Entre velas, silêncios e canções imortais, os ALICE IN CHAINS criaram um momento irrepetível. Editado a 30 de Setembro de 1996, o «MTV Unplugged» captou toda a intensidade da banda e, acima de tudo, a fragilidade de um dos maiores cantores do grunge.
No dia 10 de abril de 1996, os ALICE IN CHAINS regressaram aos palcos após um interregno de dois anos e meio para gravarem um dos episódios mais emblemáticos da série MTV Unplugged. A banda de Seattle, que não tinha feito digressão de promoção ao álbum homónimo de 1995, escolheu o mítico formato acústico televisivo para um regresso inesperado, mas inesquecível — o ambiente do concerto ficou gravado na memória de todos os que assistiram.
Dezenas de velas brancas, compradas por Layne Staley no mercado de Pike Place, em Seattle, iluminavam o palco com uma aura fantasmagórica que hoje muito dificilmente passaria nas normas de segurança. No entanto, o verdadeiro impacto daquela noite foi musical e emocional. A actuação, lançada em CD a 30 de Julho de 1996, rapidamente se transformou num dos mais importantes registos ao vivo de sempre — e, para muitos, o melhor MTV Unplugged de toda a história do programa, rivalizando apenas com o mítico episódio dos NIRVANA.
Para os fãs dos ALICE IN CHAINS, o álbum e o concerto são mais do que um momento de nostalgia. Representam uma rara oportunidade de ver Layne Staley em acção numa das últimas vezes antes da sua morte. O vocalista, que lutava contra um vício devastador de heroína, exibia um ar debilitado que contrastava profundamente com a sua presença carismática de outros tempos. De cabelo cor-de-rosa desalinhado, óculos escuros a disfarçar os olhos marcados pela droga e mangas compridas a esconder cicatrizes, Staley subiu ao palco num misto de fragilidade e coragem. Ainda assim, quando entoou as primeiras notas de «Nutshell», ficou claro que o seu talento vocal permanecia intacto.
“I wish I could just hug you all, but I’m not gonna”, disse Staley no final do concerto. Foi uma frase que, à época, poderia ter passado despercebida, mas que hoje carrega um peso enorme. Afinal, este seria o penúltimo espetáculo do vocalista com os ALICE IN CHAINS. O último aconteceria alguns meses depois, em Julho de 1996, quando a banda abriu para os KISS em Kansas City, após substituir os STONE TEMPLE PILOTS.
Pouco depois deste espectáculo, Staley sofreu uma overdose da qual recuperou fisicamente, mas a banda entrou em hiato. Exceptuando a breve reunião em estúdio para gravarem as músicas «Get Born Again» e «Died» em 1998, os ALICE IN CHAINS nunca mais partilhariam o palco com o seu icónico vocalista. Este MTV Unplugged é, por isso, um retrato cru e melancólico de um músico a definhar diante do mundo.
Mas também é a prova da sua força artística: apesar da evidente fragilidade, Staley entregou uma prestação vocal irrepreensível em temas como «Rooster», «Down In A Hole», «Heaven Beside You» e «Over Now». A química entre os membros dos ALICE IN CHAINS — Jerry Cantrell, Mike Inez e Sean Kinney — manteve-se intacta, dando às canções uma dimensão ainda mais íntima.
Curiosamente, a recepção inicial ao disco não foi unânime. Algumas publicações criticaram a performance por considerarem que os ALICE IN CHAINS não estavam em plena forma. No entanto, após a morte de Staley, em 2002, a narrativa mudou por completo. Esta gravação passou a ser vista como um documento precioso, capaz de captar a vulnerabilidade de um dos vocalistas mais carismáticos da sua geração. Hoje, é considerado um clássico absoluto do rock dos anos 90.
Verdade seja dita, a singularidade do MTV Unplugged dos ALICE IN CHAINS está na combinação entre contexto, emoção e qualidade musical. Ao contrário de muitos álbuns ao vivo, gravados em estádios e arenas, a atmosfera intimista do formato acústico permite ao ouvinte sentir cada respiração, cada silêncio e cada nuance destas canções. E, feitas as contas, essa proximidade emocional é algo que nem os mais monumentais concertos conseguem reproduzir em disco.
Hoje, passados 29 anos, o legado deste MTV Unplugged permanece intacto. É um disco que transcende a mera performance acústica e se torna, para muitos, um dos melhores discos ao vivo alguma vez lançados. Mais que isso, é uma despedida silenciosa de Layne Staley, um artista que, mesmo debilitado, conseguiu tocar corações de forma visceral. “I wish I could just hug you all, but I’m not gonna”, dizia ele do fundo do seu coração. Nós também gostávamos de te abraçar, Layne… Obrigado por nos deixares este momento eterno.
















