“Alguém atirou uma lata de gás lacrimogéneo para um café onde estávamos a comer“, recorda DANI FILTH, metido na máquina do tempo de regresso a 1994.
Hoje, recordamos os CRADLE OF FILTH e a sua histórica passagem por Penafiel, no Festival Ultrabrutal, poucos meses após terem lançarem o seu disco de estreia. À época, o festival era o nome maior de um underground que começava a ganhar dimensão. Provavelmente, a edição de 1994 terá sido mesmo a mais interessante de todas, dividindo-se em dois dias, com os GRAVE, HYPOCRISY e GOREFEST sendo as principais atracções do cartaz.
Ao final da tarde do primeiro dia do evento, uns desconhecidos britânicos, de caras pintadas, subiram ao palco oferecendo uma performance impressionante, que marcou de forma profunda todos os presentes. Nada de efeitos especiais, para lá do pôr-do-sol e algumas luzes nos últimos temas, apenas espaço para a música e a energia em palco com um par de guitarristas que não paravam e um irrequieto Dani Filth. O fenómeno CRADLE OF FILTH aterrava pela primeira vez em Portugal.
Curiosamente, essa foi também uma das primeiras vezes que as lendas CRADLE OF FILTH actuaram fora do Reino Unido. “Sabes que mais? Acho que, se calhar, esse foi mesmo o nosso primeiro espectáculo no estrangeiro“, recordou recentemente Dani Filth em conversa com a LOUD!. “A minha memória já não me serve tão bem como antes, e isso aconeceu há muito tempo. Portanto, ou foi isso ou já tínhamos feito um concerto no Baroque Club, nos Países Baixos. Mas sim, acho que se não foi o primeiro, foi sem dúvida um dos primeiros concertos que fizemos fora do Reino Unido.“
Lembras-te como surgiu a oportunidade de virem ao UltraBrutal? Foi o pessoal dos Moonspell que fez a ponte, já estavas em contacto com eles?
Não, não, não… Só fizemos realmnete amizade com os Moonspell nesse festival. Acho que, nessa altura, estava em contacto… Não necessariamente com a banda, mas talvez com o antigo baixista. E, claro, fizemos imediatamente amizade com eles. Depois, voltámos a Portugal para o Halloween desse ano e fizemos um concerto com eles como “suporte”.
Dessa vez, fiquei em casa do baixista. Foram eles que nos deram guarida e tornámo-nos bons amigos desde então. Estranhamente, de todas as bandas com as quais os Cradle Of Filth fizeram digressões ao longo dos anos, os Moonspell são os mais prolíficos. Tocámos com eles muitas e muitas vezes, fizemos umas seis ou sete digressões juntos. Sempre que os vemos, é óptimo.
Na verdade, mesmo antes da pandemia, visitei o Fernando na cidade dele. Levei lá a minha namorada depois do concerto em Vagos, acho. E sim, sempre tivemos uma afiliação com os Moonspell. Têm uma vibração semelhante, embora mediterrânica… Um pouco mais solarenga, sabes. Eles são a matilha de lobos e nós os vampiros, sempre brincámos com isso.
Lembro-me bem do frenesim que rodeava a banda na altura. Ficaram surpreendidos com isso, sendo esse um dos vossos primeiros concertos fora do Reino Unido?
Bem, eu acho que o frenesim só veio depois. Essa foi a vibração que o concerto gerou. Tudo aquilo foi um evento. Tudo o que rodeia esta banda é um acontecimento. Fazemos sempre disso um acontecimento. São mais do que apenas espectáculos, álbuns, digressões ou vídeos.
É sempre uma aventura e, em particular, esse tempo em Penafiel foi uma parte memorável dos primeiros anos dos Cradle of Filth. Estivemos lá durante três dias, andámos com os Hypocrisy para todo o lado e passámos algum tempo numa aldeia. Fomos atingidos por gás lacrimogéneo. Alguém atirou uma lata de gás lacrimogéneo para um café onde estávamos a comer.
A sério?
Sim, foi muito bizarro, estranho. Esses foram anos bem estranhos, mas também muito fixes.