Autopsy @ SWR FEAST, Barroselas | 30.04.2022 [reportagem]

E o festival continuou a acontecer! Parafraseando o nosso caro Emanuel na sua análise de ontem ao concerto dos headliners do primeiro dia, os polacos Mgła, o SWR sobrevive de forma estóica. Seja Feast ou Fest, seja com mais ou menos bandas, seja com palcos maiores ou mais pequenos, seja enfiados no SWR Café ou até mais à vontade do que seria de prever, apesar da afluência considerável, na arejada SWR Arena, o que interessa é que o espírito estava lá todinho. Não interessa se foram “só” dois dias e dezasseis bandas, num evento que até já chegou a ter cinco dias e para ai seis milhões de bandas (lembram-se desse ano?), os sorrisos gerais, os reencontros e a noção clara de que sim, foi possível voltar ao “normal”, esses sim foram os principais headliners do SWR Feast. Bom, esses e os Autopsy, claro. Um dos nomes de maior dimensão histórica que alguma vez pisaram o veterano festival nortenho, o peso-pesado que restou da primeira linha do cartaz original de 2020 (os Revenge, os Terrorizer e os Anvil ficam para outra vez – agora temos tempo, temos mesmo), eram a grande atracção de todo o fim-de-semana, e comprovaram-no ao dar, também, o melhor concerto dos dois dias. Apesar da associação ao death metal, a unanimidade gerada pelos californianos é quase enternecedora. Thrashers, punks, malta com corpsepaint, músicos de outras bandas (o Daniel “Sergeant” Salsten dos Deathhammer andava doido!), pessoal da organização, o grosso da redacção da LOUD!, miúdos (literalmente – viram a criança para aí de doze anos a tentar fazer stagedive do lado esquerdo do palco?), “velhotes”, e tudo o mais pelo meio, estava tudo de olhos a brilhar em direcção ao palco quando o grande Chris Reifert (num hilariante zombie walk em direcção ao seu “trono” por trás da bateria), Eric Cutler, Danny Coralles e o recém-adicionado baixista Greg Wilkinson apareceram e se prepararam para o ataque. E que ataque – para não deixar dúvidas nenhumas logo desde o primeiro momento, a abertura enfiou-nos logo com a «In The Grip Of Winter» pelas ventas abaixo. Parece que houve um gajo qualquer que disse recentemente que o riff principal desse tema é o seu favorito, pois bem, instant gratification! Impressionante também o nível avassalador demonstrado desde esse primeiro segundo pelo quarteto – sem hesitações, sem períodos de adaptação, sem vestígio daquele habitual primeiro tema meio ao lado enquanto a coisa vai ao sítio. Não, desde a primeira nota que os veteranos de Oakland mostraram uma coesão assinalável – aliás, esta pode ter sido uma das alturas mais ideais de todo percurso meio errático da banda para muitos se estrearem a ver, finalmente, os Autopsy ao vivo (como seria o caso de boa parte da plateia), já que o mencionado Greg Wilkinson, produtor de renome, engenheiro de som e integrante de várias bandas de qualidade superlativa, parece funcionar como uma cola de qualidade para agregar ainda mais os três fundadores à volta daquele som de podridão abrutalhada. Pelo meio, o Reifert show foi acontecendo, não só em termos de performance percussiva (aquele som único, que parece que está às mocadas à tampa de um caixão) e vocal (o melhor ugh! desde o tio Tom G.), mas também entre temas – raramente fomos brindados com tamanha lição de carisma e total domínio de um público por um tipo que está sentado atrás de uma bateria e do qual só se vai vendo a cabecita de vez em quando. Mandando bocas a torto e a direito, fazendo de Bruce Dickinson (que, segundo Reifert, se deve ter “cagado todo” na altura em que pusemos o festival todo a imitá-lo) ou Dee Snider, promovendo concursos espontâneos (o primeiro que se esventrar e atirar os intestinos para cima do palco ganha uma t-shirt grátis – while supplies last, claro! -, estranhamente ninguém quis participar) e apresentando o semi-novo baixista com pompa e circunstância com uma música de antecedência (porque era para ter sido antes da «Twisted Mass Of Burnt Decay» por causa da piada do solo de baixo, mas essa afinal era só a seguir!), dá a sensação que para a próxima podíamos arranjar mais uma horinha com um stand up do bom do Chris. Afinal, ele até se dá com o comediante Dave Hill nos Painted Doll, alguma coisa há-de já ter apanhado. E pronto, foi isto. Com um alinhamento que, ainda que sempre alicerçado no imortal «Mental Funeral», acabou por nos dar o melhor das várias fases Autopsianas, tivemos uma hora e tal daquelas que vão ficar na história do festival como um dos seus melhores momentos. Felizmente, um panteão já bem preenchido, e longe de estar fechado.

ALINHAMENTO:
«In The Grip Of Winter»; «Embalmed»; «Severed Survival»; «Gasping For Air»; «Voices«; «Destined To Fester»; «Disembowel»; «Ridden With Disease»; «Arch Cadaver»; «Fleshcrawl»; «Torn From The Womb»; «Twisted Mass Of Burnt Decay»; «Service For A Vacant Coffin»; «Dead»; «Burial»; «Charred Remains»; «Critical Madness»; «Fuck You»


Fotos: Estefânia Silva