O vídeo foi repescado há pouco tempo. É o fóssil que resta de um bom humor que sempre percorreu a banda punk. No âmbito do álbum «Saturday Morning: Cartoons’ Greatest Hits», em que o título é bem explicativo, a banda junta-se a outros nomes para reinterpretar temas de clássicos da TV norte-americana dos anos 60 e 70, em que o Sábado de manhã era inundado com desenhos animados. A escolha, sendo o grupo de Nova Iorque, cai sobre o Homem-Aranha. Abordam o tema de forma deliciosa e com o toque naïf e descontraído com que sempre se caracterizaram. Melhor mesmo, apenas a versão dos próprios RAMONES num episódio dos ‘Simpsons’, com «Blitzkrieg Bop». Joey, Johnny, Dee Dee, Tommy, Marky, Richie, Elvis ou C. J. Ramone. Quais Dalton Brothers da música, todos eles foram “Ramones”. Claro que, para o mundo, da música, o núcleo que interessa é mesmo o do período de 1974/77. Joey Ramone, ou Jeffrey Hyman, na voz e falecido em 2001; Johnny Ramone, ou John Cummings, guitarrista, com óbito em 2004; Dee Ramone, ou Douglas Colvin, baixo, falecido em 2002; Tommy Ramone, ou Thomas Erdelyi, bateria, desaparecido em 2014. A esses é adicionar Marky Ramone, ou Marc Bell, que ainda circula em pequenos clubes, usando o nome do grupo para quem souber que os RAMONES são mais que uma t-shirt. Sim, todos os membros originais já partiram. Ser um punk, nos anos 70, não era tarefa fácil, e os excessos pagam-se.
E a música? Os célebres três acordes, sempre iguais e que parecem tornar os discos tão semelhantes entre si? Essa sempre esteve lá e evoluiu dentro dos possíveis como a internet de hoje nos ajuda a perceber, numa breve análise à sua evolução. Passam agora duas décadas sobre a edição de «We’re A Happy Family – A Tribute To Ramones», excelente colectânea em que nomes como RED HOT CHILI PEPPERS, ROB ZOMBIE, METALLICA, U2, KISS, MARILYN MANSON ou RANCID fizeram interessantes versões de clássicos da banda. Até um inesperado encontro de Eddie Vedder com os ZEKE apareceu por lá, com o irónico título «I Believe In Miracles». O cantor chegaria mesmo a subir ao palco com os SUPERSUCKERS, para reinterpretar o tema. Apesar disso, é a versão dos RANCID que traz toda a energia mais merecida, num bom crossover entre os nova-iorquinos e os SEX PISTOLS. Em caso de dúvida, pode sempre observar-se o original, no último concerto do quarteto.
Os próprios RAMONES fizeram também as suas versões, e muitas até interessantes, como quando canabalizaram os THE BEACH BOYS, uma óbvia referência no que Joey, Johnny, Dee e Tommy faziam. O tema é «Surfin’ Safari», e transmuta-se em algo irresistível. Esta cover, como outras também irresistíveis, está contido em «Acid Eaters», disco de 1993, em que o grupo aborda versões de Bob Dylan e Jefferson Airplane, entre outros. Noutras incursões, o grupo homenageou nomes como THE DOORS, através de «Take It As It Comes», em «Mondo Bizarro» de 1992. Ou os ROLLING STONES, em «Street Fighting Man», no álbum «Too Tough To Die», de 1984. Aliás. a versatilidade musical de Joey sempre lhe permitiu sair, quando queria do cliché dos três acordes, sem nunca deixar de colocar a marca RAMONES nas canções. Exemplo é quando entra por um clássico das THE RONETTES, com «Baby I Love You», algures em 1979, no disco «End Of The Century».
Uma das melhores prestações está, porventura, em «Substitute», tema bandeira dos britânicos THE WHO. Obviamente que a versão sai melhorada, quando se observa o vídeo, todas as injokes contidas, e a presença de caras conhecidas, entre elas Lemmy Kilmister, com quem partilharam respeito mútuo em «R.A.M.O.N.E.S.», sendo que o músico britânico nunca se cansou de os homenagear postumamente. Para a memória, fica o momento, algures em 1996, em que todos estiveram em palco. Olhando para trás, sabe bem ver como a música até era simples e descomprometida. Ou se calhar ainda é, como os MELVINS, FOO FIGHTERS e AGNOSTIC FRONT insistem em recordar, porque até The Adams Family gosta dos RAMONES.