A disposição de palco é sintomática. De um lado, um jogo de pedais, que enfrenta um outro à frente. No meio, na rectaguarda, uma fortaleza de teclados enfrenta uma bateria. Os músicos entram e sorriem. Manfred Merwald, bateristaa, enche um copo de vinho que coloca aos seus pés. Atrás dele, o baixista Mario Oberpucher faz o mesmo. Nos teclados, Jan Faszbender sorri e brinca com Manfred, enquanto este começa a ensaiar uns sons num dos pratos. A um canto, rodeado da pedaleira, dos amplificadores e de um microfone, temos Stefan Koglek. É ele o condutor do grupo, mesmo que nem sempre seja o principal protagonista. Dos dedos de Stefan sai o lado mais rock do grupo. Manfred ora impregna os temas com um lado mais pesado, muito próximo do som de um John Bonham, batendo forte, ora percorre terrenos mais jazzísticos, por vezes até com toada funk. Mario é talvez o mais discreto dos quatro, e Faszbender traz o lado space rock que paira sobre o que fazem. São quase trinta anos de actividade que levaram os alemães ao estatuto maior na cena stoner/psych alemã. Sublinhe-se o psych, pois o stoner está praticamente ausente, ao contrário do space rock, que aqui e ali desponta. Com projecções coloridas que acentuaram ainda mais a experiência sonora, o quarteto actuou para uma sala praticamente esgotada, com um público mais heterogéneo do que seria de esperar, sintoma que os adeptos do prog rock também reconhecem as capacidades destes senhores.
O trabalho de 2019, «We Are», está ainda bem presente em todo o alinhamento, com temas como «The Real», por exemplo, a serem tocados. Prova disso, a hesitação de Koglek quando anuncia um tema como sendo “do último disco”. Percebe-se o arrependimento, porque «We Are» já não é o último. Está a actuação a meio, ou seja, tinha passado uma hora, quando Stefan, apresenta «Idiologigi», engasgando-se no termo e denunciando que este era extremamente novo e ainda não se habituara a ele. Afinal, «Sacred» ainda tem apenas uns dias. Apoiada em boas jams, por vezes com as cordas a combaterem entre si, outras com teclado e bateria a roubarem o protagonismo, nesta ocasião a actuação dos COLOUR HAZE foi polida, imaculada e agradou aos presentes. Afinal todos estavam lá pela música, pelas notas que iam caindo em cascata, mas nunca em exageros masturbatórios, como se este psych fosse um prog contido. No final, a promessa de um regresso a território nacional no próximo ano. Alguém conseguirá adivinhar em que festival vão tocar?