41 anos de um dos mais injustamente ignorados álbuns dos BLACK SABBATH.
À partida, os icónicos BLACK SABBATH parecem uma escolha inusitada para esta rubrica, mas a verdade é que muita da fama e influência de que os músicos de Birmingham gozam assenta no que fizeram nos primeiros anos de carreira. Foi no período compreendido entre 1970 e 1976 que o quarteto, com a formação clássica de Ozzy Osbourne na voz, Tony Iommi na guitarra, Geezer Butler no baixo e Bill Ward na bateria inalterada, gravou os melhores registos.
Relativamente a isso não há, de resto, grandes dúvidas e, a prová-lo, temos 99% das bandas vistas como herdeiras do grupo. Se pensarmos bem na maioria do doom/sludge/stoner que temos ouvido ao longo das últimas cinco décadas, é fácil perceber que a inspiração vem exclusivamente dos discos que, feitas as contas, definiram o seu som pesado e arrastado, apoiado em mega riffs pentatónicos, e os tornaram famosos em primeira instância.
No entanto, se conseguirmos deixar por uns momentos de lado a máxima “you can only trust yourself and the first six Black Sabbath albuns”, cunhada originalmente pelo Henry Rollins, é fácil perceber que há muita música boa para descobrir além do «Black Sabbath», do «Paranoid», do «Master Of Reality», do «Volume 4», do «Sabbath Bloody Sabbath» e do «Sabotage». Mesmo assim, muito do fundo de catálogo da banda pós-Ozzy continua a ser largamente, e injustamente, ignorado.
O «Technical Ecstasy» e o «Never Say Die!», os dois últimos antes da ruptura da formação original, incluem temas bem fortes, o «Heaven And Hell», que marcou a estreia com o malogrado Ronnie James Dio na posição de vocalista, conseguiu ressuscitar a banda via uma interessante reinvenção e… No estado de espírito correcto, o «Seventh Star» tem os seus momentos e, na nossa redacção, há até quem considere que os álbuns com o Tony Martin estão entre o melhor que alguma vez fizeram.
Gravado na sequência de dois álbuns bem sucedidos com Dio, o «Born Again» é o décimo primeiro registo de longa-duração da banda britânica e marcou, simultaneamente, a fugaz colaboração com o talentoso Ian Gillan e o regresso de Ward à bateria. Numa fase em que os DEEP PURPLE tinham embarcado num hiato, o vocalista decidiu participar nas audições que Iommi e Butler fizeram.
Entre candidatos como David Coverdale e Michael Bolton, Gillan foi escolhido para liderar o que, na cabeça dos três membros sobreviventes da formação original, seria a estreia de um novo projecto. Essa ideia peregrina acabaria por ser rejeitada pela Vertigo e pelo próprio agente do grupo, já após terminadas as gravações mas, tenha ou não sido composto com os BLACK SABBATH em mente, a verdade é que o «Born Again» mistura tudo o que a banda tinha feito de melhor até ali.
Da abertura «Trashed» à final «Keep It Warm», passando por pérolas como «Disturbing The Priest», «Zero The Hero» e «Hot Line», percebe-se que o vocalista teve um impacto forte no som explorado. Adaptando os gritos expressivos de Dio, mas também o registo mais grave e sombrio de Ozzy, o frontman dos DEEP PURPLE conseguiu fundir pela primeira vez, e no mesmo disco, os pontos fortes desses dois cantores tão diferentes.
Talvez inspirado por isso, estilisticamente o trio de instrumentistas fundiu o espírito teatral do heavy metal patente em «Mob Rules» e «Heaven And Hell» com o ambiente mais soturno e “drogado”, chamemos-lhe assim, de álbuns como o «Master Of Reality» e o «Volume 4». O resultado, esse, é um dos registos mais pesados da história do grupo. Portanto, se há um álbum dos BLACK SABBATH que precisa de ser revisitado com urgência, é mesmo este.