Os ROLLING STONES não são uma banda de heavy metal, nem sequer de hard rock. Apenas porque chegaram primeiro, no entanto. O seu comportamento, a sua atitude, a sua música, foram influentes para gerações de músicos do hard’n’heavy. Ontem, faleceu um deles. Charlie Watts. Charles Robert Watts nasceu a 2 de Junho de 1941, talvez cedo para ser definido como baby boomer, mas certamente a tempo de integrar a geração que viria a mudar a cultura musical e popular do século XX. Pode mesmo afirmar-se que foi o baterista que marcou o ritmo nos inícios da década de 60. Membro dos ROLLING STONES desde 1963, poucos meses após a formação destes. Watts era assim, ao lado de Mick Jagger e Keith Richards, um dos poucos elementos da banda britânica presente desde os primórdios. Era também dois anos mais novo que os restantes, apesar de todas as piadas que se fazem sobre a longevidade de Richards.
Curiosamente, ou talvez não dada a época, Watts era um baterista associado ao jazz, tendo mesmo feito pequenas aparições, já em fase tardia, com formações do género. Qualquer lista de bateristas facilmente o incluía entre os melhores de sempre. A afirmação poderá parecer exagerada, em particular a quem nunca o tenha observado ao vivo. Num estilo muito próprio, o músico era extremamente discreto, e embora nunca falhando o ritmo, era daqueles bateristas que fazia parecer fácil qualquer gesto que fizesse. Até a própria carreira de Watts acabou por ser muito similar ao seu estilo de estar atrás das peles. Ao longo de um percurso de quase seis décadas, apenas integrou, efectivamente, uma banda: os ROLLING STONES. Contrariamente ao habitual entre as estrelas de rock, Watts casou em 1964, com a sua namorada, que conhecia antes de ingressar no grupo. Shirley Ann Shepherd foi a sua companheira de sempre e sobrevive-lhe. Será difícil encontrar um músico que integre a mesma banda por quase seis décadas e que tenha estado casado durante quase tanto tempo.
Nos anos 80, o músico superou um problema de álcool e drogas, nada de anormal tendo em conta que era um dos ROLLING STONES, e em 2004 venceu um cancro na garganta. Há poucos dias, foi revelado que após uma cirurgia, tinha sido decidido que não participaria na próxima digressão do grupo, pelos Estados Unidos. Eram os primeiros concertos sem ele desde 1963 e, a propósito, Mick Jagger declarou que a banda “esperava o seu regresso assim que estivesse recuperado”, no que dava a entender ser um problema ultrapassável, apesar dos 80 anos do baterista. Já Keith Richards confessava ter sido um “abanão para todos” não poder contar com o baterista. Ronnie Wood, o último dos elementos oficiais dos Rolling Stones, também deixava a esperança do regresso de Watts à bateria.
Richards, disse um dia que Watts lhe dava “a liberdade para voar em palco”. Também por isso, era normal, muitas vezes, entre tantos aplausos, ver Richards apontar para Watts, sinalizando o verdadeiro herói do concerto, como aconteceu em Portugal, na segunda de seis visitas, em 1995, no Estádio de Alvalade. A sua maior ousadia estará na batida de «Honky Tonky Women», mas era ao vivo que se percebia como segurava toda a banda. 24 de Agosto passa para a história como o dia em que faleceu Charlie Watts, aos 80 anos. O mesmo dia em que muitos músicos prestam lhe homenagem, entre eles bateristas icónicos como Ringo Starr, Roger Taylor, Stewart Copeland e muitos, muitos outros. Afinal, mesmo sendo discreto, Watts era um dos ROLLING STONES.