Noite de thrash metal. Há quanto tempo não dizíamos algo assim? Há quanto tempo não vivíamos nada assim. Poderá parecer uma estranha forma de nostalgia esta de falarmos desta forma mas afinal dois anos de silêncio (não total mas ainda assim silêncio) em cima dos palcos e com uma incerteza em relação ao futuro torna tudo em perspectiva. Mais especial ainda por ser uma das mais clássicas bandas de thrash metal europeu que nos visita, os ARTILLERY. Como tornar ainda mais especial? Rodeá-la com duas bandas de thrash nacional old school que de um modo geral estiveram muito bem.
A começar, os ALPHA WARHEAD, naquela que foi a sua primeira actuação. As estreias acarretam sempre uma boa dose de responsabilidade e também nervosismo. Apesar disso até ter sido algo visível mas o que ficou para a posteridade foi mesmo uma jovem banda com uma paixão inegável (e verdadeiramente genuína) pelo thrash metal tradicional. Bons níveis técnicos, boa troca de solos entre Diogo Pereira (vocalista/guitarrista) e Diogo Garcia, um baixo forte (que até se aventurou num solo de baixo pa preencher o tempo do alinhamento e uma batida sólida com temas que não trazendo nada de novo, é mesmo daquilo que o público que não aprecia a modernização do estilo procura. Encontrou em todo o seu esplendor. Boa actuação que terminou com a clássica «Troops Of Doom» dos Sepultura. Sangue novo e de boa qualidade é sempre bem vindo.
Os THRASHWALL são um pouco mais veteranos (com membros e ex-membros de bandas como Toxikull e Mindtaker) mas o mote é o mesmo, thrash metal old school e aqui com uma pitada mais crossover. A banda lançou o seu álbum de estreia homónimo em plena pandemia e apenas agora, quase dois anos depois, o tem conseguido apresentar ao vivo. Acabaram por tocá-lo na íntegra numa actuação sólida tecnicamente que só pecou pelas intervenções algo alongadas por parte do vocalista Luís Rodrigues que quebraram o andamento elevado que os temas naturalmente impõem. De qualquer forma, a animação não faltou (com o vocalista a embarcar com gosto em stage divings e circle pits) e no fundo é isso que se pede a uma banda de abertura, tendo sido a missão cumprida na perfeição com temas como «Old Jail», «World Domination» (dedicada ao que se passa no leste da Europa) e «Mosh In The Wall» rebaptizada naquela noite como «Mosh In The RCA». Totalmente apropriado.
Com o avançar da noite, o RCA Club foi-se enchendo e compondo para receber os ARTILLERY que vinham mostrar o seu novo álbum «X» (novo, como quem diz, de 2021), finalmente após alguns contratempos de datas canceladas/adiadas em Portugal. O fulgor da banda é impressionante – e para isso nem é preciso andar aos saltos de um lado para o outro constantemente. Simplesmente saber estar em palco e tocar com a alma toda – e nesta categoria insere-se o veterano guitarrista Michael Stützer. Também ajudou e muito a presença de palco do vocalista Michael Bastholm Dahl, que poderá estar na banda apenas há uma década mas que é um excelente comunicador além de ser o equilíbrio quase perfeito entre a agressividade e melodia em termos vocais.
Apesar de «X» ser um bom álbum (e dos quatro temas escolhidos serem do melhor que tem para apresentar), o que todos queriam mesmo era ouvir os clássicos e desde início mostrou-se que não iria haver espaço para desilusão. Logo à cabeça «By Inheritance» (esta dedicada ao público por ter comparecido) e «The Challenge» que agarraram o público que estava frenético. Pode-se correr o risco de cansar pela repetição mas este tipo de festa e animação fazia mesmo falta e pelas expressões faciais dos próprios músicos, não eram apenas aos fãs que se mostraram incansáveis nas suas movimentações, os únicos a sentir isso. Fruto de uma noite com pontos altos mas sem dúvida que aquela melodia inconfundível da «Khomaniac» e o impacto que a música teve no RCA foi um dos mais memoráveis.
Foi um daqueles concertos cujo tempo passou num instante. Aliás, em abono da verdade, de uma forma geral foi o que aconteceu com as bandas nacionais que abriram a noite. Após uma demolidora «Terror Squad», que provocou um headbang generalizado, a banda saiu do palco, ficando apenas Dahl para trás a puxar pelo público de forma a justificar o encore perante os seus colegas de banda. E que o encore! «The Almighty» e «Deeds Of Darkness», dois dos seus temas mais emblemáticos provenientes do seu álbum de estreia levaram a sala ao êxtase thrasher como há muito tempo não acontecia. Uma daquelas noites para recordar. E para repetir!