O rock e o heavy metal há muito que entraram no século XXI e mudaram a sua face, mas infelizmente muitos tardam em se aperceber disso. Com o saudável ascender de nomes femininos no meio musical, já vai longe o tempo das groupies que eram usadas pelas crews, ou das jornalistas que sonhavam namorar com um rockstar. Sinal dos tempos, da igualdade de género e também do movimento #metoo, começam aqui e ali a despontar denúncias de situações inapropriadas ocorridas ao longo dos anos. Tratam-se de casos fundamentados e não meras tentativas de conseguir a luz da ribalta, ou arrependimentos após uma noite festiva.
Neste mês de Setembro, que agora termina, foram notícia dois casos exemplares do que tem de mudar e das consequências que gestos desadequados podem ter. O primeiro envolveu o fundador da Holy Roar Records, editora britânica e casa de nomes como OHHMS ou ROLO TOMASSI. Alex Fitzpatrick, fundador e dono do selo britânico, foi acusado de condutas sexuais impróprias e mesmo de violação. As acusações, feitas via Instagram por duas pessoas diferentes levaram a que todos os funcionários da editora se despedissem em bloco, assim como a totalidade das bandas. Desconhece-se ainda o resultado global do sucedido, mas claramente que os gestos inadequados de uma pessoa acabaram por prejudicar carreiras e, eventualmente, no actual cenário de pandemia, podem mesmo levar ao término de algumas bandas do catálogo.
O mais recente escândalo, ainda com reacções a decorrer, está ligado a John Finberg, booking agent, através da First Row, de nomes como NIGHTWISH, EPICA, AMORPHIS, WARBRINGER, SUFFOCATION, IMMOLATION, SONATA ARCTICA, OVERKILL e THE AGONIST. Finberg está neste momento a ser acusado de molestar mulheres, insinuando-se e fazendo promessas de bons contratos no meio. Alguém já classificou a atitude de Finberg como um dos segredos mais mal guardados do meio, além de, como booking agent, ser uma pessoa prepotente e adepto de severas atitudes de bullying. O resultado imediato passou por diversas bandas terem cessado a sua ligação com a agência de Finberg. Desta forma, durante o dia de ontem sucederam-se os comunicados de diversos nomes como AMORPHIS, DELAIN, NIGHTWISH, BATTLE BEAST ou SWALLOW THE SUN, anunciando distanciarem-se do agente.
Na verdade, isto são só sinais bastante óbvios de que há uma nova realidade no universo da música pesada, que apenas peca por tardia. Lá fora, como cá dentro, talvez fosse o momento de músicos e agentes repensarem as suas posições e perceberem que, para lá das vítimas, também podem prejudicar seriamente as carreiras dos artistas que supostamente devem defender.