Agora já é seguro falar novamente em nu-metal. Numa altura, em que o estilo começa a ser revisitado e que, francamente, alguns dos nomes maiores, conseguem, vinte anos depois, fazer discos bem mais interessantes que os tios do glam dos anos 80, é interessante começar a escutar coisas que se fizeram na época áurea da tendência. Esta semana a escolha vai para um híbrido. Demasiado tardios para serem realmente nu-metal, mas nunca fugindo à etiqueta, os DISTURBED conseguiram atravessar o deserto afirmando-se como uma banda de metal, e por isso até escolheram uma mascote, ‘The Guy’. No entanto, a segunda década deste século não começou muito bem para David Drainman e companheiros. A banda formada em 1994, faria mesmo uma pausa a partir de finais de 2011. Em meados de 2015, regressam com «Immortalized», num claro exemplo de baralhar e dar de novo. Algures no disco, está uma versão para «The Sound of Silence», clássico de SIMON & GARFUNKEL. Paul Simon é o autor da música e, quando formou um duo com Art Garfunkel, foi exactamente este tema que lhes proporcionou um contracto discográfico. A simplicidade da letra, ao mesmo tempo profunda, e a melodia subjacente, tornaram o tema cativante. Escrita entre 1963 e 1964, a música surgiria em 1964 no primeiro álbum do duo, «Wednesday Morning, 3 AM». Número um nas tabelas de singles de vários países, incluindo Inglaterra, Estados Unidos e Japão, o tema tornou-se desde logo um clássico.
Seriam muitas as versões recebidas, mas o tipo de vocalizações empregues no tema tornaram-no um favorito entre alguns grupos de heavy metal. Começou logo em 1989 com os HEIR APPARENT, no álbum «One Small Voice». Seria repescada pelos NEVERMORE em 2000, no álbum «Dead Heart In A Dead World». Diga-se que, neste caso, a versão se revelaria bem audaciosa e negra. Também os germânicos ATROCITY, no mesmo ano, se lembrariam do tema para inserir em «Gemini». Já em 2009, caberia aos SMASHING PUMPKINS abordarem o tema, no disco «Celebrating *20* Years of Sadness». O psicadelismo e groove introduzidos no início do tema retiram completamente o carácter intimista do mesmo. Um bom exemplo de como assassinar uma canção e talvez, só por isso, temos aqui um sério concorrente ao centro de atenção nesta coluna.
O caso dos DISTURBED é, mesmo assim, de longe o mais interessante. Se calhar não teria sido pensado no momento, mas a versão resultou bem, e trouxe para o som do século XXI, um clássico dos anos 60. Claro que este, mesmo assim, encontrava-se perdido num disco de metal de um grupo que já ninguém queria escutar. É aqui que entra aquela máquina promocional que só a indústria norte-americana consegue movimentar. Ao vídeo promocional, seguiu-se uma aparição do grupo a interpretar o tema no programa de Conan O’Brien. Não interessa discutir aqui o auto tune, mas a abordagem tão complexa quanto simples. Draiman recupera a solidão da voz, quase a capella, substitui as cordas acústicas por um piano, e fornece à canção um lado sinfónico que confere um lado mais épico. Plástico dirão alguns, mas o resultado foi um clássico (bem) revisitado. Paul Simon escreveria mesmo a David Draiman, a dar a sua aprovação do tema. A música conseguiria números mais fortes que no passado e uma das melhores performances de sempre. Os DISTURBED tinham aqui o seu momento «Radar Love» e conseguiam assim, finalmente, um tema realmente obrigatório para os seus concertos. Décadas depois da criação, a música ainda conseguiu soar no silêncio. Pena que Warrel Dane, com a sua voz, não tivesse tido a mesma visão.