Depois de muitos avanços e recuos, os noruegueses CONCEPTION, que são um dos mais geniais grupos de heavy/power metal progressivo de sempre, vão finalmente materializar a sua muito aguardada estreia em solo nacional já no próximo Sábado, 29 de Abril, com uma actuação única no LAV – Lisboa Ao Vivo. Durante os sete anos que durou a primeira fase da sua carreira, o quarteto da pequena Raufoss, em Innlandet, na Noruega, gravou quatro álbuns incontornáveis e muitíssimo celebrados entre os fãs mais exigentes de música simultaneamente pesada e progressiva: «The Last Sunset» de 1991, «Parallel Minds» de 1993, «In Your Multitude» de 1995 e «Flow» de 1997. Na viragem do milénio, decidiram colocar a carreira em stand by e os quatro elementos do grupo separaram-se sem grande alarido em 1998, embarcando de seguida em projetos amplamente aplaudidos como é o caso dos Kamelot, Ark e Crest Of Darkness. Em 2005, acabariam por juntar-se para um par de espectáculos como CONCEPTION e, mais de uma década depois, Roy Khan na voz, Tore Østby na guitarra, Ingar Amlien no baixo e Arve Heimdal na bateria voltaram às edições com o EP «My Dark Symphony». 2020 marcou por fim o muito aguardado regresso aos registos de longa-duração com «State Of Deception», o primeiro álbum em mais de duas décadas.
«THE LAST SUNSET»
Duração: 51:24
Edição: 13 de Dezembro 1991, CSF Records
Produtor: Nils H. Mæhlum / Conception
Tore Østby: Esse foi o disco em que a banda tomou forma, se é que se pode dizer assim. Foi também aí que estabelecemos a formação que é considerada “a original” dos Conception, com o Roy, o Arve, o Ingar e eu mesmo. Era o nosso primeiro álbum, por isso demorámos algum tempo a escrevê-lo e a dar-lhe forma. Havia no ar muitas ideias musicais e também em relação à direcção que devíamos tomar. Estávamos a explorar uma série de géneros diferentes e, claro, tivemos de pensar bem como podíamos misturar tudo isso num todo que fizesse sentido para nós. A última peça do puzzle apareceu numa altura em que já tínhamos gravado algumas das backing tracks e foi quando nos encontrámos finalmente com o Roy e começámos a trabalhar juntos. Ele ainda teve tempo para dar as suas contribuições e o disco começou então a tomar forma. Para mim, foi nesse LP que os Conception nasceram.
Roy Khan: Essa história é engraçada, porque eu frequentava uma escola de música e era colega de um amigo deles. Foi ele que lhes deu a dica sobre mim. Na altura estava há coisa de um ano numa banda que só fazia versões de êxitos do Top 40, dávamos concertos a tocar canções pop e, para ser sincero, acho que nunca voltei a ganhar tanto dinheiro como ganhava a fazer isso. [risos] Mais ou menos por essa alturatambém fiz dois ou três ensaios com uma banda punk, mas percebi que não eram a minha praia. Enfim, certo dia o Tore ligou-me, eu não tinha nada melhor para fazer e aceitei o convite para ir vê-los. A primeira coisa que fizeram foi mostrar-me a intro da «War Of Hate», que se tornou no terceiro tema do disco, e fiquei instantaneamente “agarrado”. Em suma, decidi nesse preciso momeento que ia juntar-me à banda. Foram tempos muito entusiasmantes.
«PARALLEL MINDS»
Duração: 46:37
Edição: 10 de Novembro 1993, Noise Records
Produtor: Tommy Newton
Roy Khan: O «The Last Sunset» foi todo um processo de aprendizagem, sobretudo porque decidimos lançá-lo nós mesmos e percebemos que tínhamos mesmo de tentar arranjar editora.
Tore Østby: Depois do disco ser editado recebemos uma proposta da Polygram, mas eles queriam que seguissemos uma direcção muito específica, porque na altura os Metallica e o thrash estavam em alta. Nós não gostámos nada e, depois de nos terem sugerido isso, acho que nunca mais fomos aos escritórios deles. Pura e simplesmente, não achávamos que fossemos uma banda a que uma editora pudesse impor uma direcção – não queríamos ser apenas mais uma cópia dos Metallica. Estávamos a desenvolver a nossa identidade e a ideia de termos limitações não nos agradava mesmo nada. Às tantas lá recebemos a proposta da Noise Records, que nos agradou muito mais.
Roy Khan: O motorista do presidente da Noise tinha sempre uma pilha de cassetes no carro para lhe tocar e, certo dia, colocou a nossa demo no leitor. Aparentemente eles estavam a caminho de qualquer lado e gostou tanto do que ouviu que pediu para ver a cassete, sacou o contacto e depois falou connosco. Deu-se ao trabalho de vir à Noruega ver um concerto e mostrou logo interesse em trabalhar connosco. Depois, aconteceu tudo muito rapidamente.
Tore Østby: O disco já estava mapeado quando assinámos, mas as gravações foram totalmente diferentes porque trabalhámos pela primeira vez com um produtor a sério. O primeiro disco foi essencialmente feito por nós, com um engenheiro de som, mas desta vez íamos trabalhar com o Tommy Newton. Claro que, no início, foi um bocado tenso. Nós estávamos super entusiasmados com a música que tínhamos andado a escrever e tínhamos ali um estranho, com opiniões em relação ao que tínhamos feito. [risos] Fizemos uma semana de pré-produção na Noruega antes de viajarmos para o estúdio na Alemanha e, durante esses dias, percebemos que ele tinha opiniões válidas e que podia, de facto, tornar o resultado final ainda melhor.
Roy Khan: O «Parallel Minds» acabou por resultar como um avanço enorme em relação ao que tínhamos feito antes, a produção era melhor, os arranjos eram melhores. Nós amadurecemos, os temas tornaram-se mais orelhudos e, basicamente, a essência da banda estava mais definida. A verdade é que estávamos todos, individualmente, num ponto das nossas carreiras em que tudo evoluía muito depressa.
«IN YOUR MULTITUDE»
Duração: 49:59
Edição: 3 de Maio 1995, Noise Records
Produtor: Tommy Newton
Tore Østby: Com uma estrutura grande por trás, com o músculo e a máquina de promoção da Noise, tínhamos conseguido chegar a um público mais vasto.
Roy Khan: Em termos de reacção, o «Parallel Minds» correu muito bem. Entrámos inclusivamente em algumas tabelas de vendas. Na Grécia, no Japão, que sempre foi um mercado muito bom para nós… Na Noruega também correu muito bem. Foi um disco bastante bem sucedido a esse nível. E era tudo aquilo com que tínhamos sonhado.
Tore Østby: Também tocámos bastante ao vivo para promover o «Parallel Minds», por isso, quando chegou a altura de começar a escrever música nova, encarámos o processo com toda a experiência que as digressões nos tinham dado. Lembro-me que os temas foram escritos num período curto, e entre tours. Uma vez mais, o que fizemos foi escrever do coração e, apesar das reacções, a ideia de repetirmos o que tínhamos feito antes continuava a não estar nos nossos radares. O objectivo era, de resto, levar as coisas mais além, por isso o material tornou-se mais progressivo. O processo de gravação foi mais uma vez muito inspirador, voltámos a trabalhar com o Tommy e, no fundo, o objectivo de todos era encontrar novas formas de nos expressarmos.
Roy Khan: Lembro-me de, pela primeira vez, sentir que não tínhamos tido tanto tempo como eu gostaria para trabalhar nos temas para esse segundo álbum. Tecnicamente, o terceiro, sim, mas o segundo álbum “a sério”. Tocámos muito ao vivo com o «Parallel Minds», tivemos algum sucesso e, com isso, vieram outras responsabilidades, que nos roubaram muito tempo que costumávamos ter para compor. Essa é uma das sensações que me lembro bem de ter tido nessa altura. De resto, já conhecíamos bem o Tommy e toda a equipa, por isso decidimos não mexer na equipa vencedora.
Tore Østby: Concordo com o Tommy, tivemos menos tempo do que era habitual para escrever o «In Your Multitude», mas não me lembro de ter sentido qualquer tipo de pressão. Ainda estava muito entusiasmado, lembro-me que me fartei de compor. O tema-título e a «A Million Gods» são temas fantásticos – representaram um enorme passo em frente para a banda. Estávamos a tornar-nos cada vez mais progressivos e lembro-me de ter algumas discussões sobre isso com o Tommy.
«FLOW»
Duração: 43:55
Edição: 7 de Abril 1997, Noise Records
Produtor: Tommy Newton
Tore Østby: Foi, sem dúvida, mais um passo no nosso desenvolvimento. Mais que nunca, os temas foram tocados muitas vezes na sala de ensaio, lembro-me que fazíamos jams, com toda a gente a participar. O sentimento geral era de que nos devíamos concentrar mais nas canções, e menos nos elementos progressivos. Escrevemos mais uma colecção de óptimos temas, acho.
Roy Khan: Depois parámos antes do final desse ano.
Tore Østby: Decidimos que estava na altura de fazermos uma pausa. Primeiro, porque todos nós tínhamos outras coisas que queríamos fazer; depois, porque não estávamos nada satisfeitos com a forma como as coisas estavam a correr em relação às condições que nos apresentavam para fazermos tours. Além disso, a Noise tinha sido vendida, muito do pessoal que nos acompanhava deixou de trabalhar lá, e sentimos que deixámos de ser uma prioridade para a editora.
Roy Khan: Quando o tipo que te descobriu deixa a editora, isso nunca é bom sinal. O «Flow» podia ter sido trabalhado muito melhor. Lembro de dois incidentes distintos. Uma digressão que esteve planeada e nunca chegou a acontecer com os Stratovarius; até hoje nunca percebi porque é que não aconteceu, só sei que, uma semana antes de começarmos, fomos retirados do cartaz, sem explicações. Foi muito bizarro. E a Noise não se esforçou nada com a promoção. Acho que estavam à espera de um novo «Parallel Minds» ou «In Your Multitude», e o «Flow» não era nada disso.
Tore Østby: O disco era substancialmente diferente do que tínhamos feito antes e o Tommy estava muito entusiasmado, adorava os temas, por isso passámos muito tempo a aperfeiçoar tudo até ao mais ínfimo pormenor. Passámos duas semanas no estúdio só a ajustar os microfones da bateria, à procura do som perfeito. [risos] O «Flow» tem um som fantástico e é curioso que, na altura em que foi editado, alguns fãs adoraram, e outros nem por isso. No entanto, tanto tempo depois, é um dos nossos discos mais reverenciados, por isso acho que cresceu nas pessoas ao longo das últimas décadas.
«MY DARK SYMPHONY» (EP)
Duração: 26:41
Edição: 23 de Novembro 2018
Produtor: Tore Østby & Roy Khan
«STATE OF DECEPTION»
Duração: 39:19
Edição: 3 de Abril 2020
Produtor: Tore Østby & Roy Khan
Tore Østby: Depois de mais de vinte anos, começarmos novamente a escrever todos juntos foi uma emoção enorme. As peças estavam todas no sítio, agora podíamos usar toda a experiência que fomos acumulando individualmente ao longo dos anos que se passaram entretanto e, de certa, o EP e o álbum foram escritos e trabalhados durante o mesmo período, por isso existe essa ligação óbvia entre os dois. Não sei sequer se podemos chamar EP ao «My Dark Symphony»… Se calhar é melhor chamar-lhe mini-álbum; primeiro porque tem quase 30 minutos de música e, depois, porque foi um manifesto muito importante para nós. Não só porque marcou o nosso regresso à actividade, mas também porque trouxe para os Conception a experiência acumulada por todos nos outros projectos em que estivemos envolvidos – eu nos Ark, o Roy nos Kamelot e por aí adiante.
Roy Khan: Eu estive um longo período parado depois de ter saído dos Kamelot, em 2011, mas já andava a sentir com cada vez mais frequência um impulso para voltar à cena. No entanto, queria fazê-lo da forma certa, com as pessoas certas, queria que fosse a música certa… Enfim, tudo isso. Às tantas o Tore estava em Oslo, ligou-me e disse que tinha umas canções para me mostrar. Assim que as ouvi, adorei, e sugeri que tentássemos voltar a escrever juntos novamente. Fizemos isso e, logo no primeiro ensaio, desenvolvemos uma série de ideias cheias de potencial.
Tore Østby: Um dos temas que mostrei ao Roy era uma canção de embalar que escrevi para a minha filha e que acabou por se tornar numa música dos Conception, que incluíamos na versão deluxe do «State Of Deception». A outra é uma faixa a que costumava chamar «Twilight Ripper». Ainda trabalhámos nela, mas não conseguimos completá-la, por isso talvez tenhamos de lhe pegar novamente quando começarmos a pensar no próximo álbum.