SLAYER

AQUELA VERSÃO: Os SLAYER e a omnipresente «Raining Blood»

SLAYER!!! Como fazer uma versão de um clássico? Já agora, como fazer uma versão de um clássico que todos fazem? Se calhar, a solução é desmontar e fazer de novo.

Uma letra que começa com algo como “Trapped in purgatory/A lifeless object, alive/Awaiting reprisal” tem dose que chegue de ambiguidade. Ou, para muitos grupos de death metal, talvez não. Porém, nomes como TORI AMOS ou MIKE PATTON conseguiram encontrar beleza e melancolia em versos como Pierced from below, souls of my treacherous past/Betrayed by many. Estava-se a 14 de Setembro de 2001 e Amos lançava «Strange Little Girls».

Olhando para trás, e vendo que três dias antes tinha sido o 11 de Setembro, esta versão podia bem ser a banda-sonora para esses dias. Em 2018, Mike Patton & Uri Caine faziam uma interpretação da mesma em Modena, Itália. Em comum com Amos, apenas o uso do piano. De qualquer forma, esta versão, mais spooky e lembrando Danny Elfman, também serve o propósito de desconstruir para construir de novo.

A voz cavernosa de Patton, mesmo que em registo spoken word, traz algum toque macabro ou mesmo dantesco a versos como Death will be their acquittance/The sky is turning red”. O vocalista dos FAITH NO MORE usa a sua experiência de scat e de vivência com John Zorn para cantar From a lacerated sky/Bleeding its horror/Creating my structure.

O tema nasce em 1986, e em 2008, num livro da coleção 33 1/3 dedicado ao álbum onde se insere, D.X. Ferris descreve-a como contendo “as dez notas mais reconhecidas no metal. Brann Dailor, dos MASTODON, usa a música para referir como “há melodia nesses temas” e sumariza numa das melhores formas de o entender:“tens de ter a bela e o monstro, não podes apenas ter o monstro. Talvez seja aí que reside efectivamente a beleza da versão de Tori Amos, por muito soturna e arrepiante que possa ser.

Aliás, só mesmo DIAMANDA GALÁS conseguiria tirar uma versão mais arrepiante, mas esta ainda não o interpretou. Tomando de novo a opinião de Dailor, estará aqui a explicação para as banalidades das interpretações dos MALEVOLENT CREATION, OBSCENITY, NORDJEVEL ou mesmo VADER.

Do tema, esses apenas retiraram a “besta”. Algo semelhante a quando algum grupo pretende ser original, o guitarrista até sabe a tal dezena de notas, e lá cometem a profanação de assassinar o tema em palco. Quantas bandas portuguesas já não o fizeram? Até mesmo as estrelas do METAL ALLEGIANCE apenas se limitaram a emulá-lo.

Volta e meia, lá vem mais uma incursão sobre o tema, raramente a certa. Em «Bloodlust», de 2017, ICE-T e os seus BODY COUNT até conseguem uma interpretação interessante, sem precisarem de desconstruir o tema. KOSTAS REKLEITIS conferiu-lhe a beleza de uma orquestração mais convencional, como se de banda-sonora de filme se tratasse.

Porém, apenas os SLAYER sabem realmente soltar a “besta” em palco – como, de resto, o provaram durante décadas. Fosse em espaços grandes e despersonalizados, como o Sonisphere – onde, naqueles momentos antes de soltar o demónio na bateria, se sente a força com que seguram as notas.

Ou fosse num clube pequeno, um par de anos depois da criação da banda, ainda com toda a raiva da juventude. Aliás, mesmo num estúdio de TV conseguem ser imbatíveis. De qualquer forma, se Tori Amos conseguiu desmontar e remontar o tema, é mesmo só aos SLAYER que «Raining Blood» pertence!