Com um espectáculo irreverente e participativo, os ALESTORM fizeram do Milagre Metaleiro Open Air 2025 uma verdadeira celebração pirata. Entre patos gigantes, hinos de taverna e energia inesgotável, os escoceses lideraram a maior enchente do festival até ao momento.
O segundo dia da edição de 2025 do Milagre Metaleiro Open Air ficará para sempre lembrado como um dos mais concorridos da história recente do festival. A localidade Pindelo dos Milagres, já habituada a acolher multidões fiéis do metal, viu as suas ruas e o recinto encherem-se horas antes da actuação dos britânicos ALESTORM, que eram, sem sombra de dúvida, os cabeças de cartaz mais aguardados do dia.
Desde cedo, os sinais eram muito claros: bandeiras com motivos piratas, chapéus de corsário e patos de borracha eram transportados orgulhosamente pelo público, que se preparava para muito mais do que um concerto — preparava-se para uma verdadeira celebração colectiva. À meia-noite em ponto, quando os relógios marcavam a transição para o novo dia, a festa começou. O palco, dominado por um enorme pato insuflável, era o reflexo perfeito da filosofia da filosofia dos ALESTORM: irreverência, diversão e um toque de absurdo que se tornou marca registada.
Com a plateia em expectativa, bastou o primeiro acorde de «Keelhauled» para que o recinto explodisse de entusiasmo. O arranque, seguido por «Killed To Death By Piracy» e «The Skun’n Norwegian», deixou claro que a noite seria vivida ao ritmo de uma taverna em alto mar. O ambiente era de pura comunhão. Famílias inteiras, acompanhadas de crianças que dançavam e pulavam junto aos pais, partilhavam espaço com veteranos do festival e grupos de amigos que erguiam cervejas em uníssono.
Poucas bandas conseguem quebrar barreiras geracionais de uma forma tão natural, mas os ALESTORM demonstraram mais uma vez que a sua mistura de folk metal, power metal e humor consegue conquistar qualquer plateia. Momentos de cumplicidade multiplicaram-se. Antes de «Frozen Piss 2», o vocalista Christopher Bowes protagonizou um dos episódios mais hilariantes da noite ao contar a história surreal que deu origem à canção: uma visita inesperada do vocalista dos Dynazty ao camarim da banda, que terminou em desastre sanitário. Entre gargalhadas colectivas e olhares incrédulos, a música ganhou ainda mais impacto, confirmando que, nos ALESTORM, o espectáculo é sempre tanto musical como narrativo.
O alinhamento foi construído como uma montanha-russa de energia, sem grande espaço para pausas prolongadas. «Mexico», com o seu refrão infeccioso, transformou o recinto numa enorme pista de dança improvisada, enquanto «Alestorm» reafirmou a identidade da banda em clima de autêntico hino. Os momentos mais rápidos e festivos, como «Shipwrecked», «The Storm» e «P.A.R.T.Y.», mantiveram a energia em alta, enquanto «Shit Boat (No Fans)» arrancou gargalhadas e gestos provocatórios do público, em perfeita sintonia com o humor corrosivo dos ALESTORM.








O encore ficou reservado para os clássicos que já não podem faltar em qualquer concerto dos escoceses. «Drink» transformou o vale de Pindelo num enorme coro, com canecas e copos erguidos como se de espadas se tratassem, evocando o espírito de uma batalha festiva. «Over the Seas» prolongou a celebração com o público a cantar cada palavra como se fosse um hino popular, até que, inevitavelmente, chegou o momento mais aguardado: «Fucked With An Anchor». Nesse instante, todo o recinto parecia estar em perfeita sintonia, braços no ar, dedos erguidos e vozes unidas num coro de insultos cantados com euforia, num daqueles instantes que só um festival pode proporcionar.
Mas talvez o gesto mais marcante tenha acontecido já depois do concerto. Em vez de desaparecer para os bastidores, Christopher Bowes desceu até ao público, distribuindo autógrafos, tirando selfies e, claro, trocando palavras descontraídas com fãs que dificilmente esquecerão a experiência. Esse contacto tão directo, raro para bandas de dimensão internacional, reforçou ainda mais o espírito único do Milagre Metaleiro: por aqui não há barreiras intransponíveis entre artistas e público, apenas uma celebração partilhada da música e da irreverência que a acompanha.
No fim da noite, ao abandonar o recinto, muitos comentavam que este fora o concerto mais divertido e memorável do festival até ao momento. Os ALESTORM confirmaram que não são apenas uma banda de estúdio com canções festivas: são uma força ao vivo que consegue transformar qualquer palco numa taverna pirata flutuante, onde todos — de crianças a veteranos — têm lugar à mesa. O segundo dia do Milagre Metaleiro Open Air 2025 ficará, por isso, na memória como o dia em que Pindelo dos Milagres foi tomado de assalto por corsários metálicos e onde ninguém saiu derrotado, apenas rendido ao poder da festa.















