Os sacerdotes maiores da Church Of Ra voltam a brindar-nos com mais um álbum e, embora existam várias circunstâncias que mereçam a ressalva – e já lá vamos –, uma já podem ter lido logo ali no título: sim, é o primeiro trabalho dos belgas a ser editado pela Relapse, editora norte-americana responsável pela difusão de tantas e tantas bandas dos mais diversos subgéneros de música extrema, algumas até únicas o suficiente para mudarem (e moldarem) a maneira como colectivamente percepcionamos música. E por que razão é que é importante mencioná-lo? Bem, se não conhecem este grupo, único na sua fusão de (post) hardcore e (post) metal, o ponto está provado logo à partida. Se assim não for, e independentemente do que acham dos AMENRA – quer os considerem menosprezados, pelo som característico que têm e pelas entregas prepotentes ao vivo, ou quer, por outro lado, vos pareçam fastidiosos e sempre mais do mesmo nas suas várias vindas ao nosso país –, um facto não muda: fenómeno ou não, são principalmente reconhecidos na Europa.
Uma oportunidade como esta, descurando quaisquer outras comparações de sucesso, alberga uma abertura de audiência, o que, para quem acompanha uma história que já se afinca há mais de vinte anos, não deixa de ser uma vitória. Se a este simbolismo prático juntarmos outras pequenas nuances, nomeadamente o ponto de ser o primeiro registo de longa-duração que não prossegue a numeração «Mass» ou, maior ainda, o facto de ser entoado (e escrito) na sua totalidade em flamengo, dialecto próprio da região da Flandres que lhes é nativa, fica a conceptualização em como há um renascimento, uma reformulação que pretende mais unir pela partilha de idiossincrasias do que contrastar por tais elementos pessoais – um espinho (esta é a tradução de “de doorn”) que marca a transformação. Além do que é e tem sido um cuidado no conceito estético e lírico, além da dualidade entre a declamação sussurrada de poemas para os berros angustiosos e purgantes, além da dicotomia de notas entregues com delicadeza para os embalos em peso vertiginoso, que novidades demais podemos esperar? Caro Tanghe, vocalista dos OATHBREAKER, por mais do que uma vez e em mais do que um tipo de registo, cruza-se em participações com Colin H. van Eeckhout. Mas, no fim de contas, é por momentos como aqueles últimos cinco minutos de apoteose em «Voor Immer», quando a pele se eriça e a cabeça se sacode ritmada, que tudo faz sentido. [9]
Podes ler mais sobre o novo álbum dos AMENRA, incluindo uma entrevista exclusiva com o vocalista e estratga do colectivo, Colin H. van Eeckhout, aqui.