Com a mudança para o horário de verão, acaba por ser um pouco estranho chegar ao LAV – Lisboa Ao Vivo ainda com a luz do dia a brilhar, mas uma vez lá dentro nem se dá pela passagem para a noite. Infelizmente, foi com a sala ainda a dar para o despido que os suíços KASSOGTHA subiram ao palco, sendo que esse continua a ser um mal que assola um grande número de bandas de abertura em situação semelhante — neste caso, com a agravante de estarem a tocar ao mesmo tempo que a selecção nacional de futebol jogava. Isso pouco interessou ao quinteto de Genebra, no entanto, com os músicos a encararem a situação de frente e a demonstrarem a mesma entrega e energia que aplicariam se a sala estivesse esgotada. Com «rEvolve», editado em Novembro do ano passado, na bagagem, o alinhamento apresentado foi exclusivamente focado nesse material mais recente e a banda, que se auto rotula como death metal progressivo, foi bem competente. Destaque para a vocalista Stephany, a demonstrar segurança e pujança nas passagens entre linhas vocais berradas e melódicas. O último tema, intitulado «Complacency», acabou por ser o que conseguiu arrecadar o maior nível de interacção ao público, que continuava a chegar a conta gotas.
Após um rápido changeover, foi a vez dos VEIL OF MAYA subiram ao palco e a banda que, em início de carreira, estava mais ligada à cena deathcore, mostrou-se a percorrer caminhos definitivamente mais metalcore. Entre a dose certa de riffs rápidos e sincopados, versos berrados a culminar em refrões melódicos e muitas partes a convidar os presentes a saltarem, entregaram um alinhamento escorreito e sem momentos mortos. Houve, claro, vários circle pits, uma wall of death e muito headbanging à mistura. O vocalista teve ainda tempos para informar que o novo disco, «[M]other», já o sétimo da carreira do grupo, está prestes a ser editado, e a banda aproveitou para tocar algumas músicas novas. De registo, fica a ideia de que as malhas novas têm uma sonoridade mais mecânica e industrial.
E o que dizer dos AVATAR?! Munidos do novo «Dance Devil Dance», os músicos abriram o espectáculo com o tema que dá título ao álbum e, com um cenário cuidado e pensado ao mais ínfimo pormenor, tudo contou ao longo desta noite de entretenimento. Das luzes ao cenário, passando pelo guarda-roupa e até pela pirotecnia, tivemos direito a um espectáculo que deixou muitos fãs de boca aberta, com este vosso escriba incluído. Johannes, envergando o seu traje de ringmaster, munido de chapéu e bengala, até pode ter aberto a pista de dança no pit com o refrão de «The Eagle Has Landed», mas pensar numa actuação destes suecos como apenas um concerto é errado, porque aquilo que vimos foi muito mais do que isso. A forma como as músicas são encadeadas umas a seguir às outras, e como os elementos da banda se movimentam em palco, saindo e deixando Johannes a falar intimamente com o publico quando tem de ser e voltando quase sem se dar por eles, eleva definitivamente o espectáculo a um outro patamar. Depois, em termos sonoros, acaba por ser difícil descrever os AVATAR; death metal melódico pode ser uma tentativa, mas a forma como encaixam ritmos e passagens dançantes em várias músicas tornam-nos difíceis de catalogar de forma estanque.
A cereja no topo do bolo é, sem dúvida, a coesão que transparece do cenário. Todos os músicos sabem bem que lugar devem ocupar a cada momento e, por exemplo, a performance teatral do baterista, em modo marioneta, ajuda muito a perceber que estamos a presenciar um freak show. Johannes até bebe algo (será só água?!) de um jerrycan e não de uma garrafa normal, mostrando que todos os pormenores, por mais pequenos ou insignificantes que possam parecer, foram todos estudados meticulosamente para não “quebrarem” o personagem, Depois, a capacidade que demonstram para criar diferentes dinâmicas ao longo do set é verdadeiramente impressionante. Sim, às tantas ficamos sem saber o que irá acontecer a seguir (mesmo que já soubéssemos que músicas iam tocar) e isso deixa qualquer pessoa curiosa e atenta durante as quase duas horas de espetáculo. Pelo meio, até tivemos direito a um solo de trombone no meio do público e a uma pequena demonstração de como fazer um animal com um balão, sendo que antes de se começarem a ouvir as sirenes de «Colossus» surgiu, como por magia, uma bateria montada na frente do palco, que permitiu a John Alfredsson tocar em pé o groove demolidor de um dos temas mais cantados nesta noite. Fosse pela emoção ou pelo brilho das luzes, a verdade é que até o discurso de Johannes, que agradeceu aos presentes por terem vindo e dizendo que sem o público não poderiam fazer o que fazem, soou sincero e sentido. Como todas as coisas boas acabam mais tarde ou mais cedo, o espectáculo do “circo” AVATAR chegou ao fim ao som de «Smells Like A Freak Show» e «Hail The Apocalypse», ficando no ar a clara sensação que presenciámos algo realmente especial e não apenas mais um concerto.