Com alinhamento bem escolhido, execução sem mácula e uma forte interacção com o público, o guitarrista AXEL RUDI PELL provou, mais uma vez, porque continua a ser um nome de referência no hard rock e heavy metal na Alemanha, mesmo após décadas de carreira.
No passado dia 21 de Outubro, o alemão AXEL RUDI PELL subiu ao palco do Huxleys Neue Welt, em Berlim, para mais uma noite de puro hard rock e heavy metal. Apesar do frio que se fazia sentir na capital alemã, o público estava mais que pronto para uma noite cheia de clássicos e energia. O espectáculo contou ainda com as bandas de abertura Chuan-tzu e Fighter V, que prepararam o terreno para o aguardado cabeça-de-cartaz, embora com diferentes níveis de recepção por parte do público.
Os Chuan-tzu entraram em cena primeiro, com um som mais moderno e pesado, com influências de metal alternativo. No entanto, o público, em grande parte composto por velha guarda e fãs de sonoridades mais clássicas e melódicas, não lhes ligou nenhuma – zero de entusiasmo. A diferença de estilos tornou difícil uma ligação mais forte que não apenas de curiosidade, e muitos dos presentes acabaram por assistir de forma passiva, aguardando pelo restante alinhamento da noite.
Logo depois, subiram então ao palco os suíços Fighter V, com um som mais próximo do glam e hard rock dos anos 80, que, em teoria, tinha tudo para agradar ao público presente. No entanto, não foi uma noite particularmente inspirada para o vocalista Emmo Acar. Desde o início, Emmo mostrou dificuldades vocais evidentes, falhando em várias passagens. Talvez o frio de Berlim tenha sido um factor, ou talvez tenha sido apenas uma noite menos boa para o vocalista, mas o certo é que o desempenho vocal deixou muito a desejar.
Embora Acar tivesse os trejeitos e presença de palco de um verdadeiro frontman — do uso do suporte de microfone ao clássico cabelo “esvoaçante” —, a voz simplesmente não acompanhou essa energia visual. A banda passou por alguns percalços, partiu-se uma corda da guitarra durante «Speed Demon», mas, ainda assim, mantiveram o profissionalismo, com o guitarrista a trocar de instrumento perto do final da música. Não faltou o clássico «Here I Go Again», dos Whitesnake, que animou o público. A actuação encerrou com «Radio Tokyo», mas ficou no ar a sensação de que podia ter sido melhor.
Finalmente, chegou o momento mais aguardado da noite: AXEL RUDI PELL. A entrada foi triunfal, e, logo de início, ficou claro que a banda estava em plena forma. O som estava cristalino, e o jogo de luzes adicionou uma atmosfera envolvente à sala. «Forever Strong», «Wildest Dreams» e «Strong As A Rock» deram início à noite. Cedo se percebeu que, além da guitarra de Rudi Pell, a voz de Johnny Gioeli estava numa forma absolutamente incrível.
Um dos pontos mais altos, e emocionantes, da noite foi a interpretação de «Hallelujah», de Leonard Cohen, numa versão arrepiante executada apenas com Gioeli na voz e Fredy Doernberg nos teclados. Num registo bastante mais intimista contrastou com os momentos de energia intensa que dominariam o resto do espectáculo.
No entanto, e ainda assim, esse foi o momento em que se tornou óbvio: Gioeli, numa forma vocal invejável, pegou no tema de Cohen e deu-lhe uma profundidade de emoção que arrepiou, com a mesma entrega que pantou toda a actuação. Isto sim, um verdadeiro frontman, que, além de ser um vocalista impressionante, também é um comunicador nato. Entre canções, mostrou o seu lado descontraído e brincalhão, comentando com humor sobre as suas lesões nas costas e a quantidade de medicação que estava a tomar.
“Tenho mais drogas no meu corpo que os Rolling Stones“, brincou a dada altura, arrancando umas valentes gargalhadas ao público. Segundo o próprio, os médicos sugeriram que cancelasse as datas devido às dores, ao que Gioeli respondeu com um divertido “vai-te foder, com todo o respeito!”. E, convenhamos, é também este carisma e dedicação que podem fazer de um concerto de rock uma experiência memorável.
No entanto, todo o foco para Axel Rudi Pell, o músico que dá nome à banda, com «Mystica» a ser um dos momentos mais icónicos da noite, com o guitarrista a brilhar no seu solo. Numa amostra da proximidade com os fãs, o Sr. Rudi Pell desceu até ao fosso pra tocar junto ao público, criando um momento um pocuo mais intimista. A canção terminou com um solo de bateria, cortesia do lendário Bobby Rondinelli, que, a certa altura, impressionou ao tocar apenas com as mãos. Depois do solo, a banda voltou a palco para completar «Mystica», numa transição perfeita.
Outro dos momentos mais altos foi «Carousel», durante a qual Fredy Doernberg teve também o seu momento nos teclados, encantando o público com um solo brilhante. Mais tarde, Gioeli também desceu até ao fosso durante «The Line», indo até à barreira para interagir com os fãs, num gesto que mostrou uma vez mais o quanto a banda valoriza os seus seguidores e faz questão de lhes proporcionar uma experiência única. No posto, a versão de «Beautiful Day»,dos U2, era totalmente dispensável, mas, do mal o menos, porque foi tocada ao estilo de Axel Rudi Pell.
O medley «The Masquerade Ball / Casbah / Ankhaia» também foi tocado com mestria e, para o encore, ficaram as inevitáveis «Fool Fool» e «Rock The Nation», que fecharam uma actuação brilhante. No geral, acabou por ser uma noite de contrastes, com as bandas de abertura a não corresponderem totalmente às expectativas, mas com AXEL RUDI PELL a oferecer uma actuação que compensou qualquer desilusão inicial.