“A partir daquele momento, tomei a decisão de assumir o controle sobre a minha própria vida”, revela ANDREAS KISSER, guitarrista e timoneiro dos SEPULTURA.
ANDREAS KISSER, guitarrista e actual timoneiro dos lendários SEPULTURA, é um dos músicos brasileiros admirados no espectro da música extrema e, apesar de sempre ter sofrido com o abuso de álcool, hoje em dia está sóbrio. Numa entrevista ao ‘podcast’ Sonoros, recordou um episódio vergonhoso que, segundo o próprio, o fez decidir parar de beber de uma vez por todas.
“Antes da pandemia, fui a casa do meu cunhado com a minha família“, começa por dizer Kisser. “Estavam presentes os mais próximos e tudo começou de forma tranquila, com algumas pessoas a desfrutarem de uns whiskys. No entanto, algo mudou dentro de mim. Descontroladamente, comecei a agir de uma forma agressiva: dei um pontapé ao cachorro e falei mal de toda a gente, incluindo o meu cunhado e a Patrícia. Importa dizer que foram ataques verbais, não físicos, é claro. A verdade é que o ambiente ficou horrível, transformando-se numa típica briga alcoolizada de fim de semana.“
O músico continua: “As pessoas começaram a dispersar, procuraram refúgio em vários cantos e algumas até voltaram para casa a pé. Foi então que comecei a reflectir comigo mesmo e percebi como o álcool já influenciava todas as minhas decisões. Desde escolher o destino de viagens em família até decidir onde jantar, o álcool parecia estar no controle. Cheguei a um ponto em que recusei ir à Disney com a minha família simplesmente porque lá não haveria cerveja. Parecia algo normal naquele momento, mas depois percebi o quão tolo fui.
Percebi que permitia que o álcool determinasse as minhas escolhas, enquanto negligenciava momentos preciosos com a minha família e as pessoas que mais amo. Culpei-me, achei que era um idiota e imbecil. Foi aí que decidi que não continuaria a ser escravo do álcool. E foi uma promessa que fiz a mim mesmo naquele instante: nunca mais beber. Não estipulei um período específico nem fiz uma promessa à Patrícia ou a qualquer santo, porque entendi que a responsabilidade era exclusivamente minha. A partir daquele momento, tomei a decisão de assumir o controle sobre a minha própria vida e não permitir que o álcool ditasse o meu caminho“.
Actualmente, Andreas Kisser está sóbrio há mais de dois anos. “Foi a melhor coisa que me aconteceu, e é muito diferente viver assim. Os dias ficam com mais energia. Acordo melhor, os concertos são bem mais enérgicos. O meu corpo responde melhor“, conclui o músico de 55 anos.
Recorde-se que, numa entrevista recente ao IMPACT Metal Channel, Andreas Kisser, guitarrista, principal compositor e timoneiro dos SEPULTURA, não poupou palavras quando incitado a comentar as recentes regravações dos primeirosálbuns da banda feitas pelos irmãos fundadores Max e Igor Cavalera. Como é do conhecimento geral, entre 2023 e 2024, os dois fundadores do icónico grupo brasileiro lançaram , sob o nome CAVALERA, novas versões de «Bestial Devastation», «Morbid Visions» e «Schizophrenia».
Embora as reinterpretações tenham sido aplaudidas de forma quase unânime pelos fãs, Kisser foi enfático ao expressar a sua desaprovação. Questionado sobre as novas versões dos clássicos, declarou: “Para ser muito sincero, não acho nada. Quer dizer, foi uma escolha estranha por parte deles. O valor artístico é zero. Talvez estejam a querer ganhar dinheiro ou algo assim, mas não há qualquer motivo que justifique fazerem uma coisa dessas.“
Andreas Kisser, que se juntou aos SEPULTURA em 1987 e foi essencial na consolidação do som e sucesso global da banda, vê o projecto dos irmãos Cavalera como uma abordagem sem mérito artístico. Mais que isso, o músico foi além, classificando as regravações como uma atitude desrespeitosa, não apenas para os fãs, mas para com os próprios protagonistas da era inicial da banda. Numa comparação directa, o músico elogiou o trabalho de Jairo Guedz, outro ex-elemento dos SEPULTURA, actualmente à frente dos muito aplaudidos THE TROOPS OF DOOM.
Segundo Andreas, Guedz tem prestado uma homenagem bastante mais digna e criativa à fase inicial dos SEPULTURA, ao mesmo tempo que avança com material novo. “Prefiro muito mais os The Troops of Doom, a nova banda do Jairo, que está a fazer um tributo incrível àquela época, muito honesto, mas que também acrescenta algo novo. Os irmãos Cavalera estão a divertir-se, que seja. Não me importo. Só acho que isso é totalmente desnecessário. É realmente muito desrespeitoso com eles mesmos, com eles mesmos no passado.“
As palavras do músico não deixam, de resto, margem para dúvidas sobre a sua posição, sublinhando também a aparente incoerência no comportamento de Max Cavalera, que, segundo ele, contradiz a imagem de artista criativo e inovador que construiu ao longo dos anos. “É muito estranho ver alguém como o Max que está sempre a dizer que fez isto e aquilo, que é muito criativo, que fez tudo sozinho, e fazer essa merda, regravar riffs que fizemos há 30, 40 anos. A retórica não bate com o exemplo. Mas não importa. Eu acho simplesmente que o valor artístico disso é zero.“
A controvérsia entre Andreas Kisser e os irmãos Cavalera remonta ao distanciamento ocorrido em 1996, quando Max deixou a banda, seguido por Igor em 2006. Desde então, ambos os lados seguiram os seus caminhos distintos, mas as trocas de críticas públicas nunca cessaram. Os SEPULTURA estão actualmente na estrada a concretizar aquela que será a sua última tour mundial, apelidada Celebrating Life Through Death. Esta celebração, que combina décadas de música pesada e uma homenagem o percurso do grupo brasileiro, marca a despedida de uma das maiores instituições do metal mundial.















