ARCH ENEMY:
A Arte Da Rebelião

O momento em que uma banda muda de vocalista traz consigo uma inevitável enxurrada de questões. Será que o novo elemento vai ser tão competente como o anterior? Será que o grupo vai continuar a escrever música capaz de fazer jus ao fundo de catálogo? Será que o novo ou a nova vocalista vai acrescentar algo válido à equação? São tudo dúvidas prementes, sendo que as coisas tomam contornos ainda mais dramáticos quando se fala de um nome estabelecido e com o estatuto de uns ARCH ENEMY e de uma personalidade tão icónica como Angela Gossow – que, atrás do microfone de um dos mais visíveis e aplaudidos porta-estandartes do death metal melódico atual, se transformou na embaixadora da força feminina na música extrema. No entanto, ao ouvir «War Eternal», o 10.º álbum do super-projecto liderado por Michael Amott, percebe-se que, apesar de jovem, Alissa White-Gluz já não tinha grande coisa a provar quando se juntou aos suecos. Em antecipação ao retorno do quinteto — que agora conta também com Jeff Loomis, dos Nevermore — a Portugal para estrear a nova formação (nos dias 21 e 22 de Maio, no Paradise Garage e Hard Club, em Lisboa e no Porto respectivamente) conversámos com a força motriz do colectivo.

Estou a gozar o meu tempo livre e, pelo meio, tenho estado também a fazer entrevistas. É bom parar um bocado de vez em quando… [risos] Desde que lançámos o «War Eternal» ainda não parámos de fazer digressões e, só este ano, já tocámos no Japão, na Ásia e na América Latina. No início deste mês começámos esta digressão europeia que nos vai levar de novo a Portugal e, durante o Verão, vamos andar bastante ocupados a tocar nos festivais, por isso 2015 vai ser outro ano cheio de actividade para os Arch Enemy”, explica o simpático Michael Amott em jeito de introdução.

Nunca se torna cansativo andar constantemente na estrada?
Não, continuo a manter-me entusiasmado. Isto é o que fazemos, por isso não há sequer grande volta a dar. É uma actividade a tempo inteiro, não… A verdade é que somos muito sortudos. A cada disco novo que os Arch Enemy lançam já sabemos que vamos ter, no mínimo, dois anos de digressões pela frente. Temos fãs em todo o mundo, em todos os continentes, por isso temos de ir ao encontro deles e, feitas as contas, continua a ser muito entusiasmante. Já são muitos anos de bagagem, é verdade, mas ainda não se tornou aborrecido e, na verdade, prefiro estar em digressão do que em casa.

Como evitas que estar numa banda se transforme num emprego?
Estava a falar com um amido meu, que também é músico, no outro dia e ele disse-me que o que lhe pagam são as deslocações até aos sítios onde vai actuar… Os concertos fá-los de borla! [risos] Eu, de certa forma, consigo identificar-me com essa ideia. As viagens podem tornar-se cansativas, mas depois, o tempo que passamos em palco compensa isso tudo e é precisamente o que me faz continuar. Tocar num grupo, pelas mais diversas razões, nunca será um emprego normal. A energia que retiramos dos 90 minutos que estamos em palco é incomparável a qualquer outra coisa e os nossos fãs são mesmo muito fiéis, por isso dão-nos uma força incrível.

Suponho que as reacções aos concertos estejam a ser bastante boas.
Sim, as reacções aos concertos têm sido fantásticas. E, surpreendentemente, o disco também foi muito bem recebido. Passámos por diversas mudanças drásticas antes de gravarmos o «War Eternal», mas o público aceitou as nossas escolhas e não nos podemos queixar de nada. Confesso que, à partida, não estava à espera de tanto. Já aprendi que não devo esperar mesmo nada para não ter desilusões, mas numa situação destas é meio inevitável pensar nisso e fiquei de queixo caído quando percebi que as reacções estavam a ser assim tão positivas. È óbvio que sabia que tínhamos feito um bom álbum e que tínhamos uma vocalista nova fantástica, mas nunca se sabe como os fãs vão reagir. Construímos uma coisa durante anos com a formação anterior, fizemos inúmeros álbuns e digressões, enfim… Os fãs de música nunca gostam que as coisas mudem, isso é algo que lhes é inato, mas nós tivemos de continuar em frente e acho que as coisas agora ainda estão melhores do que antes.

A saída da Angela abalou as estruturas da banda?
Foram demasiadas mudanças – não só na banda mas também na minha vida pessoal – e aconteceu tudo ao mesmo tempo… Tivemos a mesma formação, com a Angela como vocalista, durante 12 anos, por isso havia certas coisas que dávamos como garantidas e que, de um momento para o outro, pura e simplesmente já não estavam lá. 2013 não foi um bom ano para os Arch Enemy, não demos um único concerto nesse período. Na altura decidi focar-me na música e na composição de temas novos, sendo que acho que beneficámos bastante com isso porque gravámos um dos álbuns mais fortes da nossa carreira. Cheguei à conclusão que, às vezes, a mudança pode ser uma coisa mesmo muito positiva.

Não se torna frustrante estar sempre a lidar com mudanças de formação?
Percebo o que queres dizer, mas a paixão que nutro pelo que faço não me permite baixar os braços… Comprei a primeira guitarra com 13 anos e escrevi a minha primeira canção no dia seguinte, por isso é algo que está em mim desde muito novo. Compor é expressar-me; aconteça o que acontecer, é algo de que nunca vou poder abdicar. Nem toda a gente é assim, no entanto. Há quem se divirta a fazê-lo durante uns anos, mas depois surgem outras prioridades e percebem que, afinal, não estavam nisto para a vida. Eu nunca quis ter tantos músicos a passar pelos Arch Enemy, por mim tinha a mesma formação desde o início, mas pelo caminho tive de lidar com todas estas mudanças. Felizmente esses percalços nunca me fizeram perder a motivação… Dê lá por onde der, a verdade é que arranjo sempre forma de continuar em frente. Para mim, a guitarra e a música serão sempre a prioridade.

Como te sentes em relação à nova formação, com a Alissa e o Jeff Loomis na guitarra?
Fantástico! Sinto que estamos mais fortes que nunca, para ser sincero. A Alissa foi a primeira escolha para substituir a Angela – foi, inclusivamente, recomendada por ela antes de deixar os Arch Enemy – e, ao contrário do que pensávamos, conseguimos resolver essa questão bastante rápido. É uma miúda muito talentosa e uma performer incrível em palco, por isso trouxe uma energia redobrada à banda, o que é óptimo. O Jeff Loomis, por seu lado, é um dos meus guitarristas favoritos e, ao longo dos anos, sempre que nos cruzávamos falávamos em fazer alguma coisa juntos e nunca tinha acontecido, por isso é um prazer tê-lo em palco connosco. Estou muito entusiasmado para ver o que esta formação vai fazer no futuro, sem qualquer dúvida.

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