Allen Blickle deixou uma marca indelével na cena do metal alternativo; e gravou os álbuns definitivos dos BARONESS. Mesmo ausente dos palcos, o seu legado ressoa nos discos.
O mundo da música recebeu este fim de semana a notícia da morte de Allen Blickle, antigo baterista dos BARONESS, que integrou a primeira formação oficial da banda e esteve activo até 2013. Blickle foi uma figura essencial na construção da identidade sonora dos BARONESS, participando nos primeiros anos de afirmação do colectivo norte-americano e deixando a sua marca em alguns dos discos mais celebrados da sua ilustre carreira.
Na verdade, a carreira de Blickle com os BARONESS ficou marcada tanto por conquistas artísticas como por momentos de adversidade. O baterista esteve presente desde os primeiros passos do grupo fundado por John Baizley, ajudando a moldar o som inconfundível que colocaria a banda no mapa do metal/rock moderno. Em 2007, participou em «Red Album», o aclamado LP de estreia que rapidamente conquistou a crítica pela forma como misturava sludge, psicadelismo e progressões melódicas fora do comum.
Escassos dois anos depois, Blickle contribuiu também para «Blue Record», considerado por muitos fãs e publicações especializadas como um dos pontos altos da discografia dos BARONESS, onde o peso do metal se encontrava com arranjos experimentais e linhas de bateria complexas que evidenciavam a sua versatilidade. Já em 2012, Blickle gravou «Yellow & Green», um disco duplo ambicioso que expandiu ainda mais os horizontes da banda, abrindo caminho a composições mais acessíveis e atmosféricas, sem nunca perder a intensidade característica do grupo.
Foi precisamente durante a digressão de promoção deste álbum que ocorreu o episódio mais dramático da trajectória de Blicke com a banda. Em Agosto desse ano, o autocarro em que viajavam sofreu um grave acidente no Reino Unido, deixando vários membros, incluindo Blickle, com fraturas e ferimentos sérios. O impacto físico e emocional desse acontecimento acabaria por ditar o fim da sua ligação ao projeto. Em 2013, anunciou a sua saída, pouco tempo depois de outros colegas de banda também abandonarem, forçando uma renovação profunda na formação.
Apesar de se afastar dos BARONESS, o músico nunca deixou de explorar novos caminhos musicais. Tocou em projectos como Romantic Dividends, A Place To Bury Strangers e Alpaca, onde pôde dar largas à sua criatividade em contextos sónicos diferentes, sempre com a mesma entrega e paixão que marcaram a sua passagem pela banda que o deu a conhecer ao mundo. Até ao momento, os ex-colegas dos BARONESS ainda não se pronunciaram publicamente sobre a sua morte.
No entanto, diversos músicos e amigos têm deixado mensagens de homenagem nas redes. Uma das mais emocionadas veio de Laura Pleasants, guitarrista e vocalista dos KYLESA, que partilhou uma despedida carregada de emoção ontem, dia 7 de Setembro: “Querido Allen… fiquei de coração partido ao falar com o Joe e o Summer no outro dia; ao descobrir como foi o teu último mês. Estou destroçada, meu amigo. Todos pensámos que tinhas conseguido superar isto”, começou por escrever Laura.
“Porra, tínhamos combinado encontrar-nos quando eu regressasse da digressão. Sinto-me tão sortuda por termos voltado a estar juntos depois de eu me mudar para Los Angeles há uns anos. Passar tempo contigo aqui, tocar, ir a concertos, estar em festas de piscina, vibrar a sério com os FEAR… conhecer-te a um nível mais profundo foi um verdadeiro privilégio. Tu eras genuíno! Tão talentoso, tão incrível. Partiste cedo demais, meu amigo. Fico feliz por saber que estás em paz e já não sofres. Muito amor para ti. Descansa em paz, Allen Blickle.”
Com apenas 39 anos, Allen Blickle deixa um legado discreto mas fundamental na cena do metal alternativo. Foi um baterista cuja técnica e sensibilidade ajudaram a definir a fase mais criativa dos BARONESS, uma banda que continua a ser referência pela sua capacidade de unir peso, melodia e experimentação. Para muitos fãs, Blickle será sempre lembrado como o músico que deu o compasso a discos que marcaram uma geração e que ajudaram a elevar os BARONESS a um estatuto de culto.