Hoje celebram-se mais de três décadas de misantropia extrema debitada à velocidade da luz, cortesia dos saudosos BRUTAL TRUTH.
Os Carcass, Napalm Death, Repulsion e Terrorizer são legitimamente creditados como engrenagens vitais na criação e evolução do grindcore — e ninguém se atreve a negar-lhes esse estatuto. No entanto, também é sabido que a fusão altamente abrasiva de hardcore, punk extremo e death metal atingiu desde cedo um nervo na comunidade da música underground e, à medida que os anos 90 foram progredindo, a tendência continuou a ganhar força.
Criados pelo baixista Dan Lilker (que até então tinha passado pelos Anthrax, Nuclear Assault e S.O.D.), os nova-iorquinos BRUTAL TRUTH atiraram-se com unhas e dentes à letal fusão death/grind e capturaram o proverbial relâmpago numa garrafa com a sua fenomenal estreia em 1992.
Editado no dia 6 de Outubro pela Earache Records, o apropriadamente intitulado «Extreme Conditions Demand Extreme Responses» marcou a estreia dos BRUTAL TRUTH nos registos de longa-duração e afirmou-se desde cedo como um clássico do extremismo sonoro mais veloz e abrasivo. Mais de trinta anos após o seu lançamento, continua a haver algo de especial neste disco, que se distingue sem grande dificuldade de praticamente qualquer outra proposta do mesmo género feita antes ou depois.
Ao longo das quinze bombas refractárias que compõem o alinhamento da edição original, o LP de estreia dos BRUTAL TRUTH trouxe para a equação um acutilante sentimento crescente de urgência e uma dose considerável de riffs memoráveis e precisão musical, tudo elementos que já tinham sido explorados, mas largamente subdesenvolvidos, na cristalização precoce da tendência.
Exactamente por isso, o «Extreme Conditions Demand Extreme Responses» afirmou-se desde logo como uma proposta excepcionalmente rápida, cativante e simples, mas muito excitante de ouvir e experienciar. Os temas apresentavam todas as marcas registadas do estilo, mas transcendiam os elementos mais primitivos naquilo que se pode descrever com uma evolução do paradigma à força de dinâmicas e versatilidade quase inauditas na primeira vaga do grindcore.
A velocidade continuava a reinar de forma suprema, com ritmos quebradiços a cruzarem-se com explosões de blasts barulhentos debitados a tempos ridículos, habilmente apoiados pelas linhas de baixo bem sujas de Lilker e pelos riffs cativantes de Brent McCarty. As letras perspicazes e politicamente carregadas de Kevin Sharp eram cuspidas numa gama assustadora de rugidos, grunhidos e gritos rasgados, acompanhando de uma forma muito impressionante as dinâmicas da música.
Quando à prestação do baterista Scott Lewis… Bem, digamos que o homem até pode ter sido parte do legado dos BRUTAL TRUTH durante pouco tempo, mas o que fez aqui ficará cravado para sempre nos anais da música extrema como uma das performances mais insanas de todos os tempos. Tendo em conta a qualidade e a variedade da composição, que equilibra uma abordagem baseada em riffs com um bom gosto que não lhes permite deleitarem-se apenas em puro ruído, mais de três décadas depois do seu lançamento, este «Extreme Conditions Demand Extreme Responses» continua a ser uma raridade no espectro do grind.