Em mais um RETROVISOR, recordamos a atitude e a energia dos BLACK FLAG, banda que marcou toda uma geração e mostrou ao mundo um vocalista que se tornaria uma referência por si próprio: HENRY ROLLINS.
Verão. Calor. Todo aquele ambiente pré-festival de Verão em que se escolhe o destino dividindo o preço do bilhete pelo número de bandas. Cosem-se battlejackets que nunca antes estiveram num circle pit e corre-se à loja para comprar uma t-shirt à maneira. Confia-se no parecer daquele amigo mais nerd para saber que interessa “ver aquela banda”, além da obrigatoriedade de estar presente na altura do cabeça-de-cartaz cujo nome se ignora.
Depois é partilhar os vídeos, amaldiçoar a tenda, tentar não dormir, ou não deixar dormir, sair de lá com mais dois ou três nomes de referência para descarregar uns ficheiros ou ouvir nas plataformas de streaming. Muitas fotos manhosas, uns vídeos no telemóvel que nunca se chegam a ver novamente e longas discussões nas redes sociais em que se tenta defender o nome de um festival não porque tem um bom cartaz, mas porque se esteve lá.
O RETROVISOR também aprecia festivais, mas fica aqui uma sugestão mais refinada, que alguns até de poderiam atrever a chamar “gourmet”: ir até um clube, assistir à actuação de uma daquelas bandas que tanto podem terminar amanhã, sendo isso o mais provável, como serem uma lenda passado vinte anos. As contas fazem-se fácil, ainda sobra dinheiro para cerveja e o mais próximo do campismo é esperar pelo próximo comboio ou autocarro que chega na manhã seguinte.
A compensação vem no prazer de sentir o rock na cara, estar tão dentro do palco que até um ecrã de telemóvel parece excessivo. Não que nos anos 80 existissem telemóveis, mas queremos acreditar que, se existissem, teriam durado pouco durante um concerto dos BLACK FLAG.
Designação correcta, à época, hardcore punk. O punk, naqueles anos, associava-se a um movimento mais trendy, por isso renegado pelos nomes mais novos. No enanto, aquilo que os BLACK FLAG ou os DEAD KENNEDYS faziam era punk seminal, a anos-luz daquilo em que se transformariam uns OFFSPRING ou GREEN DAY ou mesmo daquilo que algumas encarnações recicladas viriam a ser nas décadas seguintes. Não há, de resto, muito para perceber; corpos, alguma música e atitude. Muita atitude.
Aqui é isso mesmo que interessa: a atitude e energia, lendárias, dos BLACK FLAG, grupo que marcou toda uma geração e apresentou ao mundo um vocalista que se tornaria uma referência por si próprio: HENRY ROLLINS, rockstar, artista de cinema e TV, ícone da spoken word e um fabuloso contador de histórias.
Há uma memória, aqui deste lado, da quarta edição do festival de Paredes de Coura, em que a simples presença de Rollins e da sua banda pós-BLACK FLAG levou a toda uma afluência de personalidades da música, ajudando a colocar o festival no mapa.
Curiosamente, após todo o entusiasmoe sem se ouviram temas dos BLACK FLAG, acabaram a ser mesmo os MÃO MORTA a limpar o recinto, mostrando mais uma vez que a produção nacional pode ser óptima. E lá se volta ao início da conversa, à proposta para se visitar um clube, pagar um bilhete barato e apoiar as bandas locais. Não é preciso saber o nome da banda, mas sempre se apoiam os promotores nacionais e quem sabe, poderá ter-se uma boa história para contar… Sem ser apenas mais uma do rebanho lá do festival, pois claro. RISE ABOVE!