ASOMVEL

ASOMVEL: “O que fazemos não é retro, é o aqui e o agora.” [entrevista]

Para os ASOMVEL, não há meias-palavras. Se não gostas deles, “fuck you” — e não se ficam por aí, estendendo a mensagem a toda a família e amigos de quem ouse criticá-los. Esta agressividade crua e sem remorsos é o combustível que move a banda britânica, que actua amanhã, sexta-feira, 14 de Fevereiro, no Cineatro Capitólio, em Lisboa, como apoio aos AIRBOURNE.

Os ASOMVEL não são uma banda que se apresente com suavidade ou cerimónia. Quando sobem ao palco, é como se brandissem um taco de baseball, esmagando os sentidos da plateia sem piedade e retirando-se com um desdém quase teatral, deixando a audiência a recuperar o fôlego. Com uma atitude impiedosa, marcada por um odor metálico de couro, cerveja, óleo de motor e Brut 33, estes músicos rejeitam a complacência e desafiam o status quo do metal contemporâneo. A missão é simples: tocar cada vez mais alto, numa cruzada destrutiva contra o que consideram ser a decadência hipster e o brilho artificial que poluem o género.

Formados em 1993, os ASOMVEL só lançaram o seu álbum de estreia em 2009, mas «Kamikaze» conquistou de imediato respeito no underground graças à sua agressividade pura e autenticidade inegável. Infelizmente, apenas um ano depois, o futuro da banda foi abalado por uma tragédia profunda: a morte de Jay-Jay Winter, o carismático frontman do grupo, num acidente de viação.A recuperar de um golpe emocional profundo, o guitarrista e co-fundador Lenny Robinson recusou-se a deixar que a chama dos ASOMVEL se extinguisse.

Decidido a honrar o espírito indomável de Winter, Ralph manteve o rumo da banda, determinado a continuar a missão que haviam iniciado juntos. A solução foi encontrada dentro da própria família com o seu filho, Ralph, a assumir a voz, trazendo um vigor renovado e mantendo intacta a essência agressiva e desafiadora que sempre definiu os ASOMVEL. A banda renasceu com «World Shaker», recebido com entusiasmo pela crítica e pelos fãs, provando que a banda não só tinha sobrevivido à tragédia como também emergira mais forte e determinada. A sonoridade permaneceu fiel às raízes do heavy metal cru e enérgico, com riffs poderosos e uma atitude punk que desafia convenções.

O sucesso catapultou então os ASOMVEL para os palcos internacionais. A banda embarcou numa digressão global, tocando na América do Sul, Japão e Europa, conquistando audiências com uma presença de palco avassaladora. Participaram em festivais de renome e acompanharam artistas consagrados em longas tours, solidificando a reputação como uma das propostas mais autênticas e vigorosas do metal contemporâneo. Não satisfeitos, em Março do ano passado, os endiabrados ASOMVEL lançaram «Born To Rock ‘n’ Roll», um álbum que representa o culminar de anos de luta, persistência e evolução sonora.

Estão a preparar-se para os concertos que aí vêm?
Ralph Robinson: Bem, nós estamos a tentar, mas… Tipos como tu estão sempre a chatear-nos com estas entrevistas, por isso não temos conseguido fazer nada de jeito. [risos] Não, a sério… Estamos a preparar-nos para a digressão. claro. Há muita coisa envolvida, como temos vindo a descobrir, por isso há muito trabalho a fazer. Esta é a maior digressão que já fizemos.

Que tipo de expectativas têm para estas datas?
Ralph: A digressão vai durar dois meses, por isso… Vai ser uma loucura, meu amigo. Não sabemos bem o que esperar, mas vamos ver o que acontece. Na minha cabeça, durante os últimos dez anos, é como se… Isto era um sonho do caraças, sabes? Depois agarrámos o sonho e ando a visualizá-lo uma e outra vez. Passei anos a acreditar ilusoriamente que um dia isto seria real. E agora é! O facto de estarmos aqui sentados agora, a falar sobre isso… Ninguém me pode dizer ‘oh, cala-te, isso nunca vai acontecer’. Não, porque está a acontecer, porra. Sim, estou entusiasmado, como podes perceber. [risos].

Sentem que todo o trabalho árduo está finalmente a dar frutos?
Stel Robinson: Trabalho árduo?!? Nos ASOMVEL ninguém trabalha no duro, eles só tocam guitarra e pronto. Não é como se tivessem um emprego a sério. [risos]

Fora de brincadeiras, deve ser bom fazerem coisas maiores depois de tanto tempo.
Lenny Robinson: Alguns de nós andam a fazer isto há 30 anos, portanto… Claro que é fixe perceber que o interesse nos ASOMVEL está a crescer um bocadinho.

Vão tocar em muitos países onde nunca estiveram antes?
Ralph: Nestes últimos quatro ou cinco anos, temos ido tocar a sítios onde nunca tínhamos estado. Fomos à Irlanda, a Tóquio, no Japão. Temos saido do Reino Unido com mais frequência, mas nos próximos meses vamos tocar em alguns países onde ainda não estivemos. Vai ser fixe ver como o público reage às nossas canções e tudo o mais.

Lenny: Verdade seja dita, na maioria das vezes nem sabemos bem onde estamos… Esquecemo-nos. Dizemos algo tipo “Boa noite, Itália!!! Nós somos os ASOMVEL!!!”, e estamos na Suécia ou assim.

É especial para vocês tocarem em países onde nunca estiveram?
Ralph: Claro! Fomos à Suécia no ano passado e tocámos num festival chamado… Muscle Rock? Bem, aparecemos por lá e, na fila da frente, havia alguns fãs com cartazes a dizer “bem-vindos à Suécia”. Foi muito especial, e é sempre assim quando aparecemos num sítio e eles estão à espera há muito tempo para nos verem. Sentimos aquele burburinho inicial e a excitação de “caramba, eles finalmente conseguiram”. Nós sentimos isso, claro.

Lenny: A verdade é que passámos muitos anos a tocar para pessoas que não queriam ouvir, porque estávamos a tocar o tipo de música errado, na era errada. Já tocávamos heavy metal nos anos 80, e sempre gostámos de tocar este tipo de música. Sempre pensámos que, um dia, as pessoas iam ver os méritos do que fazemos. Quando estamos a tocar para um punhado de pessoas e, de repente, as coisas começam a crescer, é tipo… “uau, estas pessoas gostam mesmo disto. Já não somos uma piada”. Temos todo o tempo do mundo para as pessoas que gostam deste tipo de música, ainda mais porque estivemos tanto tempo a mijar ao vento.

O rock’n’roll e o heavy metal mais tradicional sempre foram muito grandes na Suécia. Eles nunca o deixaram morrer, como aconteceu em alguns outros países.
Ralph: Bem, essa experiência com os ASOMVEL na Suécia foi verdadeiramente surreal. Chegámos ao festival e toda a gente estava vestida da mesma forma que nós. Cintos de balas, botas de cowboy, cabelo comprido. E era assim nos anos 80. As coisas saem de moda, não é? As pessoas mudam e pensam que fazem algo melhor, mas porquê mudar algo que é tão bom? Para nós, o que fazemos não é retro. É o aqui e o agora. Nós nunca mudamos.

Confesso que sempre gostei de olhar para o e para o heavy metal como tendências intemporais.
Ralph: É boa música, meu. E nunca vai morrer.

Lenny: O que se passou foi que, a dada altura, as pessoas queriam ser mais radicais. O heavy metal já não era suficientemente pesado para elas, por isso queriam algo bastante mais extremo, mas transformaram-no noutra coisa e decidiram que o verdadeiro heavy metal era ‘passé’. Apareceram os grunhidos, e o hair metal desapareceu. Ficou tudo muito mais extremo e, depois, transformou-se no que quer que seja hoje, acerca do qual não entendo o suficiente para falar disso.

Também não me interessa, na verdade. Só nos interessa aquilo de que gostamos, e o que fazemos com os ASOMVEL. Quando chegámos à Suécia, foi refrescante ver toda a gente a andar por ali com o mesmo aspecto que nós e com a mesma perspectiva. Foi como estar de volta aos anos 80 no Reino Unido, onde se andava na rua e toda a gente tinha um casaco de cabedal e um cinto de balas.

Acham que, nesse aspecto, as coisas estão a melhorar no Reino Unido?
Lenny: Não, de todo.

Ralph: A verdade é que, como o meu pai disse, não queremos saber disso. Sabemos que estamos a fazer algo que é bom e isso é o fundamental. Acho que, enquanto estivermos a fazer isso, a palavra vai espalhar-se e a banda vai crescer, independentemente do que as outras pessoas estiverem a fazer. Na verdade, nunca nos preocupámos com o que se estava a passar à nossa volta, por isso também não vamos começar agora.

O que é que vos atraiu para esses sons tradicionais e, como disseram, “fora de moda”?
Ralph: Bem, os ASOMVEL foram iniciados pelo meu tio [NR: o falecido Jay-Jay Winter, RIP], juntamente com o meu pai. Portanto, eu fui criado com isto tudo… Ou, se preferirem, eles fizeram-me uma lavagem cerebral desde pequeno. [risos] Lembro-me deles a ensaiarem no sótão da casa que tínhamos quando nasci. Estava deitado no berço a ouvir a banda em que estou actualmente.

Basicamente, fomos criados a ouvir rock’n’roll. Portanto, isto funciona mais como uma continuação do que uma tentativa deliberada de retrocesso… Se fosse, provavelmente, dava para perceber. Eu não cresci a tocar pop-punk ou post-hardcore ou qualquer outra merda desse género e, depois, decidi que isto seria divertido. É a única coisa que sou capaz de fazer e o mesmo se aplica ao resto da banda.

É curioso porque, nessa altura, a imprensa britânica andava perdida de amores pelo nu-metal.
Ralph: Sim, esse era, definitivamente, o som que estava na moda naquela altura.

Lenny: Eu lembro-me bem de quando a Kerrang! era mesmo a Kerrang!; tinham o Angus Yong na capa, o Lemmy, os Scorpions, os Saxon. Abria-se a revista e estava cheia de bandas de heavy metal. Para ser muito sincero, não sei bem o que se está a passar hoje em dia, mas não vejo razão para mudar quando algo é tão bom.

Ralph: Acho que as coisas estão a melhorar um pouco. Este tipo de som está a voltar em muitos sítios. O que é frustrante é que toda a gente nos acusa de sermos retrógrados ou imitadores ou algo desse género. Como se o que fazemos fosse um retrocesso, sabes? Mas quando é tudo o que sempre estiveste interessado em fazer e nunca vacilaste ou mudaste, é um pouco insultuoso.

Nesta digressão, vão tocar também em Portugal…
Ralph: Acho que vamos começar na Alemanha e chegamos a Portugal no dia… 14?! Estou a ficar louco? [risos] O Lenny já tocou em Portugal, quando o meu tio ainda estava na banda.

Lenny: Lembro-me que comi um peixe horrível, parecia que tinha acabado de ser tirado do mar.

Fora isso, o que é que podemos esperar do vosso concerto?
Lenny: Somos a única banda de apoio na digressão, por isso deve ser bastante consistente todas as noites. Somos só nós e, depois, os Airbourne.

Ralph: Nós tínhamos um alinhamento que já andávamos a tocar há algum tempo e que tem todos o nossos temas mais orelhudos. No entanto, o Lenny disse que podíamos fazer algo um bocadinho mais louco, mais feroz, talvez mesmo um pouco ultrajante. Fizemos alguns ajustes e, agora, temos o alinhamento num ponto em que estamos todos muito felizes com os temas que vamos tocar. São 45 minutos de puro inferno, cortesia dos ASOMVEL. O Ryan está sempre a dar-lhe no pedal-duplo.

Lenny: Vamos tocar com os Airbourne na porra da digressão dos Airbourne. Actualmente, eles são a melhor banda de rock’n’roll do planeta. Eles tocam banger após banger, por isso vamos mesmo ter de dar o litro.

Ryan Thackwray: Vais-te cagar todo, meu. O melhor que tens a fazer é levares um par de cuecas extra para te trocares depois de tocarmos e, provavelmente, outro par de reserva para quando os Airbourne estiverem a tocar. [risos]