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Três décadas depois de começarem a dissecar o underground extremo, os mestres do death metal técnico CRYPTOPSY regressam com um disco que é tão viciante quanto venenoso.

«An Insatiable Violence» é o título do nono álbum dos CRYPTOPSY, mas podia muito bem ser uma sentença ou um aviso. Em 2024, a banda canadiana venceu um JUNO Award — uma espécie de Grammy nacional — e, um ano depois, canaliza todo esse ímpeto num registo que confirma o que os fãs sempre souberam: os CRYPTOPSY continuam a ser, sem margem para dúvidas, uma das entidades mais vis imersas no death metal.

O novo disco dos CRYPTOSY só vai ser editado oficialmente amanhã, sexta-feira, dia 20 de Junho, mas, graças aos nossos parceiros da Season of Mist, já podes fazer a dissecação integral, e em antecipação, no player em baixo.

Com apenas oito faixas, «An Insatiable Violence» condensa mais de 30 anos de brutalidade técnica, criatividade retorcida e um sentido de identidade que poucas bandas conseguiram manter intacto durante tanto tempo. Num comunicado enviado pela editora, os CRYPTOPSY explicam o objectivo principal deste novo disco: “Focámo-nos em criar um registo mais digerível. Adicionámos mais groove, mais momentos melódicos e deixámos que as passagens musicais respirassem um pouco mais do que em lançamentos anteriores.” Ainda assim, esta acessibilidade é apenas uma ilusão momentânea, que depressa se desmorona sob o peso do terror sónico que se segue.

A crítica tem respondido em uníssono. Segundo a Season Of Mist, “o Blabbermouth atribuiu-lhe uma nota de 8,5/10 e não hesitou em apelidá-lo como ‘um presente dos deuses do death metal’. Já a Lambgoat, com um sólido 8/10, elogiou a forma como o disco ‘continua a tradição de brutalidade enquanto soa simultaneamente contemporâneo e intemporal’.

Sob o caos musical há uma visão lírica singular, inspirada por um pesadelo do vocalista Matt McGachy: “A ideia surgiu de um sonho que tive. Uma pessoa passava o dia inteiro a construir uma máquina, só para ser torturada por ela à noite — e gostava. Acordava ansiosa por voltar a melhorá-la. Para mim, essa pessoa é a humanidade, e a máquina é as redes sociais.” Essa reflexão distorcida, mas precisa, percorre todo o LP, com destaque para temas como «Dead Eyes Replete», uma crítica feroz ao fenómeno do “kidfluencing”. Num momento arrepiante, McGachy grita “beware the spotlight”, antes da banda mergulhar num sólido breakdown, que se destaca como um dos mais devastadores da carreira dos canadianos.

A abertura do disco, «The Nimis Adoration», é uma ode grotesca a um mukbang que descarrila para o horror absoluto — e um dos exemplos mais fortes da fusão entre a velocidade extrema de Flo Mounier, os riffs cortantes de Christian Donaldson e o baixo dissonante de Olivier Pinard, cuja presença marca também o single «Until There’s Nothing Left», talvez o momento mais “viciante” do álbum, tanto em estrutura como em refrão.

Um dos detalhes mais emotivos de «An Insatiable Violence» está na capa: criada por Martin Lacroix, antigo vocalista da banda que faleceu recentemente. A ilustração é um tributo póstumo à história e ao legado dos CRYPTOPSY, e esse legado continua a ser celebrado em «Embrace the Nihility», onde outro ex-vocalista — cujo nome não foi revelado oficialmente, mas que muitos acreditam tratar-se de Lord Worm — regressa para uma participação especial que reaviva os fantasmas de outrora.

Para uma banda que em 1996 já se autoproclamava a mais vil do género — com «None So Vile» como manifesto —, os CRYPTOPSY parecem mais comprometidos do que nunca em não se repetirem. “É uma linha ténue entre honrar o legado e mantermo-nos relevantes”, confessaram. “Nunca queremos escrever o mesmo disco duas vezes.” O final do álbum, «Malicious Needs», serve de epitáfio temporário: uma peça que começa arrastada, mergulhada em dissonância, e termina numa ascensão negra, envolta em fumo e claustrofobia.

“Estamos sempre a puxar uns pelos outros”, diz Flo Mounier. “Vamos dar esta volta juntos.” E que volta, senhores e senhoras. Com «An Insatiable Violence», os CRYPTOPSY não apenas reafirmam a sua posição no trono da brutalidade técnica — reinventam-no com um novo código genético. Um disco que morde, rasga e não larga. Até não restar nada. As pré-encomendas dos formatos físicos já estão disponíveis através da Season Of Mist.