Agressões, pornografia infantil e controlo psicológico. Uma longa entrevista a Dany Ciara, a ex-mulher de Tim Lambesis, reacende a polémica em torno do líder dos AS I LAY DYING, numa altura em que o músico tenta relançar a banda com uma nova formação e um novo álbum no horizonte
A vida pessoal de Tim Lambesis, vocalista dos AS I LAY DYING, voltou a ocupar o centro do debate público depois de Dany Ciara, a sua ex-mulher, ter participado num episódio de quase quatro horas do podcast BREWtally Speaking, onde descreveu de forma detalhada aquilo que define como um casamento marcado por manipulação psicológica, violência física e episódios recorrentes de infidelidade.
As declarações motivaram uma resposta directa do líder dos AS I LAY DYING, que recorreu às suas redes sociais para comentar o caso, defendendo-se das acusações e sublinhando que prefere concentrar-se na música. Note-se que esra entrevista surge num contexto particularmente sensível. No Outono de 2024, os problemas conjugais de Tim Lambesis tornaram-se públicos e estiveram no centro da debandada total da então formação dos AS I LAY DYING, poucos dias antes do lançamento de um novo álbum.
Phil Sgrosso, o último membro remanescente da era clássica da banda, acabaria também por abandonar os AS I LAY DYING. Depois, em Novembro de 2024, vieram a público vídeos que mostravam o cantor envolvido num confronto perturbador com a então esposa. Em Janeiro deste ano, novas imagens circularam online, desta vez mostrando Lambesis a maltratar um cão, intensificando ainda mais a controvérsia. Nessa altura, o músico norte-americano declarou ter avançado com um pedido de divórcio e uma ordem de restrição, acusando Dany Ciara de um padrão continuado de abuso verbal e psicológico.
Na nova entrevista conduzido por Jon Beatty, Dany Ciara descreve o início da relação como tendo sido muito rápido e intensamente emocional, começando através de conversas no Instagram e culminando num casamento relâmpago em Las Vegas. “Sentia-me nas nuvens, como se tudo fosse perfeito demais para ser verdade — e acabou por ser mesmo assim”, afirmou, numa reflexão que estabelece o tom para o que se seguiria. Segundo o seu relato, cerca de seis meses após o casamento descobriu alegadas traições por parte de Lambesis, momento que identifica como o ponto de ruptura definitiva da relação.
A partir daí, a ex-mulher do vocalista dos AS I LAY DYING descreve um ambiente doméstico tóxico e tão opressivo quanto se possa imaginar, marcado por vigilância constante e gravações de diversos conflitos que, segundo ela, eram depois editadas de forma selectiva para a incriminar. “O Tim empurrou-me e tirou-me o telefone. Gravou o vídeo e retirou o áudio, para que não se ouvisse que eu estava a gritar por saber que ele me estava a trair. Sem contexto, parecia apenas uma pessoa completamente descontrolada”, explicou.
Um dos momentos mais delicados desta conversa prende-se com as acusações de que Dany CIara teria perseguido o mentor dos AS I LAY DYING com uma faca dentro de casa. A ex-mulher do músico não nega esse episódio, mas enquadra-o agora como uma reacção de autodefesa perante o que descreve como agressões físicas repetidas.
“Admito que puxei de uma faca mais do que uma vez. Havia sinais claros de quando a situação ia escalar e tornar-se física. Começava com ele a imobilizar-me, a colocar o peso do corpo em cima de mim, o que me impedia de respirar”, relatou, acrescentando que a presença de antigos conhecidos de Lambesis do período em que esteve preso fazia com que se sentisse sem qualquer apoio ou protecção.
Segundo Dany Ciara, o uso da faca nunca teve como objectivo ferir, mas sim criar distância. “Posso dizer honestamente que a única razão pela qual alguma vez puxei de uma faca foi para o manter afastado de mim. Se alguém ouvir o áudio desses vídeos, vai ouvir-me a dizer repetidamente ‘afasta-te de mim’”, disse ela, defendendo o direito à legítima defesa e criticando o que considera ser uma narrativa construída sem contexto.
Ao longo do podcast, Dany abordou ainda alegados episódios recorrentes de infidelidade, a existência de pornografia infantil gerada por inteligência artificial que diz ter encontrado no telefone do timoneiro dos AS I LAY DYING, bem como múltiplas intervenções policiais na residência do casal. CIara mostrou registos dessas ocorrências e fotografias de nódoas negras que afirma terem resultado dessas agressões, além de mensagens trocadas entre ambos relativas a uma detenção inicial de Lambesis por suspeita de agressão.
Um dos episódios mais reveladores do relato remonta ao início da relação, quando Dany diz ter escrito uma carta ao procurador distrital para pedir o arquivamento de um processo por agressão, temendo que tal prejudicasse a carreira do músico. “Estava tão desesperada por proteger a relação e essa mentira que cheguei ao ponto de aceitar ser detida para parecer a pessoa instável. Foi assim que acabei por ser vista como a agressora”, explicou, sublinhando que possui mensagens que corroboram essa versão.
Perante a repercussão desta entrevista, Tim Lambesis reagiu através de um comunicado publicado no Instagram, adoptando um tom contido, mas firme. “Mantive-me em silêncio sobre a minha vida pessoal porque não é relevante para o trabalho. Falo agora apenas porque o mesmo padrão continua a repetir-se: histórias antigas ressurgem sempre que a minha vida e a minha carreira avançam”, escreveu. O vocalista dos AS I LAY DYING acrescentou que não está interessado em drama e que, para si, “a música vale por si mesma, ou não vale”.
Lambesis defendeu ainda que o contexto é frequentemente omitido em narrativas públicas e recordou que já foi responsabilizado judicialmente pelo seu passado há mais de uma década. “Desde então, a minha vida tem sido pública e escrutinada. Se algo ilegal tivesse acontecido nos anos seguintes, teria sido tratado pelas vias apropriadas”, afirmou, traçando paralelos com casos semelhantes no meio artístico e sugerindo que certas acusações surgem em momentos de maior visibilidade mediática.
O comunicado termina com uma nota de encerramento claro: “Isto acabou. É tempo de seguir em frente. Vou voltar a fazer música. Tenho um álbum para terminar antes da próxima digressão”. Nos comentários, reforçou a ideia de que “as narrativas online nem sempre reflectem a realidade”.
Como é do conhecimento geral, apesar da controvérsia, Tim Lambesis avançou com uma nova formação dos AS I LAY DYING, procurando retomar a actividade da banda. O grupo tem actualmente prevista uma digressão pela Rússia em Março de 2026, marcando o primeiro grande passo público desta nova fase da sua carreira, numa altura em que a separação entre vida pessoal e obra artística volta uma vez mais a ser objecto de intenso debate no universo do metal.











