A ressurreição dos AC/DC, uma das maiores bandas de hard rock da história, celebra hoje mais um aniversário.
Quem, no dia 25 de Julho de 1980, foi até uma qualquer loja de discos norte-americana e regressou a casa com aquele vinil dos AC/DC, mergulhado numa capa negra, não deve ter deixado de sofrer um calafrio quando, em lugar dos primeiros acordes, soaram as batidas de sinos. Numa época em que as edições se faziam ao nível de cada país, por vezes com desfasamentos temporais de semanas, e até de meses, essa sensação de desconforto terá sido sentida ao longo de muitas semanas. Ainda hoje a sentirão, aqueles que viveram o momento.
A capa, o título, aqueles acordes e tudo mais, gritam BON SCOTT! «Highway To Hell», editado no ano anterior, tinha sido o primeiro álbum dos AC/DC a ultrapassar o milhão de cópias, vendidas em terreno norte-americano. Para um grupo australiano era um feito inédito, pensando que um par de anos antes, tinham sido mesmo despedidos da editora e contratados de novo, dá uma boa ideia da importância do feito. Apesar disso, os AC/DC não pararam, e em Janeiro de 1980 estavam já em Londres a gravar novos temas. Por essa altura aproveitavam para se estrear aqui ao lado, na TV espanhola, naquela que seria a primeira passagem pela Península Ibérica.
Tudo muda a 19 de Fevereiro, quando chega a notícia da morte de Bon Scott, o carismático vocalista do grupo. Na noite anterior, uma saída com alguns elementos dos franceses TRUST, tinha-se tornado numa longa maratona de bebedeira. Bon adormeceu na posição errada, inalou o próprio vómito e morreu sufocado aos 33 anos. Em Londres para gravar o álbum «Repression», o francês Bernie Bonvoisin tinha convidado o seu amigo pessoal para escrever as letras em inglês do disco.
A saída era a celebração de uma amizade. A mesma amizade que Bernie celebrou depois na arrepiante «Ton Dernier Acte». Já com letras escritas, os irmãos Young vêem-se perdidos. No funeral de Bon, em Fremantle, Austrália, o próprio pai deste Chick, pediu aos irmãos para continuarem. A 1 de Abril de 1980, Brian Johnsson assumia o lugar e os AC/DC iam para Nassau, nas Bahamas, gravar o disco nos Compass Pint Studios, debaixo da tutela de Robert “Mutt” Lange. A estreia ao vivo no novo vocalista far-se-ia a 29 de Junho na cidade belga de Namur.
Se «Hells Bells» abre o lado A do vinil e da cassete, celebrando a memória do malogrado vocalista, o lado B começa com o tema-título «Back In Black», como que anunciando a ressurreição dos AC/DC, aquela que viria a ser uma das maiores bandas de hard rock da história. Hoje pode discutir-se qual o melhor, se Bon ou Brian. Pode até mesmo evocar-se um Axl Rose sentado numa cadeira, a dar tudo para chegar a estar lá, mas o disco permanece imutável, qual monólito negro do filme “2001”.
Incontornável, um dos maiores da história do hard rock. 51 milhões de cópias vendidas que lhe garantem o título de álbum de rock mais vendido de todos os tempos. Aliás, na lista geral dos mais vendidos, fica na segunda posição, só ultrapassado pelo «Thriller», de Michael Jackson. Entre inúmeras classificações, encontra-se na lista dos 200 álbuns definitivos no Rock And Roll Hall of Fame. Em Portugal foram longas semanas no top de vendas e a criação de uma legião de fãs que ainda hoje leva a que hard rock seja sinónimo de AC/DC.
Para lá dos singles e presenças permanentes nos concertos do grupo, ainda hoje alguns temas possuem vida própria, como «Shoot To Thrill», que recentemente esteve na banda-sonora de “Iron Man 2”, da Marvel, ou «You Shook Me All Night Long», que ocupa o décimo lugar entre os cem melhores temas dos naos 80 para o canal VH1, e está entre os 100 melhores solos de guitarra para a revista Guitar World.
Brian Johnson na voz, Angus Young e Malcolm Young nas guitarras, Cliff Williams no baixo e Phil Rudd na bateria — são estes nomes daqueles que construíram este cenotáfio musical. São, claro, muitas as referências a Bon ao longo dos dez temas deste trabalho, porque «Rock and Roll Ain’t Noise Pollution». É arte e neste caso particular, uma homenagem merecida. Nesta data, certamente muitos irão rodar o disco e, em «Have a Drink On Me», vão erguer o copo em saudação a Bon, celebrando mais um ilustre aniversário de «Back In Black».