Declarações detalhadas, partilha de provas e um pedido público de desculpas marcam o momento mais delicado da carreira dos japoneses CROSSFAITH.
O CROSSFAITH anunciaram esta semana a suspensão total da sua actividade e o cancelamento de todos os concertos agendados, incluindo a sua digressão japonesa de 2025, após uma polémica envolvendo o (agora) ex-guitarrista Daiki Koide. A decisão surge na sequência de alegações de conduta imprópria por parte do músico, que terá mantido uma conversa online inadequada com uma fã de apenas catorze anos, conforme denunciado publicamente por Ronnie Radke, vocalista dos FALLING IN REVERSE.
O caso começou a ganhar visibilidade na semana passada, quando Radke publicou um vídeo nas redes sociais a expôr o comportamento de Koide e a criticar a resposta inicial da banda. Antes dessa denúncia pública, Radke já havia alertado directamente os outros membros dos CROSSFAITH, mas, insatisfeito com como lidaram com a situação, decidiu torná-la pública. Como resultado imediato, os CROSSFAITH foram retirados das datas que tinham agendadas com os FALLING IN REVERSE e acabaram por cancelar toda a sua digressão europeia, antes de oficializarem o despedimento de Koide.
Num extenso comunicado publicado nos canais oficiais da banda, os CROSSFAITH pedem desculpas à vítima, à sua família e aos fãs em geral, reconhecendo a gravidade dos factos e assumindo que o tempo de resposta foi inadequado: “Expressamos os nossos mais sinceros pedidos de desculpa à menor sujeita a uma comunicação inapropriada via mensagens directas por parte do nosso ex-membro Daiki, bem como à sua família. Pedimos também desculpa pela preocupação e transtorno causado a todos os envolvidos e aos nossos fãs, devido à demora na nossa resposta.”
O grupo vai agora entrar em hiato por tempo indefinido, e compromete-se a reembolsar os bilhetes já adquiridos para a digressão nipónica Paint The Target. “Tendo em conta a gravidade extrema da situação, os CROSSFAITH tomaram a decisão de suspender todas as actividades por tempo indeterminado. Todos os concertos agendados serão cancelados e os reembolsos serão processados muito em breve”, lê-se no mesmo comunicado.
Num gesto raro de transparência, a banda decidiu também partilhar capturas de ecrã com as conversas privadas que estiveram na origem destas acusações. Entre essas mensagens, encontram-se excertos do contacto inicial feito por Ronnie Radke, assim como o diálogo entre Koide e a fã menor de idade — uma conversa que foi originalmente enviada ao vocalista dos FALLING IN REVERSE pelo pai da rapariga, num claro apelo à responsabilização dos envolvidos.
Kenta Koie, vocalista dos CROSSFAITH, publicou uma declaração individual, assumindo responsabilidades pela forma como reagiu inicialmente às acusações. “Quero aproveitar esta oportunidade para apresentar o meu mais profundo pedido de desculpas à menor que foi prejudicada pela conduta inapropriada do nosso ex-membro Daiki, assim como à sua família”, começou por escreveu o cantor.
“Quando recebi as informações do Ronnie, não consegui acreditar que o Daiki — um amigo de muitos anos — fosse capaz de tal acto. Movido pela emoção e por um sentimento de necessidade de proteger a banda, acabei por fazer declarações em sua defesa. Mesmo após ver a troca de mensagens, falhei em compreender a gravidade do que ele fez e não tomei de imediato a decisão de o afastar da banda. Reconheço agora que isso foi um erro grave de julgamento e estou profundamente arrependido.”
A situação teve também consequências fora dos CROSSFAITH, com Koide a ser igualmente afastado da banda KNOSIS, com quem colaborava em paralelo. Como resultado,este episódio marca um ponto de viragem para uma das bandas mais internacionalmente bem-sucedidas do metal japonês moderno. Com uma carreira iniciada em 2006 e conhecida pela fusão explosiva de metalcore com electrónica industrial, os CROSSFAITH tinham conquistado uma sólida base de fãs na Ásia, Europa e América do Norte, graças a álbuns como «Apocalyze» e «Ex Machina», bem como a enérgicas actuações ao vivo.
O escândalo agora revelado lança uma sombra sobre esse percurso e levanta questões importantes sobre responsabilidade, transparência e os mecanismos internos de resposta a abusos na indústria musical. Por enquanto, os CROSSFAITH parecem comprometidos em enfrentar a situação com frontalidade. “Estamos totalmente apostados em lidar com este assunto com a máxima sinceridade e integridade,” concluem nesse comunicado. Ainda não é claro se a banda planeia retomar ou não a sua carreira no futuro, mas este hiato representa, sem dúvida, uma pausa forçada e significativa na trajectória dos CROSSFAITH.