Os CRYPTOPSY mergulham no horror explícito com o seu novo vídeo-clip censurado pela maior plataforma do mundo.
Mais de três décadas após a sua formação, os CRYPTOPSY mostram-se mais famintos do que nunca. Na sequência de «Until There’s Nothing Left» e «Malicious Needs», o quarteto de Montreal lançou há uns dias o explosivo single «Dead Eyes Replete», faixa de avanço para o nono álbum de estúdio, «An Insatiable Violence», com edição marcada para 20 de Junho de 2025 através da Season Of Mist.
Profundamente conceptual e implacável no seu ataque sonoro, o novo disco promete colocar novamente os pioneiros do brutal death metal técnico no topo da hierarquia extrema — se é que alguma vez de lá saíram. A prová-lo, os CRYPTOPSY acabam de divulgar a versão sem censura do vídeo-clip de «Malicious Needs» — e não é para os fracos de estômago.
Tão gráfico que nem o YouTube o aceitou, o vídeo está agora disponível neste link para o Vimeo, onde a banda canadiana mostra sem filtros o lado mais brutal e perturbador do seu universo visual. Para os mais sensíveis, o aviso é claro: talvez seja melhor passar à frente. O tema sucede ao anterior single, que ataca a exploração de crianças nas redes sociais, naquele que é, segundo os próprios, um dos temas mais brutais do novo álbum.
Força total e um alvo bem inusitado: o mundo dos pequenos youtubers e da exploração infantil digital. Com o lançamento de «Dead Eyes Replete», os CRYPTOPSY também não se limitaram a despejar riffs cortantes e blastbeats demolidores — apontaram o dedo à forma como as crianças são empurradas para o estrelato nas redes sociais, numa crítica feroz e mordaz à perda da inocência em troca de likes e dinheiro.
Matt McGachy, o vocalista dos CRYPTOPSY, não poupa palavras ao explicar o conceito por trás do tema: “A «Dead Eyes Replete» é uma das canções mais brutais do nosso novo álbum. Explora as profundezas do mundo sórdido das crianças estrelas do YouTube e como os pais lhes roubam a juventude e a inocência em nome da ganância.” A crítica é directa e sem rodeios, marcando um ponto de viragem para a banda que sempre abordou temas pesados, mas agora recorre a uma abordagem quase sociológica, questionando o impacto das redes sociais na formação das novas gerações.
Depois de uma carreira pontuada por marcos como «Blasphemy Made Flesh», de 1994, e «None So Vile», de 1996, os CRYPTOPSY continuam a explorar novas fronteiras sonoras. Com «An Insatiable Violence», o grupo dá seguimento ao elogiado «As Gomorrah Burns», de 2023, que lhes valeu, pela primeira vez, um JUNO Award na categoria de ‘Melhor Álbum de Metal/Hard Music’ em 2024. E mesmo com essa consagração tardia, a banda não abranda — pelo contrário, impõe-se o compromisso de lançar um novo álbum a cada dois anos.
“Tivemos de escrever a maioria do disco enquanto estávamos em digressão com os Death To All, algo que nunca tínhamos feito antes”, explica Matt McGachy, o vocalista dos CRYPTOPSY. “O Flo e o Chris vestiram mesmo a camisola. Foi uma proeza.” O baterista Flo Mounier complementa: “Desde a COVID que estamos mais focados, trabalhamos mais depressa e puxamos uns pelos outros para fazer as coisas acontecerem.”
No plano sonoro, «An Insatiable Violence» é um tour de force de técnica, agressividade e subtileza. Os momentos de caos controlado convivem com secções mais carregadas groove, permitindo ao ouvinte respirar antes de ser novamente atirado para a voragem sónica. Esse equilíbrio é evidente no novo single, «Until There’s Nothing Left», que conjuga uma fúria predatória com um groove ominoso, ou na faixa de encerramento, «Malicious Needs», marcada por um riff arrastado e esmagador, CRYPTOPSY até ao osso.
Como se um fio condutor se tratasse, a crítica social atravessa todo o álbum, que foi escrito como uma parábola distorcida sobre a dependência das redes sociais e da tecnologia. “Tudo começou com um sonho que tive em Agosto de 2023”, recorda McGachy. “Imaginei uma pessoa que passa o dia a arranjar uma máquina — suando ao sol, tentando melhorá-la — e à noite prende-se a essa mesma máquina que a tortura. E essa pessoa ama isso. No dia seguinte, tudo se repete.”
A analogia com a relação tóxica que mantemos com os algoritmos e plataformas digitais é evidente neste novo registo dos CRYPTOPSY, e canções como «The Nimis Adoration» ilustram-na com imagens bem grotescas retiradas directamente da realidade. “Essa faixa é sobre mukbang — vídeos coreanos onde pessoas comem quantidades obscenas de comida. Uma rapariga chegou a morrer em directo.”
Apesar da densidade conceptual, o coração da música continua a bater com força animal. Flo Mounier, um dos bateristas mais respeitados do género, atinge novos picos de brutalidade, recorrendo até ao raro gravity blast, enquanto o baixista Olivier Pinard brilha em temas como «Fools Last Acclaim». Já Chris Donaldson, além de assinar a produção, equilibra os riffs dissonantes com passagens melódicas que amplificam o impacto das secções mais brutais.
McGachy, por sua vez, dá aqui a performance vocal mais intensa da sua carreira. “Desde o Gomorrah que comecei a usar o meu grito falso de forma plena. E com mais de 140 concertos desde então, consegui levá-lo ao limite”, revela o actual “berrador” de serviço dos CRYPTOPSY. “Quando chegámos ao estúdio, o Chris dizia: ‘Mais fundo, tens de ir mais fundo!’” Como cereja no topo do bolo, Mike DiSalvo, vocalista da era pós-Lord Worm, regressa brevemente à banda para um momento especial na «Embrace The Nihility».
A arte gráfica de «An Insatiable Violence», que já pode ser vista em baixo, é da autoria de Martin Lacroix, antigo vocalista dos CRYPTOPSY, falecido recentemente. “O Martin foi um grande amigo, uma das melhores pessoas que conhecemos. Ter a sua arte na capa é algo muito especial. Só queríamos que ele estivesse cá para ver isto. O sorriso dele diria tudo. Descansa em paz, irmão”, partilhou a banda em comunicado. As pré-encomendas dos formatos físicos já estão disponíveis através da Season Of Mist.

01. The Nimis Adoration | 02. Until There’s Nothing Left | 03. Dead Eyes Replete | 04. Fools Last Acclaim | 05. The Art Of Emptiness | 06. Our Great Deception | 07. Embrace The Nihility | 08. Malicious Needs