“GO!” — o álbum definitivo dos AT THE GATES, aquele que ajudou a solidificar as regras do death metal melódico, faz hoje anos.
Parece impossível, mas já foi há um quarto de século que os AT THE GATES lançaram o «Slaughter Of The Soul». Corria o mês de Maio de 1995, quando a banda entrou no estúdio Fredman, em Gotemburgo, na Suécia, para gravar aquele que seria o seu quarto — e derradeiro, durante mais de uma década de separação, álbum de longa-duração. No ano antes tinham lançado o «Terminal Spirit Disease», uma espécie de EP glorificado a álbum, incluindo seis temas originais captados em estúdio e três antigos gravados ao vivo, e estavam prontos para dar o próximo passo.
Sem que ninguém o pudesse prever, o «Slaughter Of The Soul» transformar-se-ia no álbum de death metal mais influente da década seguinte. Na Europa e nos Estados Unidos, o vídeo-clip da «Blinded By Fear» entrou subitamente na rotação do Headbanger’s Ball, da MTV (numa altura em que essas iniciais ainda significavam Music TeleVision ) e deixou muito boa gente de queixo caído.
Os headbangers caminharam para as lojas de discos, mas não em massa, e a infuência deste que foi o quatro disco dos AT THE GATES só seria completamente apurada uns anos mais tarde, quando bandas como os KILLSWITCH ENGAGE (e tantas outras saídas de metalcore) começaram a incorporar o que ficou posteriormente conhecido como o “som de Gotemburgo” nos seus respectivos modelos sónicos.
O grito imortal do vocalista Tomas “Tompa” Lindberg — “GO!” —, nos segundos iniciais do tema-título do «Slaughter Of The Soul», tinha-se tornado um grito de guerra para toda uma geração de futuros heróis do hardcore e mercenários do metal.
Editado a 14 de Novembro de 1995 pela Earache Records, o quarto álbum do colectivo então formado por– como, de novo, actualmente — Tomas Lindberg na voz, Anders Björler e Martin Larsson nas guitarras, Jonas Björler no baixo e Adrian Erlandsson na bateria foi lançado há 27 anos. Foi produzido e gravado por Fredrik Nordström nos famosos estúdios Fredman, em Gotemburgo, na Suécia, e conta com uma participação muito especial de Andy LaRocque, o guitarrista de KING DIAMOND, no tema «Cold».
Tudo pormenores que elevam o disco a um patamar superior e que espelham bem a evolução sofrida pelos AT THE GATES até aqui. Nos dois álbuns anteriores, «The Red In The Sky Is Ours» e «With Fear I Kiss The Burning Darkness», o colectivo a atirar-se de cabeça a uma visão muitíssimo experimental da composição metal, com riffs caóticos e técnicos que, pesem todos os seus méritos, se revelaram uma audição menos imediata para muitos fãs do género (especialmente aqueles que descobriram a banda mais tarde).
O «Terminal Spirit Disease» já tinha mostrado que a banda estava a avançar num nova direcção, que era tão melódica como antes, mas apoiada em sequências de acordes mais convencionais. No final, aqueles seis temas apresentados no EP de 1994 já pendiam para estruturas mais próximas do verso-refrão-verso, denotando uma influência do thrash clássica bastante mais vincada.
Agora sabemos que a «The Swarm», do EP «Terminal Spirit Disease», era o mais próximo que soariam como o «Slaughter Of The Soul» antes de 1995. No entanto, nada nos poderia ter preparado para o que vinha a seguir.
Construído a partir da abordagem mais directa e linear, consequentemente menos bizarra, que adoptaram depois do abandono de Alf Svensson, o «Slaughter Of The Soul» ajudou a solidificar as regras básicas do death metal melódico que a Suécia andava a exportar em catadupa em meados dos anos 90.
Com as vozes gritadas, os riffs cortantes e os ritmos frenéticos compensados por melodias sombrias, ganchos esmagadores, harmonias contagiantes e arranjos mais simples, os AT THE GATES — a par dos In Flames e Dark Tranquillity — tornaram o estilo mais fácil de assimilar, afastando-se de forma quase radical da obsessão com a ultra-brutalidade técnica que, na altura, começava a dominar muito do death metal naquela época.
Abrindo com os sons industriais e a instrumentação insanamente rápida da (já intemporal) «Blinded By Fear», os músicos não precisam de muito tempo para nos mostrar que estes temas são feitos de heavy metal clássico levado ao extremo, condimentado por uma dose de groove colossal, a que ninguém que gosta de abanar a cabeça consegue resistir por muito que tente.
Vai daí, o «Slaughter Of The Soul» afirma-se como uma muitíssimo inteligente mistura de melodias influenciadas pela NWOBHM, um groove irresistível, intensidade ao estilo dos Slayer, uma filosofia de manter tudo “no ponto directo ao assunto”, aquele uivo sofrido do Lindberg e uma dose saudável de magia única, das que só acontecem um ou duas vezes na vida – são esses os ingredientes secretos para o sucesso destes onze temas.
Infelizmente, durante os sete meses consecutivos de digressões que se seguiram ao lançamento do disco, o quarteto acabou mesmo por sucumbir ao cansaço e à pressão, implodindo na estrada.
Na década que se seguiu, enquanto a influência do último álbum que gravaram continuava a germinar no underground, reza a lenda que nunca ponderaram sequer regressar. O bom do “Tompa” chegou-se à frente para liderar uma série de projectos de qualidade superior, entre os quais se contam os The Great Deceiver, Disfear, Skistystem, Lock Up, The Crown e Nightrage).
Os irmãos Anders e Jonas Björler formaram os The Haunted com o baterista Adrian Erlandsson, que a data altura também passou pelos Cradle Of Filth e Paradise Lost, e o Martin Larsson manteve-se activo numa série de projectos como Agrimonia e Bombs Of Hades. Provando que o melhor é nunca dizer nunca, a formação do «Slaughter Of The Soul» voltaria a reunir-se mais de uma década depois, em 2007, e o regresso foi celebrado de forma efusiva nos maiores festivais europeus do ano seguinte.
Anunciando inicialmente que não iriam gravar um novo álbum, a resposta extremamente positiva dos fãs aos espectáculos acabou mesmo por inspirar a escrita de novo material, que daria origem ao quinto álbum dos AT THE GATES, «At War With Reality», que seria editado no final de 2014. Desde então, apesar de alguns acertos de formação, não mais pararam de tocar ao vivo ou de gravar, fazendo uma segunda vida que já os viu gravarem mais dois álbuns, «To Drink From The Night Itself» e «The Nightmare Of Being», de 2018 e 2021, respectivamente.