BORNOFOSIRIS

Os icónicos ARCHITECTS regressam finalmente a Portugal hoje, Sábado, 22 de Março de 2025, para um espectáculo único na Sala Tejo. Em jeito de antecipação ao concerto, que conta com os BRUTUS e os GUILT TRIP na primeira parte, estivemos à conversa com o baterista Dan Searle.

Oriundos de Brighton, os ARCHITECTS são conhecidos por um som multifacetado que combina o peso carcaterístico do metalcore com influências de screamo, deathcore e elementos atmosféricos. Os últimos anos consolidaram-nos como uma das bandas mais relevantes do metal moderno a nível mundial e, em 2023 e 2024, os músicos percorreram o globo, destacando-se como convidados pessoais dos Metallica na sua mais recente tour e como cabeças de cartaz no festival Bloodstock, além de participações em eventos de grande dimensão como o Download, Louder Than Life e AfterShock.

No regresso a Portugal, os ARCHITECTS trazem na bagagem o seu 11º álbum de estúdio, «The Sky, The Earth & All Between», que sucedeu ao colossal «The Classic Symptoms Of A Broken Spirit», de 2022. O primeiro vislumbre desta muito aguardada novidade chegou com os singles «Seeing Red» e «Curse», que, por esta altura, já ultrapassaram mais de 70 milhões de streams combinados. Mais recentemente, o tema «Whiplash» tem despertado entusiasmo com uma mistura intensa de peso e melodias cativantes, que prenunciou a chegada de um disco repleto de momentos marcantes.

Olá, Dan. Como estás?
Estou a utilizar um dia de folga para despachar alguns assuntos que tinha pendentes. Hoje estamos em Madrid e ainda tenho um par de horas de entrevistas pela frente, mas, até agora, estive a fazer coisas bastante aborrecidas. E não, não me estou a referir às entrevistas. [risos] Estive a tratar dos meus impostos, a pagar contas e coisas desse género… Coisas que costumo fazer quando estou em casa. Para ser sincero, ainda nem dei uma volta pela cidade, mas espero poder passar mais tempo fora do quarto de hotel amanhã.

É incrível que tenhas conseguido arranjar algo mais aborrecido que entrevistas para fazer.
Sim, há coisas bem piores do que fazer entrevistas e, sinceramente, não me importo mesmo nada de fazê-las. Acho que é fácil queixarmo-nos, sabes? No entanto, gosto de tentar lembrar-me que há pessoas que estão a… Trabalhar em estações de serviço, por exemplo. Percebes o que quero dizer?

Sim, há trabalhos bem piores do que o teu.
Sim, há trabalhos piores do que ser uma suposta estrela de rock, de facto.

Há uns tempos passámos por uma fase estranha com a pandemia e tudo o mais. Achas que esses anos longe da estrada mudaram a vossa perspectiva sobre os espectáculos e as digressões?
Sim, acho que sim. Sem dúvida. Além disso, também tive um filho mesmo antes da pandemia, por isso agora é tudo diferente, porque a minha vida está totalmente dividida entre a minha família e o trabalho. Antes de ter filhos, era como se pudesse desaparecer durante muito tempo e isso não importasse. E também atingimos uma idade…

Quer dizer, ainda não sou super velho, tenho apenas 37 anos, mas estou na banda há quase duas décadas e começo a ter noção de que isto não vai durar para sempre. Portanto, as experiências, as actuações e as idas a diferentes cidades tornaram-se muito mais valiosas nos últimos anos. Tudo isso significa mais, porque não vai ser algo que dure mais 20 anos. Todos sabemos há uma linha de chegada, por isso sentimos que temos de dar mais.

Eventualmente tudo tem o seu fim, certo?
Sim.

Isso faz-te apreciar mais certos aspectos de estar na estrada como interagir com os vossos fãs, por exemplo?
Acho que sim. Adoro sempre quando encontramos velhos amigos que já não via há anos, poder conversar com pessoas em cidades diferente e tudo isso. Acho que, mais do que qualquer outra coisa, isso vem com a idade, sabes? Todos nós, como banda, tivemos uma mudança enorme na forma como vemos o que fazemos, só porque estamos mais velhos agora. E isso reflectiu-se, penso eu, também no nosso novo álbum.

Acho que as pessoas reconhecem que este disco representa uma mudança no som para os Architects. Essa opinião tem sido bastante unânime. As pessoas percebem que as nossas canções estão a ficar melhores, e isso também se deve ao facto de termos feito muitos álbuns, mas sabemos que não vamos fazer álbuns para sempre. Só vamos fazer mais alguns, por isso vamos certificar-nos de que os que fazemos são realmente especiais.

Esta tour serve, sobretudo, para promoverem a novidade «The Sky, The Earth & All Between». Há algum tema que tenha ganho uma nova vida ou nova energia em palco?
Bem, eu já suspeitava que seria esse o caso, mas a «Whiplash» é uma carnificina completa ao vivo. E sim, pensava que funcionaria bem ao vivo, mas nunca sabemos ao certo como vai realmente ser até começarmos a tocar os temos em palco… Felizmente, as minhas suspeitas confirmaram-se: a «Whiplash» é uma verdadeira carnificina.

E, sabes, estamos em digressão neste momento e, para ser totalmente honesto, os concertos têm sido fantásticos. Tem sido óptimo tocar nestas cidades, nestes clubes e arenas, mas sei que, quando estivermos a tocar em grandes palcos de festivais, com dezenas de milhares de pessoas à nossa frente, essa canção vai ser muito perigosa.

Quando tocam um tema como «Whiplash», por exemplo, dão por vocês a alimentarem-se dessa energia que vem da plateia?
É como se, mais uma vez, fosse o tipo de coisa que apreciamos mais à medida que envelhecemos. E, sabes, somos uma banda há muito tempo e não atingimos este tipo de sucesso rapidamente. Foi um processo muito longo para chegarmos a esta posição em que a banda é popular e já está tão estabelecida.

Portanto, quando estamos em palco e vemos um oceano enorme de seres humanos a perderem a cabeça com o que estamos a fazer em palco, isso nunca vai passar de moda. É uma adrenalina enorme, é muito estimulante e enche-nos de orgulho. É uma experiência única. Nem toda a gente consegue estar naquele palco e “incendiar” tanta gente; por isso sim, é espectacular.

Fazem mudanças no alinhamento com base na reacção do público?
Não, é tudo tão ensaiado que não nos podemos dar a esse luxo. Não somos uma daquelas bandas que podem ser espontâneas… Por exemplo, temos alguém que trata da iluminação e as luzes são cuidadosamente programadas para estarem perfeitamente em sintonia com a música, por isso não podemos dar-nos ao luxo de simplesmente tocar uma música que não está no alinhamento porque as pessoas que trabalham para nós fora do palco iam ficar loucas.

Foi sempre assim ou isso foi algo que mudou ao longo dos anos?
À medida que a operação aumenta, à medida que a banda vai crescendo, fica tudo cada vez mais complicado. Por isso, sim, é apenas a forma como as coisas evoluíram.

Esse espontaneidade é algo de que sentes falta?
Não, eu sou uma pessoa que gosta de saber que existe um plano. Gosto de ter o controlo. Sei o que se vai passar a seguir e tudo está muito bem ensaiado. E, sabes, tentamos mais do que nunca levar todos os aspectos da banda a sério, por isso, quer seja a nossa actuação individual, quer seja o som, quer seja a produção, o espectáculo de luzes, tudo isso, queremos ter a certeza de que tudo é da melhor qualidade possível. E isso requer preparação, muito ensaio e muita repetição.

Sem spoilers para os seguidores dos ARCHITECTS, fala-nos um pouco acerca de como abordaram o alinhamento para esta digressão. Focaram-se no material novo ou tentaram criar um equilíbrio com os temas mais antigos?
Nesta digressão estamos, definitivamente, mais concentrados no material novo, mas sabes que mais? Vou ser totalmente honesto contigo porque vejo muita gente a reclamar da nossa setlist na internet, o que é inevitável porque temos onze álbuns e não podemos tocar durante quatro horas. Nem sequer podemos tocar durante três horas. Nem sequer podemos tocar durante duas horas.

É insustentável para o Sam, como vocalista, gritar durante duas horas todas as noites, por isso só podemos tocar durante algum tempo. E, claro, temos muitos fãs de diferentes eras da banda e temas que gravámos há quinze anos… Portanto , é uma tarefa impossível agradar a toda a gente. A setlist é… Vi os Metallica a fazerem isto há uns tempos, puseram os fãs a votar nos temas que mais queriam ouvir nos concertos. Viste isso?

Sim, sim…
Pois bem, de certa forma é exactamente o que nós fazemos. Vemos o que as pessoas estão a ouvir no Spotify e, assim, podemos perceber quantas vezes cada uma das nossas músicas é ouvida todos os dias. Podemos ver exactamente quais são as músicas mais populares entre os nossos fãs, por isso fazemo-lo da forma mais democrática possível. Construímos o nosso alinhamento tendo por base os temas que os nossos fãs mais ouvem, portanto seria de esperar que essa fosse a forma mais justa.

Percebes o que quero dizer? A forma mais justa de o fazer para os nossos fãs, pelo menos. No entanto, é claro que continua a causar muitas queixas. Neste momento, como é óbvio, os temas que mais ouço são os do novo álbum, mas não podemos tocar apenas o novo álbum e nada mais de nenhum outro disco.

Poder, até podiam , mas as pessoas iriam queixar-se ainda mais.
Sem dúvida! [risos] Felizmente temos essas ferramentas que nos permitem olhar para os temas mais ouvidos nos últimos seis meses e pensar: “Muito bem, estas são as mais populares neste momento, são aquelas de que as pessoas estão a gostar, por isso vamos tocar essas.” Ocasionalmente, podemos tocar algumas canções mais antigas. Nesta digressão não o estamos a fazer porque o novo álbum ainda é recente, mas acho que, quando entrarmos no próximo ciclo, vamos recuperar algumas músicas mais antigas.

Há alguma canção mais antiga que tenhas redescoberto recentemente graças a esse método que estão a usar para construir os alinhamentos?
À semelhança do que se passa com muitas outras bandas, as pessoas referem-se a álbuns como o «Lost Forever // Lost Together» como se fossem álbuns clássicos, o que é óptimo. Nós ficamos muito gratos por isso e felizes por termos produzido álbuns que as pessoas têm em tão alta consideração, mas as pessoas não os ouvem com tanta frequência quanto se poderia imaginar.

Posso ver isso nos dados e não há nenhum tema, desses mais antigos, que tenha uma quantidade absurda de ouvintes ou algo desse género. A realidade é que as pessoas têm esses álbuns em alta conta, mas quando estávamos a fazer as digressões para promovê-los, andávamos a tocar para 500, talvez 1000, pessoas, no máximo. Agora, tocamos para largos milhares de pessoas.

Há alguma canção mais antiga que tenhas redescoberto recentemente graças a esse método que estão a usar para construir os alinhamentos?
À semelhança do que se passa com muitas outras bandas, as pessoas referem-se a álbuns como o «Lost Forever // Lost Together» como se fossem álbuns clássicos, o que é óptimo. Nós ficamos muito gratos por isso e felizes por termos produzido álbuns que as pessoas têm em tão alta consideração, mas as pessoas não os ouvem com tanta frequência quanto se poderia imaginar.

Posso ver isso nos dados e não há nenhum tema, desses mais antigos, que tenha uma quantidade absurda de ouvintes ou algo desse género. A realidade é que as pessoas têm esses álbuns em alta conta, mas quando estávamos a fazer as digressões para promovê-los, andávamos a tocar para 500, talvez 1000, pessoas, no máximo. Agora, tocamos para largos milhares de pessoas.

Os fãs tendem sempre a sentir-se mais ligados aos álbuns que os apresentaram às bandas, mas, às vezes, isso não passa de saudosismo.
Isso é verdade. O que vamos ver acontecer é que, daqui a dez anos, as pessoas vão falar sobre o «For Those That Wish To Exist», que lançamos na altura da pandemia e marcou uma mudança de estilo para os Architects, como falam desses primeiros discos. Na altura, muita gente ficou chateada, alguns dos nossos fãs começaram a odiar-nos, porque foi, convenhamos, uma mudança um pouco radical. No entanto, é, de longe, o nosso álbum mais vendido até à data.

Já sei que, daqui a dez anos, as pessoas vão dizer que não gostam do que estivermos a fazer nessa altura porque querem que voltemos ao estilo do «For Those That Wish To Exist». Vão dizer que esse é um clássico… Houve muita gente que descobriu a banda com esse álbum e, para essas pessoas, a ligação que têm com ele será sempre especial. É assim que as coisas acontecem.

Estávamos a falar sobre envelhecer. Como achas que o estilo de vida em digressão mudou para vocês como indivíduos, e como banda, com o passar dos anos?
Sinto que não deveria ser assim aos 37 anos, mas agora acho que é tudo muito mais cansativo do que achava antes. E é engraçado porque costumávamos conduzir a noite toda. Dormíamos todos num quarto de hotel, no chão, com sacos-cama, e ficávamos todas as noites em casa de pessoas aleatórias, montávamos o nosso próprio equipamento e arrumávamos tudo depois de tocar. A nossa rotina era muito mais cansativa quando tínhamos vinte e poucos anos.

Agora, dormimos em bons hotéis, viajamos em bons autocarros. Não temos de mexer um dedo. Só temos de nos limitar a aparecer e tocar as músicas, percebes? Para mim, a coisa mais difícil é dormir. Mais uma vez, não me quero queixar porque este trabalho não é a coisa mais difícil do mundo, mas acho que já não consigo dormir nos autocarros como dormia. Habituamo-nos a uma espécie de rotina em casa, onde dormimos uma certa quantidade de horas, por isso, quando estamos em tour, é cansativo. E vai-se tornando mais cansativo à medida que envelhecemos, mas as coisas são assim mesmo.

Não tens como negá-lo: tornaste-te mais “caseiro”.
Diria que sim, sem dúvida. [risos] Em casa, gosto de ir para a cama às 21:00, mas, em digressão, saímos do palco às 22:30, cobertos de suor e com o coração aos saltos. Temos um espectáculo de luzes intermitentes à nossa volta todas as noites. E, depois disso, demoramos muito tempo para adormecer. Demoramos muito tempo a acalmar e a perder a adrenalina. Por isso, sim, coisas como o sono, o descanso, a preparação, a alimentação e todo esse tipo de coisas tornaram-se cada vez mais importantes. Basicamente, sinto que tenho de fazer mais para tirar o melhor partido de mim mesmo.

Além disso, temos muito mais orgulho no que fazemos agora do que quando éramos mais novos. Quando éramos jovens, era tudo muito despreocupado. E eu não quero dizer punk porque as pessoas gritam comigo por chamar punk aos Architects, mas a atitude era um bocado essa. E hoje em dia é tudo muito mais profissional. Percebemos que, agora, temos a responsabilidade de dar o melhor espectáculo possível, eas pessoas também esperam um certo nível de exigência da nossa parte. Portanto, levamos muito a sério o facto de tentarmos estar à altura desse padrão.

No início, era tudo novo, certo?
Sim, para nós era tudo novidade… Agora, é muito diferente, claro. No entanto, para ser totalmente honesto, não há uma era desta banda de que eu não tenha gostado. Sabes, houve sempre desafios e passámos por momentos difíceis, mas também houve sempre bons momentos no meio de tudo isso. Adorei os primeiros tempos, em que andávamos por aí, numa carrinha minúscula, a viajar pelo mundo. No entanto, também adoro e aprecio imenso o sucesso que temos agora, e o facto de podermos tocar para grandes audiências onde quer que vamos. É óbvio que é um sonho tornado realidade. É o que sempre quisemos.

E, finalmente, desta vez vão regressar a Portugal. Que recordações tens dos concertos que deram aqui antes?
Bem, na verdade não há muitas. [risos] Tocámos em Faro, no Algarve, e… Como se chama a cidade que fica a sul de Lisboa? Setúbal ou algo do género?

Sim, é isso mesmo – Setúbal.
Também tocámos aí e em Lisboa, mas acho que isso já foi há uns dez anos. Por isso, nunca mais aí voltámos. Infelizmente, para se tocar em Lisboa ou em Portugal, devo dizer, não é nada fácil… Quando se reserva uma digressão, vê-se o itinerário. Lisboa é o fim da linha. Vamos a Barcelona, Madrid, Lisboa e, depois, temos de se fazer o caminho de volta. Por isso, de certa forma, há alguns sítios na Europa que acabam por sofrer um bocado com isso. Helsínquia, na Finlância, também é assim. É um óptimo lugar para irmos, mas é sempre difícil de lá chegar.

Lisboa é tão longe de tudo o resto, em termos das distâncias que temos de percorrer num autocarro… E o custo de uma digressão hoje em dia é incrivelmente elevado, por isso, para nós, é muito difícil ganhar dinheiro. Mesmo nesta digressão não estamos a ganhar dinheiro; aliás, estamos a perder dinheiro. Estamos aqui apenas por amor e nada mais, para ser honesto, por isso ficámos mesmo muito contentes por termos aproveitado esta oportunidade para regressar, por fim, a Lisboa.

Isso é o que vocês, músicos, dizem em todo o lado!
Não, não… Estou mesmo a falar a sério. [risos] Primeiro, Portugal é um país óptimo. Lisboa é uma cidade do mlehor que há… E, para ser honesto, Portugal é um país onde gostaria de viver. No ano passado, fui a Portugal duas vezes de férias com a minha mulher e os meus filhos. Gostámos muito de aí estar.

E o que é que esperam deste regresso?
Bem, quando marcámos esta data não fazíamos a mínima ideia do que podíamos esperar no que toca à venda de bilhetes. Da última vez que aí estivemos, tocámos em salas minúsculas para umas centenas de pessoas. Portanto, foi muito difícil decidir onde íamos tocar desta vez e, ainda mais, tentar perceber quantas pessoas podíamos esperar.

Felizmente, disseram-me que os bilhetes têm estado a vender a bom ritmo e que vai haver uma grande multidão para nos ver, por isso acho que vai ser uma grande festa. Esperemos que o espectáculo seja tão louco que não tenhamos outra escolha senão voltar o mais rapidamente possível… E muito obrigado a toda a gente em Portugal por ter esperado por nós.