Ele é ROBERT FRIPP, guitarrista e compositor. Os KING CRIMSON são a banda. Ou melhor, a sua banda. Com ela faz ainda hoje concertos, apesar das muitas colaborações. Percursor entre aqueles que editam múltiplas versões de concertos, possui um catálogo discográfico na casa dos três dígitos, apenas com edições oficiais. Ela é TOYAH WILLCOX, doze anos mais nova, com carreira desenvolvida principalmente nos anos 80 e 90, tendo casado, no dia em que celebrava os quarenta anos, com Fripp, numa união que ainda hoje persiste. Juntos, acharam que deviam oferecer algo ao mundo durante a fase de confinamento. Começou por ser uma brincadeira, rapidamente se tornou viral e criaram, durante meses, o hábito dominical de se cuscar a página de Toyah no youtube, para descobrir qual a nova versão do casal, naquilo que resolveram denominar “Toyah & Robert’s – Sunday Lockdown Lunch”. Exceptuando os nascidos já neste ano, presume-se que qualquer leitor deste texto já tenha contactado com, pelo menos, uma das criações do casal e até tenha a sua favorita. Talvez por bom gosto, o casal nunca fez uma versão para o tema hoje escolhido, apesar de Toyah ter usado o título para homenagear um músico com quem colaborou.
A música é «21st Century Schizoid Man», tema icónico que abre o primeiro disco dos KING CRIMSON, o monumental «In The Court Of The Crimson King (An Observation By King Crimson)», um dos melhores álbuns progressivos dos anos 60 e trabalho que definiu muito do que viria depois. Incontornável, mesmo que menos referido que outros trabalhos menores, mas de grupos mais populares. O tema recebeu inúmeras abordagens ao longo dos anos. Mesmo o álbum, já foi alvo de várias reedições, incluindo uma nova masterização a cargo de Steven Wilson, dos PORCUPINE TREE, a pedido do próprio Robert Fripp. A forma como Robert tem explorado o disco e tema até à exaustão pode bem ser observada nesta versão de 2015, com três bateristas, por exemplo. No meio do hard’n’heavy o tema recebeu várias versões, dos mais variados quadrantes, num sinal da sua abrangência. É muito interessante ver as várias abordagens, incluindo a de Greg Lake, baterista original, rapidamente desligado da banda. Uma década depois do original, os canadianos APRIL WINE, lançaram a sua versão. Curiosa pelo uso de twin guitars, mas certamente pouco brilhante, pelo menos face a futuras abordagens. Recebendo um tratamento demasiado seventies, no sentido mau do termo. O tema encontra-se no álbum «Harder…Faster», de 79.
Em 1994, no álbum «Distortion», os FORBIDDEN, faziam a sua versão. O grupo sabe captar o lado psych do disco. Conferem-lhe um lado Sabbathiano e Russ Anderson faz um bom registo vocal. O tema vale praticamente por todo o disco, que na altura marcava o regresso após alterações de formação, incluindo a perda do baterista Paul Bostaph. Um pouco caótica, e talvez falhada, para alguns, será a versão que os VOIVOD criaram em 1997, para «Phobos». Por si, a versão não é desinteressante, embora inferior, por exemplo, à dos thrashers da Bay Area. Acontece que a decepção resulta mais para quem seguia o grupo na época, face à comparação com a monumental versão que tinham feito em na década anterior para «Astronomy Domine». Depois de tentar repetir o feito com «The Nile Song», em 1994, o quarteto liderado por Snake, tentou então a sua sorte com a versão dos KING CRIMSON, novamente falhando na comparação com o feito conseguido anos antes. Com o devido tratamento death’n’roll, os suecos ENTOMBED chegaram-se à frente em 1997, no álbum «To Ride, Shoot Straight And Speak the Truth». Esta é a versão que os canadianos gostariam de ter feito, certamente. Novamente, a veia sabbathiana é repescada, mas há todo um delírio de guitarras, aproveitando o vórtice que conduz à segunda parte do tema.
E porque muitos notaram a veia doom que o original possui, embora na realidade seja do mesmo ano que o primeiro trabalho dos BLACK SABBATH, alguém decisor numa qualquer secretária deve ter pensado que seria uma boa oportunidade para OZZY OSBOURNE abordar o tema. Naturalmente que acaba completamente arruinado, com uma cacofonia instrumental onde a voz de Ozzy se perde. Entende-se a ideia original de substituir o saxofone que muitas vezes acompanhou o tema, mas a produção insiste em camadas de efeitos para disfarçar a sua voz, e os efeitos de estúdio substituem os músicos no void que conduz à segunda parte do tema, terminando-o, na realidade. A guitarra de Robert Randolph só afunda ainda mais o tema, com o produtor a colocar o solo muito por cima do tema. A evitar, claramente. Encontra-se em «Under Cover», disco de 2015, onde outros temas são assassinados. Notas finais para o génio que resolveu usar imagens do filme ‘The Joker’ para criar um curto vídeo. Também a referência ao nacionais THE BLACK WIZARDS que, ao vivo, inserem um trecho do tema na faixa «I Don’t Wanna Die» e que serviu de referência para a escolha de hoje. Versões à parte, talvez «21st Century Schizoid Man» seja uma boa oportunidade para descobrir os KING CRIMSON, e o seu álbum de estreia em particular. E, claro, elevar um pouco mais o respeito pelo duo Toyah & Robert.