CHUCK SCHULDINER

CHUCK SCHULDINER e a improvável homenagem de um ícone do death metal a MADONNA [streaming]

A descoberta de uma gravação caseira (e inédita!) de CHUCK SCHULDINER a reinterpretar o clássico «Frozen» revela uma faceta íntima e surpreendente do fundador dos DEATH.

A internet pode ser uma coisa maravilhosa e, desta vez, trouxe à superfície uma daquelas pérolas que redefinem o modo como olhamos para as figuras maiores da história do metal. Desta vez, trata-se de Chuck Schuldiner, o lendário fundador dos DEATH e uma das mentes mais visionárias do death metal, cuja abordagem musical sempre desafiou as fronteiras do género. Uma gravação há muito perdida do músico norte-americano, a interpretar uma versão instrumental de «Frozen», tema de Madonna lançado originalmente no álbum «Ray Of Light», de 1998, foi finalmente revelada — e o resultado tem tanto de inesperado como de profundamente tocante.

O registo, partilhado através da conta oficial dos DEATH no Instagram, surgiu num vídeo publicado por Chris Steele, sobrinho de Chuck Schuldiner. No vídeo, pode ver-se Steele a inserir um CD com a palavra “Frozen” escrita a marcador num leitor de carro. O que se ouve a seguir são harmonias de guitarra muito etéreas e cristalinas, com uma delicadeza que contrasta de frente com a ferocidade técnica que sempre caracterizou o trabalho de Schuldiner.

A melodia, que no original de Madonna flui sobre texturas electrónicas e linhas vocais bem melancólicas, surge recriada com guitarras de tom gélido e vibrato emotivo, transformando-se num exercício de beleza pura. Na legenda da publicação, Chris Steele explica o contexto da descoberta: “Encontrei este CD hoje ao vasculhar algumas coisas. O Chuck gravou isto durante os primeiros estágios da sua longa batalha contra o cancro, lembro-me bem disso. O Chuck sentado no quarto com a sua Stealth e uma caixa de ritmos. Não sei quantas pessoas fora da família e alguns amigos terão ouvido esta gravação, mas agora é de todos vocês.”

A simplicidade da gravação torna-a ainda mais significativa. Feita num ambiente doméstico, com recursos mínimos, este é um retrato fiel do músico durante os seus últimos anos de vida — um criador incansável que, mesmo enfraquecido pela doença, nunca deixou de explorar novas formas de expressão. A escolha de «Frozen», canção marcada por uma atmosfera fria e introspectiva, ganha um peso simbólico inevitável à luz do contexto. Longe da distorção e da agressividade rítmica que o imortalizaram, Schuldiner parece aqui em busca de algo puramente emocional — talvez uma catarse, talvez apenas um momento de paz.

Por tudo isso, a revelação desta gravação vem acrescentar mais uma nova camada à já complexa figura de Chuck Schuldiner. Conhecido como o “pai do death metal”, o guitarrista e vocalista sempre rejeitou rótulos simplistas. Desde os primeiros registos dos DEATH, como «Scream Bloody Gore» e «Leprosy», até à sofisticação progressiva de «Symbolic» e «The Sound of Perseverance», a sua trajectória foi uma constante busca por novas possibilidades musicais e emocionais.

Esta homenagem improvável a Madonna — artista cuja estética parecia estar nos antípodas do universo dos DEATH — confirma aquilo que muitos dos seus fãs mais atentos sempre souberam: que por trás do extremismo sonoro havia uma sensibilidade artística profunda e uma curiosidade sem fronteiras. E, com esta descoberta, Chuck Schuldiner volta a mostrar que o metal, mesmo na sua forma mais extrema, pode ser um veículo de beleza e introspeção. Esta versão de «Frozen» é, afinal, um gesto de humanidade — e uma prova de que, por vezes, as canções mais inesperadas podem revelar o coração mais verdadeiro de um artista.