Os Comeback Kid regressaram a Portugal após quatro anos de ausência, em dose tripla e com três datas, percorrendo o país de Norte a Sul, com datas em Lisboa, Porto e Loulé – e a recepção não poderia ter sido melhor. A fenomenal banda canadiana de hardcore trouxe desta vez na bagagem o álbum «Heavy Steps», e as bandas nacionais convidadas a abrir esta noite de concertos no RCA Club foram os Besta e os Dead End, num evento a cargo da Hell Xis.
O sangue novo no hardcore nacional está muito bem entregue a bandas como os Dead End. Oriundos da linha de Cascais, são uma das bandas que apareceram na cena no primeiro trimestre de 2020, embora os seus membros já venham todos com historial de projectos anteriores, e é interessante testemunhar o quanto têm vindo a evoluir, ao ponto de já terem oportunidades tão merecedoras como esta. Têm realmente estado bastantes presentes e a dar diferentes cartadas na cena actual. Mesmo com uma identidade dentro do hardcore, têm diferentes influências que vão desde o punk ao metal, passando ainda por outros espectros musicais, o que acaba por se tornar visível na sonoridade da banda. Quer seja a berrar em coros ou na forma efusiva com que é celebrada a música em frente ao palco, a banda já tem os seus próprios seguidores e amigos, e a cada concerto vão ganhando cada vez mais público – mais uma vez tivemos a oportunidade de comprovar isso. João Reis, dos Unexist, e amigo da banda, subiu ao palco para acompanhá-los na cover que tocam habitualmente de Allen Halloween, «Drunfos», concretizando assim o momento alto da noite dos Dead End, onde mais uma vez passaram uma mensagem de perseverança e de força nas letras que interpretam, com foco no seu mais recente EP «Tuga» que ainda andam a divulgar.
De seguida, subiram a palco os Besta que já dispensam qualquer tipo de apresentações e que deram o seu concerto esmagador do costume. Esta “super banda” portuguesa de música extrema é constituída por músicos não só de renome e com bastantes história no underground nacional, mas também já de significativo reconhecimento lá fora. O contributo destes “dinossauros” tem sido gigante e facilmente associamos os nomes de Rick Chain e de Paulo Lafaia a inúmeros projectos musicais e bandas que vieram abrir ou reforçar diferentes sonoridades musicais na música mais pesada que se praticava e ainda se faz em Portugal. Nomes como Twentyinchburial, We Are The Damned, ou Sinistro – já também com Ricardo Matias integrante – são alguns dos projectos mais representativos que fundaram ou fizeram parte. Fica aqui a curiosidade para alguns entusiastas da comunidade hardcore que não tenham conhecimento ou de memórias mais esquecidas que não se recordem, que o Lafaia também foi baterista de banda hardcore, fazendo parte da fase inicial dos Devil In Me. Já Paulo Rui, é dos vocalistas mais emblemáticos da sua geração de formas múltiplas e variadas – faz também parte dos Redemptus, e o que caracteriza mais o seu contributo em Besta é a sua performance em palco muito peculiar, alimentando a banda e público de uma forma absolutamente devastadora e repleta de energia, não parando quieto um segundo em palco, como mais uma vez aconteceu. Os Besta vão estar a tocar este Verão em diferentes polos do país e em alguns festivais, a divulgar o novo álbum «Terra Em Desapego», que tem data de lançamento para Agosto.
Finalmente os Comeback Kid subiram ao palco, e em poucos segundos a confusão e celebração em festa ao hardcore começou. É de reforçar e relembrar a relação próxima e duradoura que a banda tem não só com alguns músicos da nossa comunidade, bem como com o público português. Quem se lembra do concerto em Campolide há quase vinte anos atrás (2004) com os próprios TwentyInchBurial e Day Of The Dead, entre outras bandas? Certamente, parte do público que mais uma vez os quis rever, na companhia da nova legião de seguidores que foram acompanhado a banda nos últimos anos. Andrew Neufeld é certamente dos vocalistas que mais se destaca dentro do hardcore melódico. A diversidade e extensão do seu alcance vocal é avassaladora, e a empatia que gera com o público é de uma grande proximidade. A participação impecável do público entre cânticos e stagedives foi incansável, os coros foram estonteantes e constantes em temas como «False Idols Fall», «Talk Is Cheap», nos mais recentes «Someday Somehow» ou «Heavy Steps» ou nos clássicos como «G.M. Vincent And I» e «Wake The Dead». Também tivemos a oportunidade de assistir em palco à participação do amigo de longa data da CBK e vocalista dos Devil In Me, Poli Correia, no tema «All In The Year». Não houve encores, mas também não fizeram falta, o setlist e todos os segundos intensamente vividos em sinergia e comunhão fizeram com que as pessoas saíssem do RCA Club com um sorriso na cara. Ficam os agradecimentos e a certeza de voltarem a um país que já tanto deles faz parte.
FOTOS: Solange Bonifácio