Com a novidade «Blood Dynasty», os ARCH ENEMY provam que não estão aqui para agradar a toda a gente — estão aqui para destruir, inspirar e manter viva a chama do verdadeiro metal.
Durante as últimas três décadas, os ARCH ENEMY têm-se afirmado como uma força imparável no mundo do melodeath. Sob a liderança visionária do virtuoso Michael Amott, a banda sueca construiu um legado sólido e potente, alicerçado numa mistura equilibrada de brutalidade e melodia, sem nunca terem cedido à tentação de suavizarem a sua essência metálica. Ao longo deste já longo percurso, conseguiram ainda o feito raro de substituirem o vocalista não uma, mas duas vezes, sem que tenham perdido a força criativa ou a intensidade.
Desde a entrada de Alissa White-Gluz em 2014, os ARCH ENEMY têm mantido um ritmo imparável, ao mesmo tempo que vão explorando os limites da agressividade técnica sem perder a capacidade de criar refrões memoráveis. «Blood Dynasty», o 12.º álbum de estúdio da banda, é mais uma prova definitiva da resiliência criativa que os caracteriza: feroz, dinâmico e tão devastador como qualquer outro LP anterior — e, ainda assim, recheado de surpresas que reforçam o estatuto intocável da banda.
Quem espera mudanças radicais no som dos ARCH ENEMY ficará certamente desiludido. No entanto, a verdade é que seria redutor ignorar a evolução subtil e certeira que marca «Blood Dynasty». O LP abre com o single «Dream Stealer», uma descarga de fúria típica do grupo, mas com uma escuridão adicional nas guitarras que as empurra ainda mais para o território do death metal clássico. A entrega da banda é implacável, com um ataque instrumental que parece ecoar a devoção à arte de esmagar crânios.
Por seu lado, «March Of The Miscreants» revela uma faceta mais sombria e suja q.b., com uma colecção de riffs sincopados que se entrelaçam numa cadência verdadeiramente opressiva. O refrão, onde Alissa White-Gluz proclama “This is where we belong!“, soa como um grito de união entre os fiéis do metal, e conduz a um solo de guitarra indulgente e tecnicamente irrepreensível. Verdade seja dita, White-Gluz reafirma aqui o seu estatuto como uma das vocalistas mais versáteis e poderosas do metal moderno.
Em canções como «Don’t Look Down», em que as estrofes violentas desembocam num refrão colossal, que parece ter sido feito para ser gritado com o punho erguido, a intensidade com que Alissa alterna entre um registo gutural feroz e as melodias vocais limpas é impressionante, dando uma profundidade emocional rara ao som dos ARCH ENEMY. O poder da sua voz brilha de forma particular em «Paper Tiger» e «A Million Suns», duas peças que equilibram o peso instrumental com uma melodia quase épica, culminando em refrões que têm tudo para se tornarem clássicos ao vivo.
Depois, a capacidade dos ARCH ENEMY de se reinventarem sem perderem o fio condutor da sua própria identidade está bem patente em «Illuminate The Path» — um tema a meio-tempo em que a melodia e o peso se encontram num equilíbrio quase perfeito. No entanto, o verdadeiro momento inesperado surge na interpretação de «Vivre Libre», uma balada originalmente lançada pela banda francesa BLASPHEME em 1985. Aqui, White-Gluz liberta-se das amarras do death metal para oferecer uma interpretação bem emocional e tecnicamente irrepreensível.
Três décadas após os primeiros passos em Halmstad, os ARCH ENEMY continuam a provar que o metal puro e autêntico não tem prazo de validade. «Blood Dynasty» não é um álbum de reinvenção, mas sim de consolidação — um manifesto de fidelidade ao código sagrado do heavy metal. Enquanto muitas bandas com carreiras assim tão longas cedem à complacência ou ao experimentalismo vazio, os ARCH ENEMY reafirmam a sua posição como uma das forças mais consistentes e respeitadas do heavy metal contemporâneo. Michael Amott e companhia não estão aqui para agradar a todos — estão aqui para destruir, inspirar e manter viva a chama do verdadeiro metal.
