Mais de três décadas após o seu melhor álbum, os BIOHAZARD não são apenas sobreviventes — são a prova viva de que o hardcore e o metal ainda podem andar de mãos dadas com convicção, suor e verdade.
Há regressos que parecem improváveis até que se tornam inevitáveis. O dos BIOHAZARD é um desses casos. Treze anos após o lançamento de «Reborn In Defiance», a banda de Brooklyn voltou a reunir a formação clássica — Billy Graziadei, Evan Seinfeld, Bobby Hambel e Danny Schuler — e entrega um disco que justifica plenamente o título: «Divided We Fall» é tanto uma constatação da fragmentação social e pessoal dos tempos modernos como uma reafirmação de unidade entre quatro veteranos que, contra todas as probabilidades, redescobriram o seu fogo original.
Em 2012, quando o último LP dos BIOHAZARD chegou às lojas, já se percebia que a química que outrora os tornara uma força imparável tinha desaparecido. O grupo parecia cansado, sem aquela carisma sujo e a urgência que caracterizaram clássicos do crossover metal/punk/rap como «Urban Discipline» e «State Of The World Address». Pouco depois, a banda dissolvou-se em silêncio: BIlly Graziadei seguiu com os projectos BILLYBIO e POWERFLO, enquanto Evan Seinfeld surpreendeu ao seguir carreira como actor, destacando-se na série Oz.
Mas o tempo, ao invés de os afastar, acabou por reacender a necessidade de regressarem às origens. E é precisamente isso que «Divided We Fall» oferece — um disco que soa como uma carta de amor à velha escola do crossover nova-iorquino, mas sem se limitar a reviver o passado. Do tema de abertura, «Fuck The System», percebe-se que os BIOHAZARD não estão aqui por nostalgia. Com um groove metálico cortante e uma raiva crua, o tema remete directamente para os anos 90, quando o hardcore e o thrash colidiam em estilhaços de energia pura.
A produção reforça esse regresso às raízes. Crua, directa e sem artifícios, faz com que os riffs de Hambel e as vocalizações alternadas de Graziadei e Seinfeld soem tão intensas quanto nos seus dias de glória. «Forsaken» e «Eyes On Six» eliminam qualquer vestígio de complacência, mergulhando de cabeça num ataque frontal que combina o peso do metal com a ferocidade do hardcore. O resultado é um som mais autêntico e visceral do que o de qualquer outro lançamento da banda nas últimas duas décadas.
No entanto, o que torna «Divided We Fall» especialmente relevante não é apenas a sua fidelidade ao ADN BIOHAZARD, mas como essa agressividade amadureceu. Há um peso emocional e uma consciência social que atravessam o disco — temas de resistência, identidade e desilusão que ganham nova força nas vozes de músicos que agora se aproximam dos 70 anos. «Death Of Me», com uma cadência ameaçadora, soa como um hino à autodestruição controlada; «S.I.T.F.O.A.» traz ecos do passado rapcore, mas sem cair em truques de estilo; e «I Will Overcome» ergue-se como um hino de superação, evocando o espírito de bandas como os HATEBREED, que tantas vezes reconheceram a influência dos nova-iorquinos.
Há, ainda, momentos em que a banda parece divertir-se a testar os limites do seu som. «Warriors», por exemplo, é puro combustível para o mosh pit — uma descarga de raiva e camaradagem que remete para os tempos em que os concertos dos BIOHAZARD eram sinónimo de caos físico e comunhão de rua. É um lembrete de que, por trás da brutalidade, sempre houve uma mensagem de união e de pertença — e de que este disco é também uma vitória de coerência.
Ao contrário de muitas reuniões de bandas históricas, «Divided We Fall» não soa um a tentativa de capitalizar memórias: soa a quatro músicos que, depois de décadas de estrada, decidiram voltar a tocar juntos porque ainda têm algo a dizer — e algo a provar. A química entre eles é palpável, e cada faixa transpira autenticidade. O impacto, previsivelmente, vai estender-se ao palco. As novas canções parecem pensadas exactamente para isso: feitas de grooves pesados, refrões gritados em uníssono e breakdowns que imploram por corpos em movimento.
Trinta e um anos depois do seu melhor álbum, «Divided We Fall» não só está à altura dessa herança como a expande. É o retracto de uma banda que envelheceu sem perder os dentes, que aprendeu a canalizar a experiência sem abdicar da agressividade. Em 2025, os nova-iorquinos BIOHAZARD não são apenas sobreviventes — são a prova viva de que o hardcore e o metal ainda podem andar de mãos dadas com convicção, suor e verdade. E o título diz mesmo tudo: divididos podiam bem cair, mas juntos, os BIOHAZARD voltaram a erguer-se.
















