O mini-documentário de Tom Compagnoni denuncia o apagamento urbano da herança dos AC/DC, uma das maiores bandas de rock do mundo.
A cidade de Sydney foi o berço dos AC/DC, mas isso não é reconhecível tão facilmente quanto se possa pensar. Essa é a constatação que impulsiona Exploring AC/DC’s Forgotten Sydney: Lost Landmarks Of Rock History, novo documentário do realizador australiano Tom Compagnoni, que acaba de estrear online. Em cerca de trinta minutos de duração, o vídeo convida o espectador para uma viagem pelas raízes da banda australiana, ao mesmo tempo que denuncia o esquecimento — e, em muitos casos, a destruição — dos marcos históricos ligados ao seu legado.
Tom Compagnoni, que tem quase duas décadas de experiência a produzir documentários para meios como o The Sydney Morning Herald, o The Age, o HuffPost Australia e o AAP, propõe uma abordagem pessoal e crítica. O documentário, que pode ser visto na íntegra no player em baixo, leva-nos por locais como o clube Chequers, onde os AC/DC fizeram o seu primeiro concerto, ou a modesta casa em Burwood onde os irmãos Angus e Malcolm Young aprenderam a tocar guitarra. Esta última foi demolida para dar lugar a um bloco de apartamentos.
“Enquanto o município de Burwood encomendou recentemente um mural fantástico em homenagem ao Angus e ao Malcolm Young, o resto da cidade continua sem estátuas, sem placas ou reconhecimentos significativos da herança dos AC/DC”, observa Compagnoni na sinopse oficial do vídeo. “Na verdade, alguns dos marcos mais importantes da sua história estão a ser ignorados — ou até mesmo destruídos.”
Ao longo do percurso, o documentarista traça paralelos com cidades como Liverpool, que transformaram a sua herança musical em património identitário e atrativo turístico. Sydney, pelo contrário, parece pouco interessada em preservar a memória daquele que é talvez o seu maior produto cultural de exportação. “A verdade é que, sejas um fã hardcore dos AC/DC ou apenas um apaixonado pela história do rock’n’roll, esta exploração revela histórias, locais e sons que merecem ser lembrados,” diz Compagnoni.
A comparação com Liverpool é mais que simbólica: recentemente, o realizador visitou alguns dos marcos associados aos THE BEATLES na cidade inglesa e voltou a casa impressionado com o respeito e o cuidado demonstrados por um legado semelhante ao dos AC/DC. O documentário também não evita uma nota mais emotiva ao recordar a perda de Malcolm Young, falecido em 2017 aos 64 anos, vítima de demência.
A doença já se fazia notar aquando das gravações do LP «Black Ice», de 2008, como admitiu o próprio Angus Young, o único membro original ainda activo nos AC/DC. A partir de 2014, Malcolm retirou-se oficialmente da banda, sendo substituído pelo sobrinho Stevie Young, que hoje integra a formação do grupo ao lado do vocalista Brian Johnson, do baterista Matt Laug e do baixista Chris Chaney.
Apesar das perdas e mudanças, os AC/DC continuam a gravar e a fazer digressões pelo mundo, provando que a sua energia permanece intacta. Ainda assim, como demonstra este documentário, a cidade que os viu nascer tem uma dívida para com a sua história — e com os lugares que a testemunharam. O vídeo de Tom Compagnoni é, portanto, mais do que um exercício nostálgico: é um apelo à memória, à valorização cultural e ao respeito por uma herança que merece muito mais do que o esquecimento.