Nada como passar a noite de São Valentim num bom espectáculo, dirão eles, elas e, certamente, também todos os solteiros e solteiras que se deslocaram ao Coliseu dos Recreios neste 14 de Fevereiro. Ainda faltava hora e meia para as portas abrirem e já havia filas em ambos os sentidos da rua, o que era indicação de casa cheia – tal veio a comprovar-se, com cerca de três mil pessoas dentro da lendária sala situada nas Portas de Santo Antão. As honras de abertura da noite estiveram a cargo dos finlandeses WHEEL, que tinham a árdua tarefa de aquecerem um público que, claramente, estava lá para ver as duas bandas principais. Assistimos a um bom esforço por parte dos músicos, que mostraram todo o seu talento, mas plateia estava lá, claramente, para ver outra coisa. Às 20:50 em ponto, subiram então ao palco os EPICA e, assim que soou a intro e Simone Simons entrou em palco, o barulho feito pelos presentes foi quase ensurdecedor. «Abyss Of Time – Countdown To Singularity» deu início à actuação e a plateia entregou-se rapidamente de corpo e alma à banda de Simone e Mark Jansen.
Verdade seja dita, apesar da banda ter passado por Portugal no Verão passado, para um público conhecedor como o que têm por cá, as saudades são sempre mais que muitas – e isso tornou-se bastante notório à medida que a actuação foi avançando. No alinhamento, seguiram-se «The Essence Of Silence» e «Victims Of Contingency», ambas a mostrar que são uma banda muito bem oleada, com um jogo de luzes fabuloso e com dois ecrãs led que iam passando imagens e, muitas vezes, com especial enfoque para «The Final Lullaby», criavam uma profundidade e ambiente quase tri-dimensional. Em «Obsessive Devotion» o público ajudou a banda na cantoria, com Coen Janssen e Isaac Delahaye a irem para junto do público na primeira fila com os seus instrumentos, tornando quase palpável a precisão, qual relógio suíço, que os caracteriza actualmente. A aproveitar o mote da noite, Simone dedicou a «Rivers» a todos os apaixonados e, com o público a iluminar a sala com as luzes dos seus telemóveis, criou-se ali um ambiente incrível. Em clara rota ascendente nos níveis de intensidade, a celebração ainda foi exponenciada mais um pouco com o refrão da «Cry For The Moon» a ser entoado em uníssono e, já na recta final, pela reacção efusiva proporcionada pela sequência «Beyond The Matrix» e «Consign To Oblivion», que fechou a actuação de 80 minutos dos neerlandeses com direito a wall of Death e circle pits.
O ambiente acalmou um pouco com os APOCALYPTICA, mas outra coisa não seria de esperar se tivermos em conta que, no arranque, decidiram “despachar” logo uma sequência de temas mais recentes, com «Ashes Of The Modern World» logo a abrir a actuação. No entanto, isso serviu para vincar ainda mais a ideia de que estes finlandeses foram evoluindo, e muito, com o passar dos anos. A banda de Eicca Topinnen, Perttu Kivilaakso e Paavo Lotjonen adicionou um baterista, Miko Sirén, e ainda têm Franky Perez na voz, o que lhes deu muito jeito em temas como «I Don’t Care» ou «Shadowmaker», esta última com direito a um cheirinho de «Killing In the Name», dos Rage Against The Machine. Um dos pontos altos da noite foi a colaboração com Simone Simons, dos EPICA, que se juntou à banda para a excelente «Rise Again» e, depois, vieram os hits. Como seria expectável, a clássica «Nothing Else Matters», dos Metallica, foi entoada em boa parte pelo público, abrindo o caminho para a versão de «Inquisition Symphony», dos Sepultura, e para um regresso aos originais de Hetfield e Ulrich, com «Seek And Destroy». Para terminar uma excelente noite de concertos, a banda finlandesa ainda serviu «Farewell» e «Hall Of The Mountainking», de Edvard Grieg. Durante a parte, em conversa com Eicca e Perttu, os músicos confessaram que Portugal foi o primeiro país em que os APOCALYPTICA “explodiram” em termos de popularidade e, dúvidas restassem, a noite de ontem vai ficar na memória tanto pela excelência dos músicos finlandeses em palco como pelo fervor com que os fãs ainda apreciam a sua música.