Editado a 21 de Agosto de 1990, o incontornável LP de estreia dos ALICE IN CHAINS foi o primeiro álbum da era grunge a ser galardoado com um disco de platina.
Há quem defenda que as massas melómanas adoram seguir as novas tendências. Em parte, isso é mesmo verdade, mas a sobrevivência dessas ‘modas’ depende muito mais da qualidade da música do que da sazonalidade dos seguidores de ocasião. No começo dos 90s, era o rock de Seattle que dominava e, convenhamos, por esta altura bastam os dedos de uma mão para contar as bandas que surgiram nessa altura e conseguiram sobreviver. Consideremos, então, os ALICE IN CHAINS — que, apesar de diversos hiatos e importantes mudanças de formação, continuam a gravar álbuns novos e a tocar pelo mundo.
É verdade que colocá-los numa caixa apenas pelo facto de serem oriundos da mesma região pode ser, no mínimo, visto como um exemplo de preguiça cultural. No entanto, também é verdade que nenhuma outra banda saída de Seattle conseguiu musicar de uma forma tão profunda o tom cinzento que o céu da cidade ostenta habitualmente. Com o seu som sombrio e lento, condimentado por uma colecção de letras que falavam de drogas, depressão e morte, os ALICE IN CHAINS destacaram-se rapidamente dos seus pares.
O intuito original não era bem esse, no entanto. Layne Staley e o guitarrista Jerry Cantrell tinham estado envolvidos em bandas de hard rock e, inicialmente, a ideia do cantor envolvia fazer thrash apresentando-se com um visual glam. Eventualmente, Jerry conheceu o baterista Sean Kinney, tocou-lhe umas demos e, pouco tempo depois, a dupla começou a trabalhar com o baixista Mike Starr (acerca do qual podes ler um pouco mais neste artigo). Staley, com quem Cantrell já se tinha cruzado noutras andanças, foi convidado para a voz.
De 1987 até a gravação do LP de estreia «Facelift», que foi editado a 21 de Agosto de 1990, véspera do 23.º aniversário de Layne, os ALICE IN CHAINS poderam então moldar a sua sonoridade e aperfeiçoar aquela que é uma das suas características mais marcantes: as linhas vocais duplas de Staley e Cantrell, com os seus timbres a completarem-se de uma forma quase siamesa.
A sensibilidade de um, intercalada com a criatividade do outro (façam vocês mesmos a alusão de qual é qual), complementadas pela mão pesada de Kinney e pela sensibilidade melódica de Starr, deram origem a um álbum que resultou em quatro singles, chegou aos lugares cimeiros das tabelas de vendas, tornou-se um dos maiores sucessos comerciais dos ALICE IN CHAINS e continua ser influente até os dias que correm.
Abrindo com a massiva «We Die Young», seguida pelo mega sucesso «Man In The Box», o disco leva o ouvinte numa viagem através de climas incómodos e, por breves momentos, ameaça transmitir alguma alegria, como nas notas introdutórias de «I Know Somethin (Bout You)». No entanto, o seu ponto mais alto está mesmo nos seis minutos e meio da incontornável «Love, Hate, Love», cujo final soa tão escuro e claustrofóbico como o fundo de um poço.
Neste caso, como em tantos outros a que temos assistido ao longo das décadas, talvez a vida não tivesse de seguir tão à risca a regra de ter que imitar a arte, e a história dos ALICE IN CHAINS podia muito bem ter sido outra, mas apesar das tragédias e das contrariedades, a carreira do quarteto foi – e permanece – um exemplo perfeito de honestidade. Tantos anos depois, a banda continua a manter inalterado o legado que criou nos seus primeiros anos.