A BANDA DA SEMANA DO PAULO ANDRÉ (Reloaded) – ZOLLE

Questões cósmicas levaram a um hiato de alguns meses nesta rubrica, mas os astros alinharam-se novamente e é tempo de voltar. Pego onde fiquei, neste exercício de certa forma masoquista de vos trazer uma nova banda todas as semanas. E melhor que este vosso escriba a dissertar sobre o que pensa ou deixa de pensar das bandas em questão, ninguém melhor que os próprios artistas em discurso directo sobre o seu trabalho. Essa é, assumidamente, uma mais-valia deste regresso.

Only those who know the ease of a cow while defecating can understand the genesis of the songs of Zolle.

Esta semana vamos até ao norte de Itália conhecer um dos mais jovens membros da família Supernatural Cat, da qual os Uffomamut, os Lento, os MoRkObOt ou os OvO são exemplos já bem conhecidos. A criatividade é algo que, felizmente, não deixa de fluir por aqueles lados e, no caso dos Zolle não obstante a sua juventude enquanto banda, já tiveram tempo de produzir um álbum de ultra heavy rock instrumental sem tretas nem presunções e com um groove particularmente viciante.

O duo formado por Steffano e Marcello – este último também dos MoRkObOt – além de uma tendência para produzir riffs que hipnoticamente nos fazem abanar a cabeça independentemente da nossa vontade própria, revelam-se também pessoas extremamente bem dispostas, com uma saudável obsessão pelo campo e cujas ambições passam sobretudo por se divertirem a tocar, como tive ocasião de perceber durante a conversa abaixo.

Vocês parecem ser bastante bem dispostos e à procura de passar um bom bocado, no entanto há rock à séria no vosso disco. O que vos motivou a começar este projecto?
Começámos os Zolle em 2012. Para te dizer a verdade, tocamos juntos desde 1995 numa banda desconhecida de post-metal chamada Klown, que durou uns dez anos. Quando há uns anos essa banda acabou, continuámos a tocar juntos mas só para sessões de improviso. Mas repara que para nós essas sessões significam muita cerveja, vinho e comida. [risos] E temos sorte, porque aqui [em Itália] temos tudo o que precisamos. Nunca descrevemos os Zolle como um “projecto”. Não estamos a construir uma nave espacial, somos só dois amigos idiotas que preferem passar as noites na sala de ensaio em vez de estarmos na melhor festa que estiver a acontecer.


Regressaram recentemente da vossa primeira tour da Europa, em que abriram para os Ufomammut na «Magickal Mastery Tour» deles. Como é que isso correu?

Foi excelente! Os Ufomammut são mesmo boa gente e normalmente tocam em sítios porreiros para imensa gente. Foi uma grande oportunidade para uma banda jovem como nós. Mas estamos um bocado tristes porque em Inglaterra não encontrámos a cerveja The Trooper, parece que deixou de existir!

Independentemente das vossas experiências no passado enquanto músicos, como banda que fez agora a sua primeira digressão, quais consideram ser as maiores dificuldades que uma banda enfrenta nessa situação?
Somos uma banda jovem mas já não somos jovens! [risos]. Um de nós também já tem a experiência das digressões anteriores dos MoRkObOt. Foi bem divertido e talvez o aspecto mais difícil tenha sido ter de conduzir imenso todos os dias. Detestamos conduzir. Vivemos no campo, com pouco trânsito, estradas abandonadas… as cidades grandes são uma chatice!

O vosso disco soa muito directo, muito “ao vivo”. Como foi o processo de gravação? O press release fala num massivo kit de bateria de cobre e num amplificador dos anos 50.
O nosso primeiro álbum é uma espécie de álbum ao vivo. Tocámos em simultâneo excepto alguns overdubs de guitarra e alguns sons de percussão tradicional. Os sintetizadores apareceram depois quando o Urlo dos Ufomammut e o Robi dos Quasiviri ouviram o álbum e disseram: “Figata!” que é algo do género “Muito porreiro!”. Então quiseram também dar o seu contributo e nós gostamos deles e das suas bandas, por isso aconteceu. A bateria é de cobre feita à mão pelo CQuadro (um laboratório de bateria na Sicília) e o amplificador de guitarra é um protótipo espacial da NASA [risos] que nos foi emprestado pelos mensageiros dos MoRkObOt. Hoje em dia as nossas guitarras são de alumínio, feitas à mão pelo pai do Marcello.

Os nomes dos vossos temas estão cheios de referências redneck. De onde vem isso?
Do campo! Vivemos no campo da zona norte de Itália. A nossa sala de ensaio é parte de uma pequena quinta. Aqui apenas temos nevoeiro, campos de cultivo, idosos, porcos, vacas e toda a comida que se pode extraír deles. Bem, não dos idosos. É bastante calmo por aqui… mas apenas quando não estamos a tocar!

A duração das vossas composições é surpreendentemente curta para este tipo de quase-improviso. Fazem um esforço consciente nesse sentido?
Tocamos para nos divertirmos, não queremos explodir os nossos cérebros a tentar calcular o infinito. Não somos grandes executantes por isso temos de nos limitar a tocar o mais alto e pesado possível. Mas é uma espécie de terapia musical para nós.

E o que podemos esperar dos Zolle no futuro?
Muito dinheiro! Hum, bom se calhar não, não sabemos. Fizémos um álbum que é coisa que nunca pensámos que fosse acontecer, é estranho! [risos] Não temos projectos particulares para o futuro, mas continuaremos a tocar da mesma forma que te respondemos na pergunta anterior.

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