CANNIBAL CORPSE

CANNIBAL CORPSE: «Eaten Back To Life» — uma descarga imberbe de brutalidade unidimensional

No papel, quando lançaram a estreia «Eaten Back To Life», a 16 de Agosto de 1990, os CANNIBAL CORPSE já eram a banda de death metal perfeita, mas, na prática, ainda estavam muito longe do colosso em que se transformaram nos anos seguintes.

Os CANNIBAL CORPSE são, sem margem para dúvidas, uma das bandas de death metal mais influentes e controversas de todos os tempos. Com um ataque musical furioso, marcado por blastbeats, voz gutural e letras altamente violentas, os músicos sempre se deliciaram com a imagética do horror splatter e, tanto a arte gráfica das capas dos álbuns como os títulos sórdidos das canções, atraíram uma quantidade muito considerável de controvérsia ao longo das décadas, resultando, por vezes, na censura dos seus álbuns.

Ainda assim, foi precisamente a estética macabra e sem remorsos que permitiu aos CANNIBAL CORPSE conquistarem uma base de fãs fervorosa, que mais se aproxima do culto. Formada na cidade de Buffalo, Estado de Nova Iorque, em 1988, com uma formação composta principalmente por elementos activos na cena local — o vocalista Chris Barnes, os guitarristas Bob Rusay e Jack Owen, o baixista Alex Webster e o baterista Paul Mazurkiewicz —, inicialmente a banda começou por tocar thrash.

Musicalmente mais próximos dos SLAYER, embora bandas de metal mais extremas como DEATH também tivessem um papel no seu som, os CANNIBAL CORPSE gravaram uma única demo em 1989, que os deu a conhecer à cena underground e ajudou a garantir um contrato com a Metal Blade Records, que lançou no ano seguinte o álbum de estreia «Eaten Back To Life», de 1990. O revisionismo ditado pelas mais de três décadas que passaram, entretanto, menciona frequentemente este ponto como aquele em que o culto se começou a formar em torno do grupo. No entanto, não foi bem assim.

Apesar de, conceptualmente, terem surgiu completamente formados do famoso pântano do death metal com este álbum, musicalmente o «Eaten Back To Life» apresenta uma versão muito embrionária daquele portento em que se transformariam nos anos seguintes. Todas as características dos CANNIBAL CORPSE estão presentes, desde a arte da capa do álbum com inspiração em filmes de terror de série B às letras absurdamente exageradas e violentas — “Brains devoured in a frenzied slaughter, thirst for gore nothing more / Bile is dripping, puss from wounds, as the coroner drinks it down.

O Sr. Chris Barnes urra as suas linhas vocais como Satanás numa dieta de lâminas de barbear e diluente de tinta. De resto, o desempenho da banda é uniformemente selvagem, mas, por outro lado, também se revela uniformemente unidimensional. Os arranjos são demasiado primitivos para o seu próprio bem e, a espaços, nota-se que os CANNIBAL CORPSE ainda não tinham todas as ideias no sítio ou, talvez, ainda não tivessem desenvolvido suficientemente as suas capacidades para concretizarem tudo o que tinham em mente.

Feitas as contas, registam-se demasiadas mudanças de tempo; demasiada pancadaria monocromática com o pedal duplo; e não há quase variedade, textura ou trabalho de guitarra interessante o suficiente para que, à excepção das incontornáveis «Shredded Humans» e «A Skull Full Of Maggots», as canções se destaquem entre si. E sim, a devoção focada do quinteto à sua causa é, sem dúvida, admirável, mas os resultados não vão muito além daquilo que se poderá considerar death metal para iniciantes.