A noite esteve algo ventosa, ou seja, não estavam reunidas condições atmosféricas convidativas a ficar muito tempo na esplanada da sede da Associação Recreativa e Cultural de Músicos em Faro. No entanto, não muito depois da hora anunciada, os VILLAIN OUTBREAK, banda local escolhida para fazer a primeira parte do regresso da Locomotiva ao sul de Portugal, subiram ao palco, convidando assim os presentes a entrarem para a Sala do Morcego, bastante mais aconchegante que o pátio ventoso. O começo da actuação foi algo tremido, mas os músicos depressa encontraram o entrosamento necessário para um set curto mas cheio de energia. Com a principal incidência em temas do último álbum «Uneven», os presentes também tiveram direito a algumas faixas do primeiro EP, como «Shaken Faith» ou «Dear Cliché». Os mais distraídos podem não ter reparado logo, mas o vocalista Francisco Martins fez questão de salientar que estávamos na presença do primeiro concerto do novo guitarrista Ludgero, que veio substituir o membro original Tassilo, que abandonou a banda uns meses antes. De salientar algumas ligeiras diferenças nos arranjos de algumas músicas, fruto da inclusão de um novo membro que ainda necessita de alguma rodagem até estarem oleados novamente. Antes do final, com a já clássica «Hot Blood», que teve a participação de José Santo, dos farenses PULL THE TRIGGER, foi-nos apresentada igualmente uma nova música chamada «Chronos». O set foi sólido e bastante coerente, infelizmente em certas alturas o jogo de luzes tornou o ambiente um pouco desconfortável, tal era o uso e abuso de strobe lights.
Após uma curta pausa para estar tudo preparado para a chegada da Locomotiva, o quarteto mais bizarro do país subiu ao palco e fomos subitamente infectados… «Na Febre de Ícaro» contagiou todos os presentes que prontamente responderam à chamada e cantaram hipnoticamente o refrão. Sem paragens, à boleia desta frenética locomotiva fomos visitar os «Gatos Do Asfalto» e o «Desgraçado De Bordo». A certa altura, o vocalista Rui Sidónio dividiu o seu tempo entre o palco, onde andou freneticamente de um lado para o outro, e a plateia onde esteve inúmeras vezes, tornando o concerto num evento mais intimista. Dos presentes, ninguém arredava pé e as atenções dividiam-se entre o palco e o centro da plateia, sendo os mais distraídos algumas vezes surpreendidos pelo jogo do “onde está o vocalista?!”. Com o baterista Rui Berton a marcar o passo da locomotiva e o teclista Alpha a criar densas camadas ambientais, foi muitas vezes o guitarrista Miguel Fonseca a comandar o publico, em transe, instruindo-o em quando acompanhar a batida maquinal da bateria e convidando desta forma os presentes a fazerem parte integral da engrenagem desta máquina imparável. «Anjo Exilado» e «O Escaravelho» terminaram em alta uma actuação que foi toda ela em crescendo, independentemente dos problemas técnicos com o PA, que muito provavelmente passaram ao lado de muitos dos presentes.
Fotos por: Mário R. Cunha