No regresso a Lisboa após mais de uma década de ausência, os ARCHITECTS assinaram uma actuação avassaladora, com a energia do público e da banda a criaram uma simbiose perfeita em que o caos e a ordem coexistiram de forma quase hipnótica.
Ontem, Sábado, dia 22 de Março, a Sala Tejo da MEO Arena abriu as suas portas para receber um verdadeiro furacão sonoro. Mais de uma década após a estreia por cá, os ARCHITECTS regressaram a Lisboa para um concerto bem intenso, visceral e absolutamente inesquecível. Acompanhados por dois convidados de peso, os GUILT TRIP e os BRUTUS, os britânicos provaram, mais uma vez, por que razão continuam a ser uma das forças dominantes no cenário do metalcore moderno e, pelo caminho, protagonizaram uma noite de emoções à flor da pele, onde o peso da música e a entrega do público se fundiram numa experiência digna de ser recordada com carinho.
Às 20:00, as luzes do recinto apagaram-se e o público começou a aproximar-se um pouco mais do palco, antecipando a primeira descarga de energia da noite. Os britânicos GUILT TRIP trouxeram consigo uma dose brutal de hardcore musculado com fortes influências de metal e deram início à contenda com «Tearing Your Life Away», que estabeleceu de imediato o tom para o que se seguiria.
A agressividade dos riffs e o ritmo esmagador dos breakdowns criaram uma atmosfera opressiva, capturando de imediato a atenção da plateia. «Surrounded By Pain» e «Severance» sucederam-se com uma força avassaladora, enquanto o vocalista Jay Valentine canalizava toda a raiva e a intensidade das suas letras com uma entrega física e emocional bem impressionante.
O público, ainda a ganhar balanço, começava a reagir, com os primeiros movimentos na multidão a darem sinal de que o gelo estava a ser quebrado pedaço por pedaço. Quando chegou «Burn», o circle pit que já tinha começado a tomar forma ganhou então vida própria e a energia dos músicos parecia alimentar-se da resposta do público, com cada breakdown a suceder-se e a gerar novas ondas de caos controlado, que atingiu o seu apéx com três proverbiais petardos, «Sweet Dreams», «Broken Wings» e «Thin Ice», e provou, além de qualquer dúvida razoável, que o público estava mais do que pronto para o que vinha a seguir.









Após um curto intervalo, os belgas BRUTUS subiram ao palco, trazendo consigo um tom mais atmosférico, mas igualmente intenso aos procedimentos. A abertura com «War» criou uma tensão palpável, com a bateria frenética de Stefanie Mannaerts a servir de base para as vocalizações emotivas e para os riffs etéreos que caracterizam muito do seu material. À semelhança do que se tinha passado aquando da estreia da banda em Lisboa, Stefanie, que assume simultaneamente a bateria e a voz, demonstrou um controlo técnico e emocional notável, transitando sem esforço entre os momentos de delicadeza e os ataques mais explosivos.
«Liar» e «Justice de Julia II» destacaram-se pela intensidade crescente, com a guitarra hipnótica a criar uma muralha sonora que envolveu o público. No entanto, foi em «Miles Away» que a magia aconteceu — o tom mais melódico e emocional da canção levou muitos dos presentes a fecharem os olhos, e a balançarem ao ritmo da música.
A actuação prosseguiu com «Brave» e «What Have We Done», mais dois momentos em que a dualidade entre o peso e a melodia dos BRUTUS ficou em plena evidência e, como já vem sendo habitual, a «Sugar Dragon» encerrou o concerto de forma majestosa, com um crescendo instrumental que explodiu numa descarga final de som e luz. A reação do público foi efusiva, com aplausos prolongados e gritos a pedirem mais, provando que o trio deve ter conquistado mais alguns fãs nesta ocasião.













Com o aproximar das 22:00, o ambiente na Sala Tejo sofreu uma transformação palpável. O público sabia o que estava para acontecer — e o primeiro acorde de «Don’t Stop Me Now», dos QUEEN, a brotar do PA confirmou todas as expectativas. A escolha dos ARCHITECTS para o momento que antecedeu a entrada em palco não foi inocente — a energia contagiante do clássico fez o público soltar os primeiros gritos e deu início ao primeiro coro em uníssomo, ainda antes da banda aparecer em cena.
Quando os ARCHITECTS surgiram finalmente sob um mar de luz branca, a euforia foi imediata. «when we were young» abriu o concerto com uma força devastadora, lançando de imediato o público num estado de euforia colectiva. A combinação de guitarras afiadas, bateria incessante e os berros carregados de emoção de Sam Carter criaram uma tempestade sonora que fez tremer a Sala Tejo.
Sem dar tempo à plateia para respirar, os músicos seguiram de imediato para o single «Whiplash», mantendo o ritmo elevado e fazendo com que os primeiros mosh pits se formassem rapidamente. A intensidade foi aumentando com «Giving Blood» e «Brain Dead», com Carter, que envergava orgulhosamente uma camisola do número 7 da Selecção Nacional, a comandar a plateia com uma presença magnética.
Os ocasionais crowd surfers atravessavam o público, levados em direcção ao palco pela maré humana em ebulição. Lá em cima, a banda, coesa e tecnicamente irrepreensível, demonstrava a sua mestria em temas como «deep fake» e «Impermanence», na qual os riffs intricados e ritmos dinâmicos se entrelaçaram na perfeição. «Meteor» foi um dos momentos altos, com o público em perfeita sincronia, a saltar ao ritmo do refrão explosivo. Já a meio do concerto, «Red Hypergiant» e «Everything Ends», estrategicamente colocadas no alinhamento, trouxeram uma ligeira mudança de ritmo, permitindo que o público recuperasse momentaneamente o fôlego antes de ser lançado de novo numa espiral de peso com «Black Lungs», «Royal Beggars» e «Curse».
Seguiu-se um breve interlúdio com um pequeno excerto de «Gone With The Wind», durante o qual o público, que até então tinha estado em constante movimento, parou para ouvir em silêncio absoluto e, já na recta final do alinhamento, «Doomsday» e «Blackhole» foram o culminar da descarga de intensidade, com o público a cantar cada palavra e a energia da sala a atingir um pico absoluto.
O encore, com «Seeing Red» e «Animals», foi a confirmação final da ligação profunda entre a banda e o público. “Lisboa, vocês foram incríveis esta noite. Obrigado por fazerem parte disto!“, gritou Sam Carter, que a dado momento também fez o famoso “SIUUUU!” de Ronaldo, para gáudio da multidão. Feitas as contas, os dez anos de espera foram totalmente compensados por uma actuação sem mácula, a que nenhum fã dos ARCHITECTS, em particular, e de metal moderno, no geral, poderá apontar qualquer defeito.