jane doe

CONVERGE: O «Jane Doe» do início ao fim, ao vivo no ROADBURN 2016 [pro-shot vídeo]

Não há LP de metalcore mais feroz que o «Jane Doe», dos CONVERGE. A música que o influenciou não era tão intensa, a música afectada por ele nunca atingiu os mesmos níveis de genialidade.

Lançado em 2001, numa época em que, segundo o guitarrista Kurt Ballou, “não havia qualquer hipótese de fazer carreira a tocar metalcore”, o «Jane Doe» continua a afirmar-se como um disco astuto, selvagem, contundente e intemporal. Mesmo actualmente, depois do género em que se insere ter ganho e perdido a viabilidade comercial que o caracterizou a dada altura durante as últimas duas décadas, mantém-se um registo visionário como poucos.

Sem qualquer interesse em fazerem um álbum voltado para esse tão propalado sucesso comercial, numa altura em que ninguém poderia sequer imaginar que o estilo algum dia se transformaria numa tendência por direito próprio, os CONVERGE tomaram o destino nas suas mãos, decidiram fazer o álbum por conta própria e, cilindrando qualquer padrão de selvageria já conhecido, receberam aclamação consensual por parte da crítica e atingiram a glória.

Preciso e severo na entrega, críptico no conceito, o «Jane Doe» é um daqueles discos de que não é fácil de gostar à primeira, mas que carrega um charme, um je ne sais quoi primordial, que consegue deixar o ouvinte desconfortável o suficiente para apelar a audições subsequentes. À data de edição, sem pontos de referência, parecia um desafio absorver algo tão abrasivo e ritmicamente complexo, mas — contra as expectativas mais razoáveis — o underground abraçou o desafio e, a dada altura, não havia cidade (com uma cena extrema que se prezasse) que não tivesse pelo menos uma banda a tentar soar assim.

Nos anos seguintes, o «Jane Doe» transformou-se num clássico, um dos títulos incontornáveis do som extremo no início do séc. XXI. Não estranhamente, os CONVERGE foram convidados a tocar o álbum na íntegra na edição de 2016 do festival Roadburn, em Tilburg, nos Países Baixos. «Jane Live», editado em 2017, captou essa actuação para a posterioridade, provando que a precisão e a intensidade necessárias para replicar estas canções em tempo real são profundas.

Começámos como uma banda de hardcore/punk e vamos terminar como uma banda de hardcore/punk. Não há aqui ‘arranjos’, não há merdas, não há poses, ninguém está a interpretar um personagem. Somos só quatro tipos a escrever música desafiadora. É só isso“, declarou certo dia Jacob Bannon. Pois bem, vendo o registo dessa mítica actuação no Roadburn 2016, disponível no player ali em baixo, essa descrição nunca pareceu tão justa ou precisa.

ALINHAMENTO:

01. «Concubine» | 02. «Fault And Fracture» | 03. «Distance And Meaning» | 04. «Hell To Pay» | 05. «Homewrecker» | 06. «The Broken Vow» | 07. «Bitter And Then Some» | 08. «Heaven In Her Arms» | 09. «Phoenix In Flight» | 10. «Phoenix in Flame» 11. «Thaw» | 12. «Jane Doe»