Esqueçam os DOKUGA. Assim mesmo. É passar ao lado e ignorar. Esquecer completamente. Aliás, os DOKUGA nem sequer encaixam no espírito deste espaço. São um nome antigo do Porto, dos escassos grupos punk nacionais. O “escassos” justifica-se porque quase tudo é punk hardcore, crust ou punk bubblegum que apenas conhece os GREEN DAY como referência. Estes tipos persistem, no entanto, pelas ruas portuenses, sempre a horas tardias e “é normal que ao fim destes anos e quilos acumulados a nossa presença se note mais», afirmam, como que justificando serem vistos mais vezes, muitas vezes sóbrios. “Temos tido condições para ensaiar mais e compor para os próximos lançamentos que temos em fase de produção”, explicam, também a propósito do mais recente título editado, um split com os VAI-TE FODER.
São já catorze anos de existência, o que — lá está — os afasta da premissa desta coluna em destacar novos nomes, mas o álcool conserva e os autores de «Glória Ao Vício» são “os mesmos quatro desde o início”, que se traduz em “Giró na bateria, Óscar no baixo, Miguel na guitarra e Kisto na voz”, apenas com uma alteração pontual, pois “numa mini-tour em Inglaterra”, o baixista foi substituído por Possessus, dos ALCOHOLOCAUST, porque “o Óscar perdeu os documentos uns dias antes da viagem”. O recente disco partilhado com os VAI-TE FODER estava na calha há algum tempo e foi, “um parto natural”, dizem, “depois de tantos concertos, viagens, degredo e ressacas juntos”. O lançamento foi digital, mas o registo“foi pensado para uma edição em vinil 7 polegadas, e é por isso que a duração se limita aos cerca de sete minutos por banda, ou lado”.
Os DOKUGA assinam quatro dos treze temas apresentados, tudo gravado de um só fôlego pois “há dinâmicas que só são possíveis de captar assim, e livras-te daquele som imaculado e ultraproduzido de bandas que soam todas iguais”. A ideia foi incentivada pelos produtores “Miguel Azevedo e Joel Costa, do estúdio Magalhães Demos”, que “também se interessam por essa abordagem”. A edição física ainda não está fora de cogitação, sendo que as bandas estão “de momento à procura de editoras que queiram co-participar da edição, ou lançar em exclusivo, e esperamos poder começar a impressão nas próximas semanas”. O split intitula-se «Trapos», “uma expressão comum, pelo menos no Norte, ou entre nós, e que nos define muito bem”, que referem ter sido “algo com que as duas bandas concordaram imediatamente quando surgiu a ideia, e dá também algum espaço para que cada um a interprete como quiser”.
Toma-se a capa, o blusão de cabedal vermelho e vem à memória, Punkito, figura da cena portuense, que — como explicam — “sempre esteve muito presente nas nossas vidas, mas deixou-nos o ano passado, de forma inesperada, num mmento em que os Vai-te Foder já tinham gravado a sua parte do split”. Mesmo assim, os DOKUGA ainda foram a tempo de rematar o trabalho com um tema que leva o nome do amigo, “foi uma pequena homenagem à sua memória, através daquele mítico casaco vermelho, mas que seja lembrado como a pessoa e o punk que foi, verdadeiro até ao fim”. Em Dezembro passado, deram um concerto e Kisto entreteve-se a disparar objectos com a fisga. Espera-se que tudo passe e voltem a ocupar espaços com a sua música. «Trapos» mostra como estão vivos e possuem futuro. Mas isso não interessa. DOKUGA é punk de rua. Passem ao lado. Não queiram saber.