Rock star para muitos, Deus para alguns. Ian “Lemmy” Kilmister nasceu a 24 de Dezembro de 1945.
Lemmy. Lemmy Kilminster. Ian Fraser Kilminster. Rock star para muitos, Deus para alguns. Nascido a 24 de Dezembro de 1945, ainda a tempo de ser um babyboomer, muito cedo se interessou pela música e atravessou décadas a pilotar o maior bombardeiro do rock’n’roll, os MOTÖRHEAD. No entanto, Lemmy é muito mais que apenas MOTÖRHEAD; a sua história iniciou-se bem antes.
As suas raízes estiveram sempre nos blues, mais tarde acompanhou a pop britânica, pôde ver os THE BEATLES ao vivo, tornar-se simultaneamente roadie e guitarrista. Embarcar numa digressão trabalhando para os THE MOVE, em que estes partilhavam o cartaz com uns PINK FLOYD imberbes e um ídolo da guitarra de nome JIMI HENDRIX. Com este último, Lemmy partilhou as drogas, um hábito que levaria quase até ao fim. Desta fase, os SAM GOPAL são a sua banda mais conhecida.
Roadie e músico sem banda, converter-se-ia num misto de junkie e dealer, frequentando clubes de bikers, fazendo amizade com Hells Angels. A possibilidade de terem um fornecedor permanente, levou a que os HAWKWIND o contratassem. Oscilando entre guitarrista e baixista, estaria presente em «Silver Machine», número três no top britânico e maior êxito do grupo. Desta fase entre 70 e 75, «Doremi Fasol Latido» é, sem dúvida, o álbum maior.
Despedido dos HAWKWIND, abandonado numa cadeia canadiana, Lemmy regressaria ao Reino Unido, onde fez questão de manter relações sexuais com as mulheres dos membros da banda ainda em digressão, como vingança. Essa é só uma das muitas lendas a que viria a estar associado.
De raiva e como querendo mostrar actividade, associa-se ao guitarista Larry Wallis e ao baterista Lucas Fox, formando uns MOTÖRHEAD cujo disco de estreia seria temporariamente dispensado. Formação desfeita e nova associação ao baterista Phil Taylor e ao guitarrista “Fast” Eddie Clarke. Esta seria a versão do grupo que faria história. Demasiado metal para agradar a punks e imprensa, demasiado punk para os fãs do hard rock e prog. MOTÖRHEAD, a banda negra.
O trio que não faria prisioneiros. «Overkill», «Bomber» e «Ace of Spades» seriam uma tripla mortal onde se fundiam estilos, lançava-se o speed metal e, subtilmente, levaria a banda até aos tops, culminando com um disco ao vivo que encimaria o top de vendas, «No Sleep ’Til Hammersmith».
A fama foi crescendo, mas as drogas não tornavam fácil o caminho para o topo. Apesar do sucesso, os problemas iam surgindo e Fast Eddie acabaria por sair da banda. Por essa altura, uma outra faceta de Lemmy iria surgindo, o eterno admirador de mulheres, o homem que a todo o momento aparecia em duetos, sem preconceitos de estilos. O cruzamento do grupo com as GIRLSCHOOL, apelidado MOTÖRSCHOOL, faria mossa, tal como o seu dueto com Wendy O. Williams, dos PLASMATICS.
Desfeito o trio clássico, Lemmy passaria por uma primeira tentativa de manter o estatuto, mas tal viria a revelar-se difícil. Sucederam-se duas diferentes formações, a segunda no formato de quarteto. Depois da ascensão dos anos 70, em meados dos anos 80, bastava a Lemmy gerir a imagem, participar em filmes, episódios de TV ou vídeos de outros artistas, criando assim uma figura que ia para lá da música. Lemmy, mais que o músico, tornava-se o ícone, um modelo a seguir.
A sua imagem tornava-se símbolo de uma certa forma de ver o heavy metal. Em 2018, numa entrevista à LOUD! a guitarrista Ruyter Suys, dos NASHVILLE PUSSY, recordava como a visão de «Killed By Death» a tinha influenciado na escolha de carreira.
Foram mais de uma dezena os álbuns que vieram após a separação do trio. Como Lemmy diria, muitos tinham melhores temas que aqueles que deram título ao trio dourado de discos do final dos anos 70. Até terá sido assim, mas «Orgasmatron» é o último disco de que qualquer fã dos MOTÖRHEAD se poderá lembrar. O tema, mais tarde reverenciado pelos SEPULTURA, como que cruza HAWKWIND com MOTÖRHEAD e abandona a velocidade, a favor do ritmo e da marca sonora. Uma mudança que poucos perceberam, preferindo pedir sempre os mesmos temas clássicos.
Com a ascensão do thrash, Lemmy ganharia uma dimensão ainda maior, sem ele não existiria, provavelmente, um «Kill’Em All» e, a partir daqui, as homenagens a Kilminster suceder-se-iam. Por esta altura, Lemmy já era maior que os MOTÖRHEAD. Lemmy era o rock’n’roll.
Fosse sentado num banco do Rainbow Bar & Grill, icónico bar de Los Angeles, perto do qual Lemmy fez questão que lhe alugassem um apartamento, ou fosse numa qualquer festa como convidado, Lemmy era a figura que distribuía autógrafos, ou aparecia a executar «Ace Of Spades», muitas vezes rodeado de estrelas com maior sucesso que ele.
Talvez por isso, paralelamente aos MOTÖRHEAD, Lemmy começasse a surgir em colaborações. Foi a escrever temas para Ozzy que ganhou mais dinheiro, através da balada «Mama, I’m Coming Home». No entanto, juntou-se também a Dave Grohl no projecto PROBOT. Participaria ainda nos HEADCAT, com Slim Jim Phantom, dos STRAY CATS.
Porém, seria sempre em palco, com os seus MOTÖRHEAD, que Lemmy reuniria mais público. Os grandes festivais europeus, em particular o Wacken Open Air, seriam o seu apogeu. Foi também no Wacken que o mundo do rock se apercebeu do início da sua debilidade. A doença aproximava-se, uma vida de excessos cobrava finalmente o preço. Lemmy faleceria a 28 de Dezembro de 2015, dias depois de completar setenta anos.
O seu funeral teria uma projecção sem par no mundo do rock. Talvez por isso, o elogio fúnebre de Dave Grohl seja uma das melhores formas de perceber quem era Lemmy, Kilmister de nome! Neste 24 de Dezembro, bebam um Jack’n’Coke por ele.