Afinal, como é que o segundo álbum dos ALICE IN CHAINS, um dos registos mais niilistas alguma vez saídos de Seattle, se transformou num dos maiores sucessos dos anos 90?
A 29 de Setembro de 1992, os ALICE IN CHAINS provocaram ondas gigantescas através da indústria musical com aquele que é agora considerado o álbum mais importante da sua carreira. Um disco alicerçado no mais profundo tormento do frontman Layne Staley, o «Dirt» afirmou-se desde logo como um dos registos mais pessoais, sofridos e sentidos de todos os tempos, catapultando a banda para o estatuto lendário que (ainda) conserva hoje em dia.
Naquele que foi apenas o seu segundo lançamento de estúdio após a triunfante estreia com «Facelift», os músicos oriundos de Seattle optaram por um ângulo mais pessoal e orientado para a emoção e, canalizando temas de relacionados com a dependência, a guerra, a morte e a angústia de vidas conturbadas, abriram caminho para muito do fatalismo que o grunge acabaria por explorar nos anos seguintes.
Com os ALICE IN CHAINS a começarem a vacilar, os temas foram escritos predominantemente na estrada durante a digressão de promoção ao primeiro disco (que viu o quarteto fazer “suporte” para nomes tão diversos como VAN HALEN, EXTREME, IGGY POP ou SLAYER) e foram buscar muita da sua inspiração às questões mais íntimas que atormentavam os músicos nessa altura – Staley já andava dentro e fora de clínicas de reabilitação, Sean Kinney e Mike Starr lutavam ambos com o vício do álcool.
“As substâncias estavam a tomar conta de nós. Andávamos a consumir tudo o que podíamos – e tanto quanto podíamos. Essa mentalidade começou a trabalhar contra nós.”, explicou Kinney no livro “Grunge Is Dead”.
Abordado como um registo semi-conceptual, o «Dirt» pretendia explorar tanto o apelo das drogas em tempos de desespero como as consequências devastadoras do vício – e foi precisamente isso que fez, de forma bastante aberta, em temas apropridamente intitulados como «Junkhead», «God Smack» e «Sickman», com os quatro músicos a recusarem-se a esconder a sua obsessão gritante com um assunto que, naquela altura, ainda era tabu.
No entanto, com a sentida homenagem ao malogrado Andrew Wood, dos MOTHER LOVE BONE, em «Would?» e «Rooster» a explorar os impactos duradouros da guerra, os ALICE IN CHAINS mostravam não ter dispostos a discutir só a agitação interior, mas também os impactos duradouros da guerra. E, para adensar a aura já de si negra transversal a todos os temas, o grupo viu-se rodeado de violência quando os motins que ocorreram em Los Angeles em 1992 interromperam subitamente o processo de gravação do álbum.
Nesse momento, a instabilidade social vivida na altura começou a infiltrar-se também no que estavam a criar. “Chegámos a Los Angeles, começámos a gravar o disco e foi divulgado o veredicto do julgamento dos polícias que mataram o Rodney King“, recordou Jerry Cantrell no livro citado em cima. “A cidade começou a arder. Estávamos hospedados no Oakwoods, em Venice Beach, por isso tivemos de fazer a viagem de Studio City para Venice com os motins já a acontecerem. Esse é um momento que nunca esquecerei – e que vai estar para sempre ligado a esse álbum“.
Estas nuances de emoção crua não passaram despercebidas e o álbum teve um impacto profundo na geração MTV. Embora centrado no tormento pessoal e da angústia mais íntima de Layne Staley, Jerry Cantrell, Mike Starr e Sean Kinney, três décadas depois o «Dirt» continua a ser o álbum que solidificou realmente os ALICE IN CHAINS como uma força a ter em conta no panorama rock/metal – e que ajudou a solidificar o grunge como a sonoridade incontestável dos anos 90.
Aquando do seu lançamento, o disco trepou de imediato à posição #6 da Billboard 200… E permaneceu na tabela durante mais de cem semanas. Além disso, foi certificado quatro vezes platina nos Estados Unidos, platina no Canadá e ouro no Reino Unido. Hoje, com mais de cinco milhões de cópias vendidas a nível mundial, continua a ser o mais bem sucedido álbum dos ALICE IN CHAINS, uma das bandas mais frontais e dolorosamente honestas da sua geração.