento, não estou preocupado com mais nada que não seja dar o meu melhor. A reacção da plateia faz-me desfrutar, sabes? Eu só não gosto da canção, mas os meus gostos pessoais pouco importam quando tenho uma plateia rendida à frente.

Afinal, qual é o teu problema com a «First Date»? É difícil cantá-la e tocá-la ao mesmo tempo?
Danko: Não, é uma canção muito fácil de tocar. O meu problema com a «First Date» é que simplesmente não gosto de canções que soam demasiado felizes e quase infantis. Mas isso sou eu, é só a minha opinião pessoal, que estou a projectar sobre o público. Lembro-me que, quando a gravámos para o «Sleep Is The Enemy», pensei que o resultado seria muito diferente… Mesmo assim, optámos por colocá-la no álbum e, independetemente de eu gostar ou não, se toda a gente gosta, eu calo-me e fico contente porque há muitas outras bandas que podiam estar a ouvir em vez de nós.

Como disseste, é “apenas uma pequena inconveniência”.
Danko: Estamos numa fase em que gravamos canções que já temos e lançamo-las antes de as tocarmos ao vivo. É bem diferente de quando estávamos a começar… Quando uma banda está a começar, acaba inevitavelmente toca as canções um milhão de vezes antes de as gravar e colocar num disco. Nós já estamos aqui há muitos anos, por isso é inevitável gravarmos canções que nunca tocámos… E, às vezes, acontece que o álbum e o singles já foram lançados quando percebemos que, por exemplo, determinada canção é impossível de tocar e cantar ao mesmo tempo.

Falando da vossa longevidade, conseguias imaginar que a banda duraria tanto tempo?
Danko: Não, quando começámos a banda, o plano era fazermos três álbuns e depois acabarmos.

A sério?!
Danko: Sim. Na verdade, quando começámos, a ideia até era não gravarmos nada e sermos só uma banda ao vivo. Para mim, o “boca a boca” sempre foi, e continua a ser, a forma mais forte de promoção… Portanto, eu achava que os concertos seriam suficientes para nos tornarmos conhecidos, íamos ser tão sólidos que isso bastaria para atrairmos a atenção das pessoas. Originalmente essa era a minha visão idealista, e algo juvenil, do que pensava ser super fixe sem qualquer experiência de vida, sem qualquer conhecimento de como viver e como ser uma banda.

Esse é o sonho molhado de qualquer punk.
Danko: Exactamente! Esse era o meu sonho juvenil, o meu sonho muito juvenil e idealista do que podia ter sido esta banda… Verdade seja dita, isso pouco importa agora. Só trago essa curiosidade à tona para tentar enfatizar que foi desse tipo de “cena” que viemos. Hoje em dia há demasiadas bandas, músicos e artistas que começam a fazer isto só para ganharem dinheiro e pensam que isto é uma plataforma, um ponto de partida para se tornarem grandes estrelas e serem famosos.

Já imaginaste se tivesse funcionado? Teria sido lendário!
Danko: Sim, seria óptimo termos sido essa lenda mística, uma coisa mítica e lendária, de que as pessoas falam e os nossos primeiros passos foram pautados por essa forma muito idealista de abordar a música que amamos. Eu ainda tento manter essa visão, mas é difícil mantê-la num mundo onde… Basicamente, não estás a ser realista. [risos]

Na tua cabeça, parece maravilhoso. No papel, parece incrível. Seria a melhor coisa de sempre, mas a verdade é que precisas de pagar para pôr gasolina na carrinha. Precisas de pagar para ter comida na boca e para a renda. Infelizmente, ou felizmente, não sei bem, mas não correu assim. Em vez disso, lançámos uma série de álbuns, conseguimos fazer digressões por todo o mundo e estamos nisto há décadas. Portanto, acho que ficámos com melhor parte desse acordo.