ABBATH

ABBATH: Uma história de ascensão, queda e ressurreição

Dono de uma carreira com tantos altos como baixos, Olve Eikemo, mais conhecido carinhosamente como ABBATH, transformou-se numa das “caras” mais reconhecíveis do movimento black metal norueguês.

Quando, corria o mês de Março de 2015, ABBATH anunciou que, para surpresa geral, tinha deixado os IMMORTAL, a sua banda de sempre, a notícia provocou ondas de choque que, para o melhor e para o pior, abanaram o cenário metal de uma forma inequívoca. Por essa altura, há muito que a inconfundível imagem do frontman da banda originária de Bergen se tinha tornado icónica, com o carismático músico, nascido Olve Eikemo, a transformar-se numa das “caras” mais reconhecíveis do movimento black metal norueguês.

No período compreendido entre 1991 e 2015, interrompido apenas por um pequeno interregno já na viragem do milénio, ABBATH liderou uma das mais poderosas forças alguma vez saídas do controverso boom do underground escandinavo da década de 90 e, apoiados numa sequência irrepreensível de LPs que inclui clássicos como «Pure Holocaust», «Battles In The North», «At The Heart Of Winter» e «Sons Of Northern Darkness», os IMMORTAL acabaram por afirmar-se como uma das mais aplaudidas e bem sucedidas bandas da sua geração.

Não é por isso propriamente estranho que, face à abrupta separação dos ex-companheiros de grupo, o guitarrista/vocalista se tenha atirado quase imediatamente de cabeça a uma há muito adiada carreira a solo que, desde a edição da demolidora estreia en nome próprio, muitos elogios lhe tem valido por parte da imprensa especializada e do público.

Editado a 22 de Janeiro de 2016 via Season Of Mist, «Abbath» reuniu num só disco todos os elementos que tornaram famosa esta figura grotesca, com a abertura a cargo da tríade «To War!», «Winterbane» e «Ashes Of The Damned» a carregar com uma força avassaladora toda a fúria selvagem própria de uma tempestade de neve no Ártico. No entanto, ao quarto tema, ABBATH provou que esta sua nova aventura musical, onde repetiu a colaboração com King Ov Hell, que já o tinha apontado na estreia do projecto I, pretendia ir muito além da repetição de fórmulas já conhecidas.

Alicerçados no mais que (re)conhecido talento para a composição do ex-baixista de bandas tão diversas como GORGOROTH, SAHG, GOD SEED, AUDREY HORNE ou OV HELL, temas como «Ocean Of Wounds» provavam que a banda estava apta também a interpretar hinos a meio-tempo que, construídos a partir de riffs cortantes e de uma sonoridade bem pesada, dura e, ainda assim, cativante e melódica, revelavam a exploração de uma vasta gama estilística, capaz de agradar a fanáticos dos Bathory, Motörhead ou até mesmo Kiss.

Resultado, em estúdio e em palco, onde já provaram o seu valor com participações explosivas em vários festivais e digressões deste e do outro lado do Atlântico, ABBATH e companhia mostraram-se prontos a conquistar o mundo.

Já depois de uma profunda mudança de formação, a banda ressurgiu em cena sem perder muito tempo (e sem King Ov Hell) em 2019 com a edição de «Outstrider». Apesar da turbulência, o segundo álbum mostrou o músico no mesmo caminho e a infundir de forma muito eficaz a desolação gelada do black metal com um pouco da pompa e circunstância do heavy metal clássico.

Quase de imediato, ABBATH e companhia voltaram a fazer-se à estrada e, a 13 de Dezembro de 2019, o norueguês viu o seu plano de conquista global gorado ao protagonizar um espectáculo desastroso de apenas dois temas em Buenos Aires, na Argentina. Os fãs descontentes inundaram de imediato as redes sociais, com uma percentagem considerável a exigir o retorno do dinheiro gasto nos bilhetes e, segundo uma reportagem do site local El Culto, as portas do Club Palermo abriram duas horas depois do previsto, forçando os artistas DESCARNADO e MEDIUM a tocar sets abreviados.

Quando ABBATH subiu por fim ao palco, o grupo consistia apenas do seu líder homónimo, Mia Wallace no baixo e Ukri “Uge” Suvilehto na bateria, sendo que uma discussão entre Abbath e Ole André Farstad, o outro guitarrista da banda, que supostamente decidiu ficar no hotel e optou por não participar neste concerto, tinha reduzido a formação a um trio. O que se seguiu foi um daqueles meltdowns que vão ficar para a história…

Segundo relatos, ABBATH tentou começar a actuação com «Count The Dead» pelo menos duas vezes e, atirando a seguir a guitarra ao chão, mergulhou para o meio da multidão. Antes de deixar o palco e ser levado ao camarim, do qual não regressou terminar o concerto, ainda se ouviu uma “versão muito má” da «Tyrants», dos IMMORTAL... E pronto, a actuação em Buenos Aires ficou mesmo por ali e as restantes datas da digressão sul-americana, no Brasil e na Argentina, foram canceladas.

Apenas umas semanas depois, ABBATH acabaria por divulgar um comunicado em que pedia desculpa ao público pelo sucedido, explicava estar “a lutar contra o vício” e prometia ir fazer tudo o que estivesse ao seu alcance para “ficar limpo de uma vez por todas. Com a pandemia a deixar tudo parado pouco tempo depois, o músico acabaria por reaparecer em cena já em 2021, aparentemente disposto em seguir o seu caminho de cabeça limpa e mais focado que nunca.

Mantendo intacta a formação de «Outsrider», «Dread Reaver», o mais recente LP de estúdio de ABBATH, foi lançado no dia 25 de Março de 2022. O disco foi produzido por Endre Kirkesola, ABBATH e Dag Erik Nygaard nos estúdios Dub, localizados em Kristiansand, e no Lydstudio, em Bergen, com masterização a cargo de Maor Appelbaum, conhecido pela sua associação a nomes como os FAITH NO MORE ou ROB HALFORD, no Maor Appelbaum Mastering, em Los Angeles.