Texto: Cátia Nóbrega
Fotos: Pedro Roque
O círculo está fechado. No passado Sábado, 12/12, começou uma nova era. Sincronias que parecem ser coincidências, mas que na realidade poderão muito bem esconder uma mensagem. A verdade é que o termo concerto não se pode muito bem aplicar aos AMENRA. Cada performance é um ritual, uma sublime experiência visual, uma purga. Mensagem escondida ou não, transmitiram para um mundo em confinamento aquele que foi o último concerto com o seu baixista Levy Seynaeve, gravado nos meandros de Kortrijk, a sua terra natal, encerrando de forma intimista e graciosa um ciclo para a banda e fãs.
Enquanto se aguardava com alguma curiosidade sobre o formato, brindando com amigos através dos diferentes dispositivos à disposição, o logótipo da banda no ecrã rapidamente nos relembrou desta grotesca distopia que vivemos actualmente. Assistimos da primeira fila, numa proximidade distante, à prestação de DEHN SORA e às suas paisagens sonoras alienantes, em ambiente vasto e desolado do topo da montanha. Este deu certamente o melhor que alguém consegue dar nesta exigente tarefa de entrosamento de uma audiência virtual. Sem dúvida algo a ser explorado, visto e sentido de perto. Na escuridão do campo vemos a banda circundando também ela um círculo de fogo, cenário que foi alternando ao longo dos temas com jogos de luzes rumo ao céu.
Uma performance estupidamente simples, mas que não negligenciou o mais pequeno detalhe. «Mass VI» foi tocado na integra pelos músicos com a mesma entrega, dedicação e empenho a que os belgas já nos habituaram, com toda a equipa de filmagem focada em visualizar os mais ínfimos pormenores e feixes de luz que trespassaram a escuridão, incluindo impressionantes imagens de drone. O que os AMENRA normalmente transportam em pura emoção, brutalidade, e sensibilidade trouxeram com eles para esta transmissão. Eles põem toda a miséria do mundo na música e por sua vez esta nos nossos olhos e ouvidos. Fica o pedido, agora que sabemos que um concerto tão singelo consegue existir nestas circunstâncias, assim que for possível gostaríamos mesmo era de um bis, e de nos juntarmos ao rito.
Esperança? Sempre.