O black metal foi sempre um género querido no underground. Portugal possui uma tradição de bons nomes, muitos deles bem considerados na cena internacional. A existência de vários núcleos espalhados pelo país, tem permitido a formação de múltiplos projectos, em que os mesmos membros integram diferentes nomes — dúvidas? Eram terem estado numa das edições do INVICTA REQVIEM MASS. Outro caso, anda muito à volta da sala Metalpoint, no C.C. Stop, no Porto, muito dedicada a concertos do estilo e regularmente frequentada por músicos associados ao estilo.
Um dos nomes que recentemente surgiu desse núcleo com disco de estreia, foi ANIFERNYEN. Cronologicamente não se poderá chamar-lhes novo grupo, pois o primeiro EP, «The Pledge Of Chaos», foi lançado em 2009. No entanto, um longo hiato, cerca de onze anos, levou à formação de toda uma nova banda. Como refere Luís Ferreira, “houve de facto uma reestruturação da banda bastante profunda para este novo álbum, da formação inicial ficaram só as guitarras”, que o músico partilha com Diogo Malheiro. Apesar de tudo, refere, existe “uma relação entre os dois trabalhos, que se prende à manutenção dos elementos responsáveis pela composição”, daí que “quem ouviu o EP e agora o álbum conseguirá encontrar pontos de contacto”, afirma.
Além dos guitarristas, o colectivo é formado por Ricardo Vieira, dos BURIED ALIVE e SADISTIC OVERKILL, no baixo, e Hugo Almeida, na bateria, também conhecido pelo seu trabalho com os ANTIVOID, IN THY FLESH e UNFLESHED, entre outros. Na voz está Daniel Lucas, também de PAINTED BLACK. A diferença de formação e os anos que se passaram tiveram consequências naturais e “as diferenças acabam por ser evidentes no que toca à voz e à componente rítmica”, pois o colectivo tentou aproveitar em particular a “voz do Daniel, tendo em conta o registo” que pretendiam. Com «Augur», lançaram um dos melhores trabalhos de 2019, dentro do estilo.
“O título do álbum acabou por surgir de uma cogitação sobre o conjunto das suas faixas”, elabora o músico. “Ao ouvir as diferentes músicas demos conta que o tema transversal incidia em imagens de devastação e desolação”. Isto não se limitou aos textos, pois o colectivo apercebeu-se que “a própria música era evocativa desses cenários”. Vai daí, encontraram no termo “uma palavra forte, que engloba a totalidade das ideias visuais e sonoras do álbum e que funciona perfeitamente como título”. Disco conceptual, a sua temática gira à volta do nome do próprio quinteto, “An Ifern Yen”, que se pode traduzir como “O Inferno Gelado”. Ao longo do disco é fácil encontrar referências a AMON AMARTH, EMPEROR ou até PRIMORDIAL. A trilogia formada por «Emissary», «Graveborn» e «Voleur D’Âmes» afirma-se como o núcleo mais interessante deste trabalho, a par de «Neverlight» e de «Tyrant», tudo com uma produção cuidada, que lhe confere um resultado melhor que o habitual. Acrescido a isto 3stá um excelente trabalho gráfico a cargo da emergente Credo Quia Absurdum.