Editado a 4 de Novembro de 1989, o incontornável segundo álbum dos CARCASS permanece um marco e um exemplo de como o metal extremo pode ser tão inovador quanto desconcertante.
Lançado em 1989 e amplamente reconhecido como um marco essencial na história da música extrema, o segundo LP de estúdio dos CARCASS, sugestivamente intitulado «Symphonies Of Sickness», foi lançado pela lendária Earache Records, reconhecida por impulsionar algumas das propostas mais influentes saídas do género, e destacou-se desde muito cedo, tanto pela sua fusão inovadora de grindcore e death metal, como pelo teor lírico e sonoro absolutamente visceral.
Formados em 1985 na cidade de Liverpool, os britânicos CARCASS começaram por ser um trio composto por Bill Steer (guitarra e voz), Jeff Walker (baixo e voz) e Ken Owen (bateria), sendo que, ao segundo LP, atingiram logo o apogeu criativo do que fariam com essa formação inicial. Com o colossal «Symphonies Of Sickness», os três músicos conseguiram elevar a outro patamar de brutalidade e morbidez aquilo que tinham esboçado na estreia «Reek Of Putrefaction», editado apenas um ano antes, tornando a cacofonia mais elaborada e técnica, sem abandonarem, contudo, aquele sentido de choque e todo o humor negro que sempre marcaram a estética do grupo.
Ao combinarem um sentido de velocidade avassaladora com secções mais lentas e pesadas, os CARCASS criaram uma dinâmica que se tornaria uma assinatura do estilo da banda, que os consolidou como uma das forças motrizes de uma nova forma de expressão no metal (caracterizada pela agressividade sonora, pela velocidade das composições e pela brutalidade lírica) e que, pelo caminho, influenciaria gerações de bandas apostadas em recriar a estética criada por Steer e companhia.
O álbum abre com a introdução sinistra «Reek Of Putrefaction», uma faixa que encapsula a essência de todo que se segue: uma cascata de guitarras distorcidas, batidas certeiras, vozes gritadas e guturais, e as letras que descrevem de forma gráfica cenas de decadência, putrefação e decomposição. Apoiadas num turbilhão de riffs que alternam entre a brutalidade do grind e a complexidade melódica que antecipa a vertente mais técnica do death metal, especialmente no uso de escalas e harmonias pouco convencionais no metal tradicional, as canções, que não são especialmente longas, formam um fluxo incessante e denso.
A guitarra de Bill Steer e o baixo de Jeff Walker, afinadas num tom baixo, criam um som mais encorpado e sujo, enquanto a bateria de Ken Owen explode em blasts e tempos caóticos que mantêm a intensidade sempre no vermelho. No entanto, uma das marcas mais notórias do «Symphonies Of Sickness» são, sem dúvida, as letras. Escritas, na sua grande maioria, pelo Sr. Walker, abordam temas médicos e anatómicos de forma detalhada e quase obsessiva, usando terminologia técnica para descrever cenários mórbidos e cenas de decomposição e dissecação humana.
Altamente gráficos, mas escritos com uma precisão e rigor raramente vistos na música extrema, os textos são, simultaneamente, chocantes e fascinantes, amplificados pela capa do álbum, que, na sua versão não censurada, apresenta uma colagem de imagens anatómicas e patologias humanas, que causaram muita polémica e contribuíram para o impacto do álbum, tornando-se parte integrante da identidade da banda, que utilizava este tipo de grafismo como forma de reflectir sobre a natureza efémera do corpo humano.
Por tudo isso, o impacto do «Symphonies Of Sickness», e dos CARCASS, no mundo do metal é difícil de subestimar, com este álbum a ser frequentemente apontado como uma das obras-primas que ajudaram em muito a definir e a consolidar o death metal e o grindcore como géneros distintos, ao mesmo tempo que abriu portas as para o aparecimento e desenvolvimento de subgéneros ainda mais extremos como o deathgrind e o goregrind.
Dito isto, e em jeito de conclusão, o segundo álbum dos CARCASS acaba por ser muito mais que apenas um álbum de death metal. É uma obra-prima que questiona, provoca e, ao mesmo tempo, oferece uma experiência auditiva única. Na sua fusão entre o grotesco e o técnico, entre o brutal e o crítico, tornou-se uma das maiores referências do metal extremo, perpetuando-se como uma das criações mais desafiantes e influentes do género.